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Como fazer amizades duradouras na vida adulta?

Apesar de estarmos sempre conectados, vivemos uma verdadeira epidemia de solidão. Como fazer novos amigos nesse cenário?

Por Kalel Adolfo
20 set 2024, 08h00
Aprenda a fazer amizades na vida adulta
Apesar de estarmos mais conectados do que nunca, a solidão domina o coração de grande maioria.  (Gerada por IA/Reprodução)
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Fazer amizades na vida adulta pode ser extremamente desafiador, não é mesmo? Para exemplificar: há algumas semanas, disse na terapia o quanto estava me sentindo cada vez menos disposto a engajar em interações sociais. Tudo parecia exaustivo — até mesmo uma simples conversa com o vizinho enquanto esperamos o elevador.

Tenho 26 anos, e acreditei ser essa mais uma das típicas limitações da Geração Z, à qual pertenço. Mas, surpreendentemente, a minha psicóloga, de 46, afirmou passar pela exata situação: disse que esperava para sair de seu apartamento quando via um outro condômino no corredor. 

Como fazer amizades na vida adulta
Em tempos de individualização extrema, até mesmo encontros corriqueiros se tornam incômodos. (Ilustração geradas por IA/Reprodução)

A situação corriqueira, no entanto, esconde um problema maior: estamos cada vez mais fechados para a possibilidade de criar novos amigos. Para a psicanalista Késia Rodrigues, a sociedade vem entrando em uma era onde o afastamento e a individualização estão se tornando a norma. A consequência é o que vem sendo chamado de “epidemia da solidão”, alçada à prioridade de saúde global pela OMS em novembro de 2023.

Nosso país, aliás, é um dos mais afetados pela crise. Uma pesquisa do Instituto Ipsos, de 2021, revelou que o Brasil é a nação onde as pessoas mais sentem solidão. De acordo com o levantamento, 50% dos brasileiros se sentem sozinhos. A média global é de 33%

Enxergar o outro

Mas por onde começar a reverter a situação? O primeiro passo, de acordo com Elisama Santos, especialista em saúde mental e apresentadora do Sac das Emoções no canal GNT, é criar consciência de que, por inúmeros fatores, estamos nos transformando em seres pouco tolerantes à frustração.

“Não conseguimos suportar a discordância. Mas nenhuma amizade vai ser só maravilhosa, e não vai existir ninguém disposto a admirar todas as nossas características. É na divergência que ampliamos os nossos horizontes”, afirma Elisama.

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As redes sociais só agravam esse quadro. Vale lembrar que o Brasil é o terceiro maior consumidor desses apps em todo o mundo, segundo levantamento da Comscore de 2023. “Estamos fortalecendo um narcisismo exacerbado”, declara Elisama.

A especialista em saúde mental afirma que, antes, as nossas redes eram presenciais: encontrávamo-nos na rua, na igreja, com o pessoal da escola. Isso nos obrigava a conviver com as diferenças. “Hoje, eu seleciono através da internet com quem eu vou falar. Essa realidade muito personalizável torna os humanos criteriosos e inflexíveis. Quem pensa diferente de mim é burro ou mau-caráter”, diz a apresentadora. 

Redes sociais nos tornam ainda mais intolerantes às diferenças
A seletividade proporcionada pela internet nos torna cada vez mais intolerantes na vida real. (Ilustração gerada por IA/Reprodução)

Elisama traz uma reflexão proposta por Freud: todas as relações humanas são majoritariamente frustrantes, pois o próximo não nasceu para atender às nossas vontades. “O outro nasceu para atender os próprios desejos. Ele tem uma história diferente, gostos diferentes, uma vida diferente. E está tudo bem. A amizade segura é aquela em que é permitido discordar”, afirma. 

Elisama Santos, especialista em saúde mental

Hoje eu seleciono na internet com quem eu vou falar. isso nos tornou criteriosos e inflexíveis. Quem pensa diferente de mim é burro ou mau-caráter

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Curiosidade é importante

Para fazer novas amizades, é preciso superar alguns preconceitos. Segundo Sophia Sahd Moraes, especialista em terapia cognitivo comportamental, quando chegamos à vida adulta, paramos de enxergar a amizade como uma prioridade, e ficamos muito focados nas obrigações familiares ou profissionais. Aqui, é preciso um trabalho consciente para colocar outros laços no centro das nossas vidas.

Para quem está em busca por novos amigos, a especialista garante: conexões podem ser encontradas em qualquer lugar. Para Sophia, frequentar espaços que possibilitem o compartilhamento de interesses em comum, como aulas de dança e clubes de leitura, é um ótimo início.

Além disso, segundo a terapeuta, participar de trabalhos voluntários aumenta as chances de achar amigos que possuam afinidade com os nossos valores e princípios: “Em ambientes de ajuda e acolhimento, sentimos o dever de socializar, pois todos estão lutando pela mesma causa.”

Como fazer amizades na vida adulta
Para fazer amizades, não basta apenas vontade, mas também disposição. (Ilustração gerada por IA/Reprodução)

Em qualquer caso, não basta sair de casa — é preciso disposição. “Se eu saio de cara fechada, estou barrando o processo de conhecer pessoas”, diz Sophia. Elisama concorda: “A vida nos destina a encontros tão legais, mas o quanto estamos abertos a isso? Eu tenho uma amiga que encontrou o marido assim. Os dois pegavam o mesmo ônibus no mesmo horário e, certo dia, começaram a conversar. Hoje, estão casados há dez anos”. 

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Para a apresentadora, devemos deixar a curiosidade tomar o lugar de nossas certezas. “Somos muito interessantes para ficar fechados em caixinhas herméticas. A gente olha para os outros e temos certeza de quem são, do que gostam. Permitir que a curiosidade tome conta deixa o mundo muito mais legal.”

A hora é agora

Outra dificuldade comum é acreditar que existe apenas uma “fase boa” em nossas trajetórias — e que seria possível apenas fazer amigos verdadeiros na infância ou na juventude.

“Associamos o período de produção laboral a ser feliz, a amar, a encontrar pessoas, a estar bem, e isso é muito violento. Existe tanta vida antes, e tanta vida depois”, declara.

A rotina profissional coloca um foco perigoso na produtividade. “No trabalho, aprendemos a fazer apenas o que é urgente — e encontrar uma amiga não é urgente”, diz. “Mas a amizade é o que refresca a vida. É o que abre espaço para o ar entrar e respirarmos melhor. É uma relação diferente das outras: em vez de apenas pedir, também damos algo em troca.”

Para mulheres acima de 40 ou 50 anos, que acreditam que suas chances de vivenciar amizades inesquecíveis acabaram, especialmente por terem focado tantos anos em demandas profissionais, amorosas ou familiares, a apresentadora recomenda refletir sobre em que momento alguém ditou essa regra.

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“Quem disse que não posso descobrir uma grande amiga agora? Nós, mulheres, depois de uma certa idade, ganhamos um nível de liberdade e despreocupação com o futuro que é excelente para nutrir conexões inéditas”, declara.

Não ter mais filhos para criar e cumprir com aquilo que a sociedade estabelece como obrigatório, segundo Elisama, faz muitas passarem a finalmente experimentar os prazeres que deveriam ter vivenciado desde muito jovens. “Encare a chegada da idade como um presente para quem vier a fazer amizade com você. O que temos a oferecer aos cinquenta é muito mais complexo, sábio e intenso do que tínhamos aos vinte”, diz.  

Aplicativos para quem deseja fazer amizades

A tecnologia, quem diria, pode ajudar na hora de fazer novas amizades. Confira: 

Timeleft 

Um jantar com seis desconhecidos em um restaurante surpresa: essa é a proposta da Timeleft,que conecta pessoas por meio da gastronomia. A plataforma faz um “match” entre os usuários baseado em seus hobbies, idades e preferências culinárias. Os encontros ocorrem todas às quartas-feiras, às 20h, em São Paulo, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Campinas

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MeetUp 

Através do app MeetUp, é possível se conectar com pessoas próximas a você (e que tenham interesses em comum). Uma vez conectados, o serviço planeja eventos presenciais para que todos possam se conhecer

Bumble BFF

Se engana quem pensa que o Bumble serve apenas para paquerar. Ao selecionar a opção ‘BFF’, o algoritmo te conecta apenas com pessoas que buscam relações não-amorosas.

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