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Ondas de compaixão: abandone a autocrítica no trabalho

Olhar com gentileza para si mesma — em especial no trabalho — é o convite da PhD em psicologia e mindfulness Shauna Shapiro

Por Helena Galante
9 set 2022, 08h01
Shauna Shapiro
Shauna Shapiro é professora da Universidade de Santa Clara, nos Estados Unidos, PhD em psicologia clínica, autora de mais de 150 artigos científicos, palestrante e membro do Mind and Life Institute. (Foto: Arquivo pessoal; Ilustração: Catarina Moura/CLAUDIA)
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No calor do momento, você comete um erro no trabalho. Percebe rápido e contorna a situação. Internamente, porém, um pensamento autocrítico começa: “Sua incompetente. Não acredito que você fez isso. É preciso ser muito burra para ter agido assim. Nunca vou me perdoar”. Sermos nós mesmas nossos piores algozes não é um traço de personalidade individual: é uma construção social que desconsidera absolutamente como funciona o processo de aprender.

“Quando há algo em nós que queremos mudar, acreditamos que devemos ser severas conosco para que aquilo nunca mais se repita. Mas o que acontece é que a resposta de estresse nos coloca no modo sobrevivência que desliga as áreas de aprendizado do cérebro”, afirma Shauna Shapiro, professora da Universidade de Santa Clara, nos Estados Unidos, PhD em psicologia clínica, autora de mais de 150 artigos científicos, palestrante com 3 milhões de visualizações só no TEDx Talk O poder da atenção plena: o que você pratica, se fortalece, e membro do Mind and Life Institute, cofundado pela Sua Santidade o Dalai Lama. O currículo extenso não parece o de uma pessoa acomodada, certo? No lugar da rigidez, contudo, o que a levou longe foi a autocompaixão.

Há uma interpretação equivocada sobre o que é a autocompaixão. As pessoas imaginam que ser compassivo é sentar no sofá e ficar comendo sorvete o dia inteiro, quando, na verdade, a ciência nos prova que a autocompaixão é um superpoder que mexe direto com a neuroplasticidade”, continua, com a voz deliciosamente tranquila e firme. Quando nós nos tratamos com gentileza e compreensão diante de uma adversidade, o corpo libera ocitocina e dopamina, neurotransmissores essenciais para estimular a motivação e a coragem. “E não importa quantas décadas tenhamos sido julgadoras conosco, todos podemos arquitetar novamente as estruturas da nossa mente.”

Mulheres temem que a autocompaixão vá deixá-las egoístas, quando, na verdade, amplia a generosidade

Shauna Shapiro

Entre as grandes companhias que já tiveram contato com a metodologia de pesquisa de Shauna estão Google, LinkedIn, The Wall Street Journal e The Huffington Post. Da experiência com as lideranças, descobriu que trocar a agressividade pela gentileza torna o ambiente mais seguro e os colaboradores mais criativos. “Colocar a autocompaixão no trabalho não significa abrir mão da produtividade, pelo contrário. Mas a transformação depende do compromisso de todos.”

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Ouvir a psicóloga falar com tanto entusiasmo sobre o tema gera até uma certa ansiedade: “Em quanto tempo é possível começar a sentir os efeitos de uma prática autocompassiva?”, fiquei pensando. Em nossa entrevista por vídeo, ela fez uma pausa e pediu que eu colocasse a mão no coração e respirasse profundo. Imediatamente, a sensação mudou e ela explicou o porquê. “Há uma resposta curta para sua pergunta: em um momento, a atenção plena pode nos transformar. Mas há uma resposta longa também. Os estudos mostram que precisamos de sete minutos de prática por dia, cinco dias por semana, por seis semanas, para começar a experimentar com mais consistência.”

Shauna Shapiro
“Nós, mulheres, fomos condicionadas a ser ultra preocupadas com o que os outros vão pensar. Quando achamos que precisamos dar conta de tudo, podemos ficar com medo de cuidar de nós mesmas”. (Foto: Arquivo pessoal; Ilustração: Catarina Moura/CLAUDIA)

Em outubro, a Dra. Shauna Shapiro fala para uma audiência brasileira na primeira edição do evento SER Longlife Learning, que acontece nos dias 18 e 19 no Transamérica Expo Center, em São Paulo. Sua fala será sobre mindfulness e autocompaixão para os negócios. Porém, a palestrante não deixa de destacar um importante recorte de gênero na dificuldade de olhar para si com bondade. “Nós, mulheres, fomos condicionadas a ser ultra preocupadas com o que os outros vão pensar. Quando achamos que precisamos dar conta de tudo, podemos ficar com medo de cuidar de nós mesmas”, afirma Shauna.

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Para desfazer aquela falsa imagem de que autocompaixão é uma forma de egoísmo, ela escolhe como exemplo o próprio coração. “Primeiro, o coração bombeia sangue para ele próprio. Sem isso, não consegue abastecer o corpo inteiro. Precisamos retomar essa sabedoria.” O que não significa ignorar os outros sentimentos. Podemos sentir frustração, ansiedade, tristeza: “As emoções chegam, fazem uma pequena dança e, depois, vão embora”, continua a cientista que inclui a meditação na rotina diariamente. A diferença está em trazer, com a mesma intensidade, ondas de autocompaixão. “Somos humanos e o exercício é voltar de novo, e de novo, para o momento presente.”

 

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