Sexo anal: confira o guia para praticar com prazer
Apesar de ser uma das práticas sexuais mais buscadas, o sexo anal continua um tabu. Fizemos um guia para te ajudar a se deliciar com ele sem dúvidas!
Afronta e símbolo de depravação: ainda hoje, o ânus é um dos maiores tabus da sociedade, especificamente quando falamos sobre prazer sexual. Acredite: até 2003, o sexo anal era proibido em 12 estados norte-americanos, incluindo Alabama e Texas, por conta das chamadas “leis de sodomia” dos EUA.
Quem vê uma situação tragicômica como essa talvez nem imagine que nas antigas civilizações greco-romanas a prática era normalizada, especialmente entre homens soldados, e servia como uma espécie de mentoria. Até mesmo o Papiro de Turim, produzido no antigo Egito durante o período Ramesside (1150 A.C), ilustra o prazer anal sem qualquer restrição. Mas, então, como chegamos até aqui?
Sexo anal: por que carrega tantos tabus?
Segundo a educadora sexual Caroline Amanda, essa repressão veio junto com a ideia religiosa de que o sexo só seria sagrado se fosse para a reprodução. “O prazer anal fica num ‘lugar fóbico’. A religião determina que a transa deve ser desconfortável geralmente para as mulheres. Reproduzir, menstruar e gestar: tudo é dolorido. A partir daí, criam-se as fobias e a naturalização da dor”, afirma a também fundadora da página @yonidaspretas.
Falar do ânus, portanto, é falar sobre os mecanismos de uma sociedade patriarcal que, o tempo todo, quer ditar as regras de como os corpos devem existir no mundo. “Um grupo seleto de pessoas — normalmente homens brancos cis hétero normativos — estabeleceram normas, e o sexo anal está fora delas. Essa castração do ânus alheio é uma questão contemporânea”, continua Caroline.
Como a pornografia entra na discussão?
Por outro lado, os moldes performáticos da sexualidade, muito baseados na pornografia mainstream, criam outras expectativas (e preconceitos) a respeito do prazer anal. “Nesse contexto, o sexo anal deixa as mulheres em um lugar de ‘vulnerabilidade’. Enquanto, para os homens, é uma posição complexa por não os deixarem no protagonismo da cena. Quando, na verdade, o sexo deveria ser sobre trocas”, diz ela.
Para além da perseguição religiosa e da forte disseminação de fake news sobre a aids — que associam o vírus HIV ao sexo anal —, Caroline reforça o quanto esse contexto afasta o público feminino do processo de desvendar o prazer anal.
“O cu foi o presentinho do Dia dos Namorados mesmo quando não desejávamos ou não sabíamos fazer da melhor forma. Há muitos traumas do universo feminino acerca deste assunto que incluem, aliás, o (re)descobrimento do clitóris, que não estava no repertório anatômico da sexualidade até pouco tempo.”
Para além do ânus: o corpo é sexual
Antes de mais nada, é preciso desconstruir paradigmas enraizados na sociedade, inclusive romper com a ideia de que o sexo precisa estar atrelado à reprodução. Depois, é necessário parar de restringir o prazer às genitálias. “Não temos órgãos sexuais, temos um corpo sexual. O pulmão é sexual! Quem goza sem respirar? Assim que ganharmos consciência disso, podemos explorar tudo, incluindo o ânus”, explica Carol.
NÃO TEMOS ÓRGÃOS SEXUAIS, TEMOS UM CORPO SEXUAL. ASSIM QUE GANHARMOS CONSCIÊNCIA DISSO, PODEMOS EXPLORAR TUDO, INCLUINDO O ÂNUS
Caroline Amanda, educadora sexual
Prazer anal não é sinônimo de orientação sexual
Monique Ventura, fundadora da loja de produtos eróticos Sinestesya, também recomenda a reflexão sobre a diferença entre o prazer e a orientação sexual: “A orientação tem a ver com quem sentimos prazer em fazer o ato, e não com o que estamos fazendo. Experimentar satisfação ao ser penetrado por uma mulher — o famoso pegging — não vai tirar a carteirinha de heterossexualidade de um homem”.
Izabela Starling, cofundadora da sex store Pantynova, complementa: “Para homens cis e mulheres trans, a próstata é quase similar ao clitóris, proporcionando pontos de enorme satisfação. E, no caso das mulheres cis e homens trans, a ausência da próstata não é um empecilho, pois a área é muito irrigada e possui várias terminações nervosas.”
Depois dessa desconstrução que, spoiler, não vai acontecer da noite para o dia, cada pessoa precisa entender qual a sua vontade — e se ela existe, porque se não existir, está tudo bem também. E aí que nasce o estado de relaxamento em relação ao assunto, segundo Luana Luemrtz, cofundadora da sexshop Egalité.
Preciso usar lubrificante?
Sim, o uso de lubrificantes é 100% essencial, já que o ânus não possui uma lubrificação natural, tal qual a vulva. Lembrando que o ideal é utilizar os à base de água, que não danificam a camisinha, ok?
Posições sexuais e para sexo anal sem dor
Com a cabeça tranquila, o desejo acionado e os acessórios em mãos, vá sem pressa. “Comece massageando o ‘lado de fora’ e introduza, devagar, apenas a ponta do dedo”, explica Izabela Starling. É importante esse momento de reconhecimento. “Indico também o uso de um plug anal pequeno [tem um ótimo no box ao lado]: deixa ele paradinho dentro de você, isso vai ajudar a tirar a tensão inicial.”
Fez a lição de casa sozinha e quer testar com o parceiro? Luana aconselha que as primeiras penetrações aconteçam “de ladinho” para diminuir a dor. “De bruços ou de quatro pode ser mais difícil. Por cima também é legal, por você conseguir controlar a intensidade da penetração.”
Dessensibilizantes e pomadas anestésicas no sexo anal
E falando em dor, jamais aplique pomadas anestésicas para aliviar o desconforto inicial. “Prazer não tem nada a ver com estar anestesia da. Além disso, não sentir nada significa não sentir se está machucando, e isso é bastante perigoso. Caso queira evacuar, também será impossível controlar”, alerta Izabela.
Se há necessidade de suavizar a penetração, Monique recomenda os dessensibilizantes [aplique três gotas no máximo], aprovados pela Anvisa. “Lubrificantes que esfriam também causam um efeito de relaxamento. Evite aqueles que esquentam, pois o ‘quentinho’ na região faz o intestino achar que está na hora de fazer o número dois.”
Xuca é obrigatória?
Aliás, e falando nele, há o estigma em relação ao que pode acontecer na penetração anal em relação ao nosso intestino. Por muito tempo, ouviu-se falar da chuca, higienização anal que não é nada obrigatória — na verdade, é desaconselhada por muitos médicos, enquanto outros afirmam que o enema, desde que eventual, pode ser tolerado.
Camisinha é essencial
A dica última e não menos importante é: jamais use a mesma camisinha para o sexo anal e o contato com os genitais. E os objetos e dedos devem ser higienizados entre uma coisa e outra — isso tudo evita a transferência de bactérias, reforçam as especialistas ouvidas para esta reportagem. Agora, é com você (e a sua companhia), sempre com respeito, cuidado e entendimento do que é prazer para ambos.
Produtos para arrasar no sexo anal
1. Estimulador de próstata, R$ 76, da Slim na Sinestesya
Por ser curvado e comprido, o plug encaixa perfeitamente na próstata e faz maravilhas no períneo.
2. Plug anal, R$ 50,50, da Confort na Egalité
Para quem está começando, um plug pequeno é ideal: o silicone traz estímulos menos “pesados”.
3. Dildo Rainbow, R$ 589,90, da Fun Factory na Egalité
A leve curvatura permite alcançar a próstata. Ótimo em cintas para quem curte um pegging.
4. Bruma hidratante, R$ 48,90, da Pantynova
Além de deixar o ânus lubrificado, o produto também hidrata, tonifica e cicatriza a região íntima!
5. But – plug anal vibratório, R$ 379,90, da Pantynova
Com design anatômico e 9 modos vibratórios, ele é a prova d’água e ainda vem com controle remoto 😉