Harvard cria programa para que mais mulheres cheguem à liderança das empresas
Integrante da elite universitária dos Estados Unidos, Harvard quer que suas alunas cheguem ao mercado de trabalho em pé de igualdade com os alunos
Basta que se quebre o círculo vicioso para que, literalmente, as garotas cresçam e apareçam
Foto: Luiz Carvalho/ Flickr
“Vamos lá: levantem o braço com vontade! Nada de meio bracinho encolhido! Vocês têm que mostrar energia, decisão!”. Podia ser uma sessão de aeróbica, mas era uma aula sobre a arte de pedir (e obter) a palavra em público. A plateia era formada por alunas da prestigiada Harvard Business School, nos Estados Unidos. As jovens ali faziam parte do programa de equidade de gênero implantado em 2010 pela instituição com o intuito de diminuir o gap de desempenho entre estudantes homens e mulheres. O objetivo da atividade: incentivar a participação feminina nas discussões em classe, algo visto como uma dificuldade para elas. De acordo com registros históricos, calouros de ambos os sexos ingressam naquela universidade com notas e qualificação equivalentes, mas vão se distanciando – em favor dos meninos – ao longo do curso.
A ideia de criar um programa que buscasse reverter esse quadro foi de Drew Gilpin Faust, a primeira presidente mulher de Harvard, que se propôs a fazer o que chamou de gender makeover. Trata-se de um experimento inédito que promove, por meio de mudanças de currículo, regras e rituais sociais, uma transformação radical no comportamento do corpo docente e dos alunos em relação às mulheres. Entre as medidas, estavam algumas polêmicas e outras consideradas infantilizantes, como a tal aulinha de levantamento de braços para moças, além de preleções sobre civilidade e respeito, aconselhamento específico para as professoras e instalação de estenógrafos nas classes para medir com precisão a participação dos alunos em aula (critério que vale 50% na avaliação e, em geral, favorece os homens). E houve a coibição de comentários e piadas sexistas e a criação de uma camiseta comemorativa dos 50 anos da admissão de mulheres em Harvard – que virou motivo de orgulho feminino no campus.
RESULTADOS
A turma de 2013 colheu os primeiros benefícios do programa. Segundo o balanço, houve um aumento significativo das notas das meninas, que concluíram o curso com um número recorde de prêmios acadêmicos e distinções de excelência. Por trás do investimento nas garotas de Harvard, há uma missão ambiciosa. A direção da universidade acredita que superar barreiras autoimpostas ou criadas por um ambiente de hostilidade e competição deve ajudá-las a entrar no mercado em uma situação de maior segurança e igualdade para que possam modificar a composição da liderança das empresas, ainda majoritariamente masculina.
E o que esse programa pode significar para as jovens de todo o mundo? Em primeiro lugar, é um bom alerta e uma fonte de reflexão. Para entender o sentido desse projeto em um contexto amplo, devemos lembrar que as meninas de Harvard estão longe de ser estudantes medianas ou inseguras. São excepcionalmente educadas e passaram por um dos mais disputados funis acadêmicos. Mesmo assim, em um ambiente competitivo e agressivo, no qual os rapazes se sentem mais à vontade, elas têm dificuldade de erguer o braço e participar. Tolhidas, acabam minando a autoconfiança e sendo mal avaliadas, o que compromete o desempenho escolar como um todo. Basta que se quebre o círculo vicioso para que, literalmente, as garotas cresçam e apareçam. Ao saírem da universidade fortalecidas, tornam-se profissionais aptas a enfrentar o mercado de igual para igual. Parece simples, e é. Talvez o que garotas ambiciosas e inteligentes precisem para chegar ao topo seja aprender a levantar a mão.
Cynthia de Almeida é jornalista e estudiosa do comportamento feminino. Com passagens por várias redações da Editora Abril, está constantemente em busca de novas formas de investigar e entender a mulher contemporânea. |