O Ministério do Namoro de Martchela
À frente do Lambisgoia Cast, ela fala sobre os dates ruins, mas não desiste do amor
Dizem que amar (e ser amada) não é para todo mundo. Essa divagação fica ainda mais latente quando estamos falando de mulheres bem resolvidas, inteligentes e que abusam de uma boa dose de humor. Por três décadas e meia, Marcela Casagrande, a Martchela, acreditou que ficaria sozinha e que suas realizações não seriam românticas. Até que a história acabou mudando de roteiro.
Hoje, a atriz e jornalista está apaixonada — só não revela por quem, para não abusar da sorte. A jornada de peripécias amorosas virou trabalho: o Lambisgoia Cast surgiu em 2021 como uma forma de alertar as mulheres sobre a toxicidade masculina, e garantir boas risadas. O programa, premiado no Rio WEB Festival 2022 na categoria “Super Projeto” , se desdobra para a divertidíssima página no Instagram, e o perfil no Twitter. Depois de um hiato, o video cast volta a ser gravado em setembro e agora divulgado em CLAUDIA, onde Martchela estreia no time de colunistas com graça e criatividade, além de memes, perrengues e política.
“Eu nunca tive sorte no amor, quebrava a cara e era o entretenimento das minhas amigas. As comprometidas vinham frequentemente se inteirar do que estava acontecendo na minha vida e eu ia contando todas as minhas tragédias. Elas se divertiam”, conta. “Como atriz, na minha cabeça é tudo roteirizado, então o que eu contava vinha acompanhado de uma narrativa interessante”.
No sitcom que é a vida de Marcela, algumas histórias foram trágicas, tão trágicas quanto as que passou a receber de suas seguidoras. Em uma das desventuras que chegaram pelas redes, uma moça contou que teve um AVC no primeiro encontro. O caso virou o “Date do AVC” na vida dessa mulher, que passa bem após o susto, ufa. Outra mulher contou que saiu com um homem, eles dormiram juntos e na manhã seguinte, ele tinha furtado o queijo que ela deixou na geladeira. Quem mexeu no meu queijo nunca fez tanto sentido! Ele também fez questão de pegar todas as cervejas que tinham no apartamento.
Apesar do drama, muitas histórias têm como mote o humor. Com carisma, Martchela responde suas seguidoras. “Eu sou aquela pessoa que faz piada nas horas impróprias. Foi no teatro que me dei conta de que tenho uma veia cômica, mas eu sempre quis ser uma pessoa séria”, conta ela. Até mesmo no meio em que trabalhou por anos, com comunicação no ramo político, Martchela conseguia trazer o tom bem humorado. “A piada nunca vai morrer”, brinca.
Não são só as amizades que são entretidas por Martchela. Seu público, formado por mais de 50 mil seguidores, se diverte e aprende com ela. “Eu falo muito sozinha e isso só aflorou no período de isolamento por conta da Covid-19. Eu comecei a contar minhas aventuras e me sugeriram fazer um podcast.” Uma seguidora que trabalhava com podcasts entregou o caminho das pedras para a atriz e nasceu o Lambisgoia Cast. Na época, Martchela achava que era a mais azarada no amor, como muitas de nós já pensamos, mas descobriu que tem gente muito pior, vide os relatos acima. “Ainda acho que, cronologicamente, eu ganho com o número de vezes que cai em ciladas consecutivamente”, acrescenta.
Enquanto a audiência feminina se identifica com as histórias, de certa forma, os homens héteros vão aprendendo a fazer, pelo menos, o mínimo. Sim, o ano é 2023 e finalmente eles estão começando a querer aprender a melhor forma de lidar com mulheres. “Eu não me responsabilizo pelos homens que me seguem, mas me alegra saber que eles estão tirando algum ensinamento disso”. Praticamente só temos motivos para agradecer à Ministra do Namoro, como ela passou a se autodenominar depois da última campanha presidencial.
“Quando o Lula ganhou e fez aquela brincadeira de Ministério do Amor, eu pensei ‘serei a ministra, é isso'”, explica ela sobre seu apelido na web. “Eu falo sobre amor há muito tempo e sempre dou sorte para as pessoas que começam a andar comigo. As que nunca namoraram, entram no meu grupo de amigos e pronto, arrumam namorado”, conta.
Os homens não podem ver mulher fazendo sucesso, eles se incomodam demais
Desde que assumiu o disputado cargo, Martchela recebe histórias de amor e também desabafos sincerões de quem ainda está solteiro. “Tem pessoas desesperadas. Passamos anos sofrendo por política, é difícil recuperar a libido e voltar a transar, né? O Lula chegou, temos tempo para recuperar e já sinto essa mudança. Tem muita gente apaixonada.”
Nossa Ministra está inclusa nesse pacote. “Eu cheguei em uma fase da minha vida que eu aceitei que simplesmente eu não iria achar alguém. Eu ia viver histórias curtas, efêmeras e viscerais. Mas a vida surpreende”, conta ela sorrindo. Poderosa, via boa parte dos homens intimidados, pouco preparados para uma relação. “Eu me sentia sozinha, a mulher guerreira, que faz de tudo, trilha um caminho muito solitário. A gente passa por tudo isso sozinha e não é todo mundo que aceita. Na verdade, são raras as pessoas que entendem e aceitam”, diz.
“É muito bonita a ideia de ser uma mulher divertida, independente e bem resolvida. Mas a sociedade não aceita e eu achei que ia ficar sozinha, porque eu já tinha tentado me moldar e não consigo ser diferente. É muito difícil você encontrar pessoas assim, pessoas que te abraçam, sabe? Principalmente na área do amor, é bem solitário”, continua.
Quem está pensando que a fama ajudou no setor amoroso está equivocado. Ela já levou alguns foras justamente porque começou a crescer nas redes sociais. “O homem não pode ver mulher fazendo sucesso, eles se incomodam demais”, conta ela. Um dos caras chegou a dizer: “Eu amo a Marcela, mas eu odeio a Martchela. Não quero ser pauta”, e apenas saiu da sua vida.
“Na época, eu chorei horrores, quis deletar meu Instagram, podcast e achei que minha vida tinha perdido o sentido. Alucinada e dramática, né? Minha Lua em Câncer explica”, conta. Um outro a conheceu em Salvador, ali no fervo a elogiou horrores, mas um amigo dele — sim, ele precisou de outra pessoa para conseguir dar um fora nessa mulher — disse que não rolaria, pois Martchela fala mal de homem na internet.
“É nosso dever moral e cívico falar mal de homem, a gente precisa alertar as mulheres. Desde que o mundo é mundo eles falam mal e estamos aqui em busca dessa reparação histórica”. Tiveram até os que não queriam aparecer com ela nos rolês, para não serem reconhecidos depois. Se não assume, a fila anda. Bom que as coisas mudam e, agora, a Ministra do Namoro está amando.
“Não sei se a gente vai casar, ter filhos, não sei o que aconteceu, mas ele realmente virou a chavinha de que tudo é possível”. Sem muitos detalhes sobre o estado civil, Martchela diz que está solteira até que prove o contrário, mas que não está sozinha e está feliz. Isso basta!