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Sofrendo na volta ao trabalho? Entenda a depressão pós-férias

Está sentindo uma tristeza incomum com a volta ao trabalho? Você pode estar passando por uma depressão pós-férias

Por Adriana Marruffo
Atualizado em 6 ago 2023, 15h16 - Publicado em 6 ago 2023, 08h39

Agosto chegou, e com ele as tarefas do segundo semestre e o fim inevitável do período de folgas! Abrimos o computador com receio, desanimamos com a quantidade de e-mails para ler, voltamos às reuniões e aos calendários, e procuramos os poucos vislumbres daquele descanso. Com todas essas sensações, não é raro que a volta ao trabalho gere sentimentos de frustração, tristeza e desmotivação. Isso não é frescura, sendo conhecido como depressão pós-férias, e é bem mais comum do que você imagina. 

Em uma pesquisa conduzida pela International Stress Management Association (Associação Internacional de Gerenciamento de Estresse, em tradução literal) no Brasil, 23% dos participantes relataram ter sofrido depressão pós-férias, com sintomas como angústia, dores musculares, insônia e ansiedade. Para entender o fenômeno, conversamos com Danielle Admoni, psiquiatra e preceptora na residência da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM). Veja só:

O que é depressão pós-férias?

Apesar de ser um quadro de melancolia muito comum, poucos sabem o que está por trás da depressão pós-férias. “Quando a gente fala de depressão ou transtorno depressivo – que está lá no DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) – a gente está falando de um transtorno mental, uma doença que tem vários critério clínicos, então você tem que ter humor depressivo e outras 6 características, pode ter alteração de autoestima, baixa autoestima, etecetera. Quando a gente fala ‘depressão pós-férias’, é uma coisa mais reativa, a gente fica mais chateado, mais melancólico, mais triste depois de voltar das férias, mas não quer dizer que é a doença depressão”, explica Admoni. 

Portanto, é importante diferenciar os termos. Enquanto o transtorno depressivo é caracterizado como uma doença, a depressão pós-férias trata-se mais de uma melancolia passageira, que pode sim trazer sintomas físicos e psicológicos, porém tende a perdurar por até três semanas, isto é, o período de readaptação ao trabalho! 

“A gente volta de um momento super feliz, relaxado, de fazer coisas gostosas, ficar com pessoas que gosta para a nossa realidade que nem sempre é tão legal. E aí é interessante que quanto mais a gente se distancia  da nossa realidade, mais dura parece que ela fica de voltar”, conta a psiquiatra Danielle. 

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Como surge a depressão pós-férias?

“Quando a gente está no nosso dia a dia, a gente cansa mas vai fazendo as coisas, parece que quando a gente sai e olha essa situação de fora, às vezes parece que ela está em excesso”, reflete a psiquiatra. Portanto, Danielle conta que, normalmente, essa melancolia surge a partir da percepção da sua rotina e, consequentemente, dos fatores que são insatisfatórios, dando espaço para a sensação de estar fazendo coisas repetitivas e que tornam a pessoa infeliz. 

“É uma dificuldade maior de adaptação àquela rotina que a gente já tinha antes, então é bastante comum, tem gente que relata alteração de sono, alteração de apetite, irritabilidade, dor muscular – muitas vezes a gente para de treinar nas férias, e  quando volta está tudo doendo e fora do lugar”, explica. 

Apesar de carregar um nome de cunho extremamente negativo, Danielle conta que as pessoas podem se beneficiar deste momento de autorreflexão da rotina: “Às vezes é só assim que a gente consegue perceber alguns erros na nossa vida, que a nossa rotina está excessiva, que aquele trabalho não está legal, que aquele relacionamento não está legal, a gente só consegue ver isso quando a gente está de fora daquela situação. Por isso que férias não são luxo, férias são fundamentais. A gente sair daquela situação, poder se olhar de outra maneira, poder se pensar de outra maneira, poder pensar o trabalho de outra maneira é fundamental para a nossa saúde mental e para a qualidade do nosso trabalho.”

Como as empresas podem fornecer apoio?

As empresas tem um papel fundamental na forma como lidamos com o retorno ao trabalho
As empresas tem um papel fundamental na forma como lidamos com o retorno ao trabalho (Jason Goodman/Unsplash)

A verdade é que as empresas têm um grande papel na forma como os seus funcionários voltam após um período de férias ou de afastamento, e é necessário que tomem as devidas providências para fazer desta fase um momento tranquilo e sem graves angústias. “Eu acho que o mais importante é: Não cobrar. Eu sempre brinco que quando a gente volta de férias, a casa literalmente cai na nossa cabeça, a nossa casa que está uma bagunça e o trabalho que ficou parado por 15, 20 ou 30 dias. Um monte de e-mail, um monte de reunião, um monte de decisão para tomar, um monte de decisão que foi tomada quer você precise ficar a par”, comenta a psiquiatra. 

“Você chega e tem 10.000 mil emails para ler, não sei quantas mensagens e não sei quantas coisas novas que precisa se adaptar rapidamente, isso piora essa chegada e o choque acaba sendo muito maior. A empresa pode ajudar justamente nisso, para que essa readaptação seja uma questão um pouco mais suave e não algo muito impactante”, complementa Admoni. Ela também destaca que a empresa não tem um papel apenas no pós-férias, mas também durante, sendo necessário respeitar seu afastamento. 

“Aquela famosa frase ‘Eu sei que você está de férias, mas…’, realmente diminui o distanciamento da pessoa com o trabalho”, brinca. 

Como me preparar no pré-férias?

Apesar de ser um fenômeno comum, não vamos negar que todos preferimos não passar por esse período de depressão após as férias, né? E a verdade é que existem formas de se preparar e evitar isso antes de você sequer sair do trabalho. 

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“Naquela angústia de sair de férias, um erro – parece que as pessoas vão ficando desesperadas e mais cansadas conforme vai chegando o período de férias – é de deixar muita coisa para depois das férias. Então, às vezes, não finalizar alguma coisa ou deixar coisas para fazer ou começar depois das férias gera uma angústia, porque aí você vai passar o seu período pensando ‘Poxa! Quando eu voltar vou ter que fazer isso, não fiz assado’. Importante tentar deixar minimamente as coisas em ordem antes de sair de férias, justamente para poder se distanciar e não passar esse período pensando no que fez, no que devia ter feito, o que poderia ter feito ou vai ter que fazer na volta”, explica Danielle.

E durante as férias?

Assim como existem estratégias para lidar com a volta ao trabalho mesmo antes de sair dele, existem limites para impor durante seu período de descanso e voltar com todas as energias necessárias para o seu primeiro dia! Danielle explica que apesar de fazer parte da rotina e dos nossos aparelhos móveis, carregar conosco os nossos e-mails e manter notificações ativas para grupos de trabalho pode te tornar mais suscetível a passar por esse período de melancolia.

“A estratégia mais importante e fundamental das férias é realmente não ter contato com o trabalho. A gente vê muita gente que sai, ainda mais hoje em dia com o Whatsapp, o e-mail e as redes sociais, mas está conectada 24 horas, às vezes até com questões do trabalho – fica recebendo e-mails, reuniões do trabalho, decisões do trabalho, e isso gera uma angústia enorme. Então, na verdade, férias é férias e não é para a pessoa ser incomodada”, destaca a psiquiatra. 

Por isso, Danielle explica que o distanciamento total das notificações e novidades acontecendo da empresa é fundamental para o bem-estar durante e após as férias. Então, para as suas próximas férias: apaga o e-mail de trabalho, silencia os grupos, e aproveita ao máximo o descanso, a família e os amigos! 

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Acabaram as férias, e agora?

O retorno à rotina pode ser difícil, confira algumas dicas para facilitar o fim das férias
O retorno à rotina pode ser difícil, confira algumas dicas para facilitar o fim das férias (Tim Gouw/Pexels)

Sem surtos! Apesar das férias terem acabado, é necessário continuar preservando a nossa saúde mental, e é preciso certas considerações para não acabar sentindo a depressão pós-férias ou, inclusive, burnout. “Tentar retomar as coisa de uma maneira mais suave, mais tranquila, não achar que em um dia vai conseguir olhar todos os e-mails, ficar a par de tudo que está acontecendo, de todas as reuniões e de tudo que foi decidido, talvez diminuir um pouco essa autocobrança”, recomenda Danielle. 

E quem nunca ouviu que a esperança é a última que morre? “Outra coisa que é muito bacana, porque é muito difícil de voltar para a realidade, é ir aos pouquinhos pensando no próximo período de férias, isso ajuda a reduzir essa angústia de ‘Ai, não vou aguentar esse semestre’. Então, a gente começar a pensar com calma, como que eu vou, pra onde eu vou, como vou me organizar para pagar, o que eu preciso fazer, isso ajuda um pouco a aliviar essa dificuldade”, explica a psiquiatra. 

Muitos pensam que o problema que leva a essa melancolia e tristeza é o fato de tirar férias, e se sentem receosos de aproveitar novamente esse tempo mas Admoni destaca a importância do descanso, tanto para a saúde mental, quanto para a autoreflexão do seu futuro profissional e pessoal: “Quando a gente consegue sair da nossa rotina, a gente consegue olhar de fora e ver que ela é enlouquecedora, às vezes ela está adoecendo a gente. Por isso que é tão importante esse distanciamento.”

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E a partir do momento que a gente consegue pensar e trabalhar nessas questões durante as férias, o retorno fica menos difícil (por mais que você sinta um pequena saudade, né), assim você consegue voltar de maneira menos fatigada e cansativa.

“E claro, a gente tem que ter um equilíbrio na nossa vida, ela não é só o trabalho. A gente precisa ter momentos de prazer, a gente precisa ter hobby, convivência com amigos, com família, atividade física. Tudo isso ajuda muito a diminuir o estresse e fadiga com o trabalho também”, finaliza Danielle.

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