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A jornalista Ana Claudia Paixão (@anaclaudia.paixao21) fala de filmes, séries e histórias de Hollywood
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Quando cafonice e cool se encontram em filme de 007

Ana Claudia Paixão fala nesta coluna sobre os fantasmas do passado que acompanham a icônica canção de amor do novo filme da franquia 007

Por Ana Claudia Paixão
Atualizado em 4 out 2021, 20h54 - Publicado em 4 out 2021, 12h06

A minha natureza romântica é inegável e me conduz, invariavelmente, para conteúdos de histórias de amor. Até para equilibrar, o outro gênero que curto são filmes de ação, em que geralmente meu coração sofredor está “protegido”. E não é que às vezes a fórmula dá errado? Pois foi com a franquia de 007 que me vi chorando ao fim de A Serviço Secreto de Sua Majestade.

Justamente o filme que todos diziam ser o pior de todos! Hoje o longa é quase uma lenda e, de maior fracasso dos 25 filmes de James Bond, configura entre os melhores. Isso mesmo, fiquei aliviada porque tenho a companhia de Sam Mendes e Christopher Nolan no fã clube da ovelha negra da franquia.

O resgate do tema musical do filme no novo longa do espião inglês, 007 Sem Tempo para Morrer, no entanto, dá gatilhos. Vou explicar, mas antes um aviso. Não vi ainda o último filme de Daniel Craig, mas vou falar abertamente da produção de 1969. A soma pode igualar a spoiler. Se acertar, será apenas por intuição. Portanto, se quiser esperar e voltar para essa coluna depois de ver o filme, entendo.

Para falar de 007 só preciso de poucas notas. Meu pai instigou a paixão por James Bond desde que me conheço por gente e sabemos cenas completas, detalhes que discutimos e revisamos. É quase um hobby familiar. E sim, também li os livros.

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Até a entrada de Daniel Craig, a narrativa da trajetória de Bond era um pouquinho diferente. O comandante da Marinha britânica, James Bond, era um agente com licença para matar, mulherengo, indisciplinado, extremamente culto, sofisticado e letal. Quando Sean Connery saiu da franquia, os produtores escolheram um modelo australiano desconhecido, George Lazenby, para substituí-lo.

Posso escrever um longo texto sobre ele e os bastidores, mas para hoje é suficiente lembrar que deu tudo errado e Connery teve que voltar por mais um filme até Roger Moore aceitar o papel.

O James Bond de Moore era um viúvo, mulherengo, irônico e indisciplinado. Há referências sobre sua esposa, mas todas usadas como ponto fraco de 007. Ele visita seu túmulo, deixando claro que amou uma única vez.

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Imagina essa informação para uma alma romântica como a minha? Claro que tinha curiosidade de saber quem era a ela, mas isso foi retratado no tal filme horroroso que ninguém via, A Serviço Secreto de Sua Majestade. A verdade é que o acesso ao filme só foi possível quando lançaram os VHs, depois os DVDs e Blurays. Depois de décadas, um dia eu e minha irmã nos sentamos para ver o longa renegado. Acabamos no chão chorando como bebês.

Voltando à narrativa para finalmente chegar à trilha sonora. Em A Serviço Secreto de Sua Majestade, James conheceu Tracy durante suas férias, em Portugal. Quando a salva de uma tentativa de suicídio.

Por acaso, Teresa, ou Tracy, é a filha de um dos maiores bandidos europeus e assecla de Blofeld, o arqui-inimigo de 007. Como gratidão, o pai oferece ajuda ao Governo Britânico para pegar Blofeld, que está planejando uma pandemia química através de um vírus de rápido contágio.

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Longa trama de ação quase irrelevante depois, James está em uma sinuca onde certamente será morto. Eis que Tracy reaparece para salvá-lo. Isso mesmo, uma mulher SALVA James Bond. Nos anos 1960s não é surpresa que o público tenha rejeitado a proposta. Já falei que Tracy era interpretada por Diana Rigg, que faleceu em 2020 e que era a icônica Lady Olenna Tyrell em Game of Thrones? Pois é!. Está lendo certo, o filme de 1969 fala de empoderamento feminino, saúde mental e epidemia.

Pois Tracy não era apenas uma mulher forte, rica e bonita. O fato de não ter apreço pela vida a faz perfeita para vida perigosa de um agente secreto. Mas apaixonado, Bond decide desistir de sua carreira de espião para se casar com ela. Chegamos à música e o gatilho.

Tradicionalmente, quase todos os filmes de 007 tem um prólogo, ação, uma vitória de James e aí entram os créditos de abertura, com uma canção forte. “A Serviço Secreto de Sua Majestade” começa com um tema de ação (sensacional) instrumental.

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É apenas quando Tracy e James estão se conhecendo melhor que entra um tema de andamento estranho, na voz de Louis Armstrong, dizendo que eles têm todo o tempo do mundo para se apaixonar (We Have All The Time In The World). Lembrem-se que a essa altura já sabia da viuvez futura de James Bond, portanto já estava tensa em vez de encantada.

James e Tracy derrotam Blofeld, que é dado como morto. O casamento dos dois reúne alguns dos bandidos mais procurados do mundo e os melhores agentes da Inteligência britânica. Eles saem de carro, pela costa, planejando o futuro. “Querida, nós temos todo o tempo do mundo”, ele diz quando resolve parar para pegar flores para ela.

Um carro passa na estrada e atira. “É Blofeld!”, ele entra para pegá-lo. Tracy não responde. James olha para ela. Um dos tiros acertou sua cabeça. Silêncio. James a abraça. A polícia vem ao socorro. As notas de We Have All The Time in The World tocam ao fundo. “Está tudo bem”, James diz com lágrimas. “Ela está apenas descansando. Nós temos todo o tempo do mundo”, diz beijando a aliança dela. Abaixa a cabeça chorando, fade to black e o silêncio. O filme acaba assim. MARAVILHOSO.

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Pois gente, em 007 – Sem Tempo Para Morrer, além do tema espetacular de Billie Eilish, já anunciaram que usam We Have All The Time In The World em dois momentos. A minha reação??? Só me tranquilizo que não é refilmagem do original.

We Have All The Time In The World foi a última canção gravada por Louis Armstrong. Eu amo, mas confesso que tenho vergonha porque Moacyr Franco gravou uma versão português. Cafona e romântico às vezes se confundem, né? Pelo menos tem uma versão de Iggy Pop para me salvar (a minha favorita).

Só para encerrar porque hoje me alonguei. Eu sei o spoiler de 007- Sem Tempo Para Morrer, mas eu não contei aqui. Fiquem tranquilas. E se você tem curiosidade, no filme seguinte, com Sean Connery, 007 – Os Diamantes São Eternos, o prólogo começa com um James Bond vingando a morte de sua esposa, derretendo Blofeld em um tanque de ácido.

Bom, Blofeld tem as vidas do gato que ama, mas James vingou Tracy. E eu ainda amo o filme, mesmo com uma canção cafoninha.

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