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Ana Claudia Paixão

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A jornalista Ana Claudia Paixão (@anaclaudia.paixao21) fala de filmes, séries e histórias de Hollywood

A distopia e o brilhantismo de “Round 6”, a melhor série de 2021

Fenômeno, a produção cativa com o anti-herói viciado em jogos indo parar em uma competição por dinheiro ao lado de 455 convidados

Por Ana Claudia Paixão
Atualizado em 22 out 2021, 21h19 - Publicado em 22 out 2021, 18h41
round 6
Squid Game S1 (Netflix/Divulgação)
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Enquanto babei o ano todo pela positividade de Ted Lasso, que é uma das melhores séries do ano, fui derrubada quando vi algo não apenas original, mas profundo, incômodo e genial no mais puro conceito da palavra. Round 6, da Netflix (lá fora chamado de “Squidgame”), é uma série perturbadora e de longe uma das melhores que já vi. A melhor do ano, sem exageros. E foi um ano rico de conteúdo!

Tem gente que iguala fenômenos como falta de originalidade. Do tipo, “sou do time que não vi nada demais no que todos amam”. Vai ser difícil ter essa reação com a série sul-coreana, que já é a mais assistida da Netflix, tendo virado referência popular mundial. Estive em pelo mais de uma reunião de trabalho com estrangeiros e brasileiros, em que exemplos de Round 6 foram usados na conversa. Se não tivesse assistido, estaria boiando. Não entre para o clube dos desavisados.

O segredo da série está na narrativa amarrada, com visual moderno e único. A história começa com nosso anti-herói, viciado em jogos indo parar, junto com 455 outras pessoas, em um galpão estranho, onde todos são “convidados” a participar de uma competição por dinheiro. No início, não sabem a quantia, mas as regras aparentemente são simples: apenas três, aliás. Claro que há muito mais do que parece ser. Aqui tenho que tentar evitar spoilers, mas alguns, infelizmente, são inevitáveis.

Para quem desistiu, um segredo importante: o primeiro episódio engana. Ele terá força na conclusão, mas propositalmente nos faz pensar que Round 6 é uma coisa apenas para nos chocar quando percebemos que é outra. Insista. Vai valer a pena. Como os jogadores, que descobrem que nesse jogo literalmente, ou você ganha e vive, ou perde e morre. As surpresas são constantes. A violência choca, mas é a banalidade de tudo que nos tira o chão e nos vicia como masoquistas. Não dá para parar.

Isso porque o suspense é crescente, assim como o drama humano. Quando confrontados por dinheiro ou vida, o pior surge nas pessoas. Mesmo quando não acontece imediatamente. Ainda assim, todos são forçados a fazer uma escolha cruel em algum momento. Partem nosso coração. É o confronto pela sobrevivência alternado pela ganância. É uma metáfora que se aplica a qualquer cultura, por isso o fenômeno.

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Infelizmente, as personagens femininas não têm protagonismo, mas representam o machismo ainda reinante. Por exemplo, elas são vistas sempre como o elemento fraco na disputa, mesmo que não seja o caso. Ou são objetos sexuais. É incômodo, porque queremos exemplos de heroínas, mas, dentro de um universo opressor, não conseguem superar essa barreira.

O diretor Hwang Dong-hyuk, que criou a série em 2008 e apenas em 2021 encontrou parceiro para produzi-la, fala também de racismo, vivido pela personagem feminina Sae-byok (interpretada pela modelo Jung Ho-yeon), que desertou da Coréia do Norte e é desprezada por sua origem e gênero, apesar de ser uma das sobreviventes mais fortes. E o doce imigrante paquistanês Ali, que – como estrangeiro – encontra poucos apoiadores.

Dong-hyuk também usa nosso anti-herói, Gi-hun, como símbolo do trabalhador fracassado que não consegue sair da pobreza. E o contraste entre classes fica claro entre os que competem, como dúbio Cho Sang-woo, e os que controlam o jogo.

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O roteiro de Round 6 é um dos melhores já apresentados nos últimos anos. Não há erros. Começamos com os dois protagonistas, crianças, jogando Squid Game, explicando as regras de defesa e ataque. Nos avisam que é um jogo de estratégia pela sobrevivência. Quando finalmente o Squid Game entra na competição, estamos desgastados, angustiados, mas sabemos o resultado. Ainda assim, é emocionante.

A distopia da sociedade dependente de dinheiro, precisando ganhar mais e viciada em reality shows é um contraste com a simplicidade dos jogos infantis. Alguns não lembram como era ser inocente, uma parte importante para ganhar o foco para vencer a prova, mas ao mesmo tempo a nostalgia pode ser a armadilha para a queda. É muito inteligente e necessário. De todas as séries que vi em 2021 – não foram poucas –, essa absolutamente foi para o pedestal. Vale cada elogio, cada momento. Não perca.

 

 

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