A história da mulher que teve 4 filhos de uma vez sozinha
Luciane Carvalho, 39 anos, sempre sonhou em ter filhos, se planejou, fez inseminação artificial e tomou um susto quando o resultado revelou quádruplos
“Desde muito jovem, eu tinha o sonho de ser mãe, mas, diante de alguns relacionamentos que não deram certo, estabeleci 39 anos como a idade-limite para engravidar. Se até lá eu não encontrasse um parceiro definitivo, partiria para a produção independente para realizar meu maior desejo.
Afinal, depois dessa idade vai ficando cada vez mais arriscado para a mulher gerar filhos. Até chegar a essa decisão, passei por várias frustrações amorosas, que me fizeram pensar melhor na minha vida. Não foi uma decisão tomada do dia para a noite. Levei anos amadurecendo a ideia e me preparando financeiramente para isso.
Eu venho de uma família muito unida, com mãe, pai, irmã e um irmão gêmeo – sim, eu tenho um irmão gêmeo. Há dois anos, descobrimos que meu pai estava com uma doença grave, que depois se transformou em leucemia, e recebemos a notícia de que precisaria de um transplante de medula óssea.
Decidi então antecipar o projeto de ser mãe solo para que ele pudesse acompanhar o processo e conhecesse o neto – até então, não imaginava uma gravidez múltipla.
Procurei um especialista em reprodução assistida e optamos pela inseminação artificial. Eu receberia uma medicação para superestimular a ovulação e, no período fértil, seria injetado diretamente no meu útero o esperma que eu havia escolhido no banco de sêmen.
Contei ao médico que tinha um irmão gêmeo e, preocupada com isso, questionei sobre a probabilidade de eu ter uma gravidez gemelar. Ele me tranquilizou dizendo que era de apenas 6%. Produzi cinco folículos – dois foram considerados pequenos e de má qualidade. O ginecologista afirmou que provavelmente os dois menores não vingariam e que dificilmente seriam trigêmeos. Acreditei.
No dia da inseminação, fui sozinha. Depois do procedimento, que foi muito rápido, começou a me cair a ficha de que o negócio já estava feito e não dava mais para voltar atrás. Mas como lidar com a ansiedade de esperar os 15 dias pelo resultado positivo? E o medo de virem gêmeos?
O tempo foi passando e, no 11º dia, não aguentei e fiz um exame de urina com teste de farmácia. Na hora não apareceu nada e comecei a chorar. Mas, minutos depois, surgiu um segundo risco bem clarinho e, aí, enlouqueci. Liguei para o ginecologista, e ele pediu um exame de sangue quantitativo. Quando saiu o resultado positivo, decidi fazer uma surpresa para meus pais, que até então moravam na praia.
Coloquei um par de sapatinhos dentro de uma caixinha e escrevi uma cartinha para eles como se fosse o neto conversando e contando a novidade. Eles ficaram felizes da vida. A primeira pergunta do meu pai foi: ‘Filha, e se vierem gêmeos’? Eu disse que seriam bem-vindos de qualquer maneira, mas me lembrei do cálculo que o médico havia feito, de 6% de chances. Na minha cabeça, eu nunca teria uma gravidez múltipla.
Com 21 dias de gestação, fui fazer o primeiro ultrassom. E, para minha surpresa, havia três bebês. Saí da clínica em choque, chorando muito. Não estava preparada para ser mãe de três. Mas fui me acostumando com a ideia. No segundo ultrassom, meus pais me acompanharam.
Durante o exame, o médico fez o anúncio: ‘Luciane, não são três bebês, são quatro’. Ali meu mundo desabou. Ficamos desconcertados. Eu não estava preparada para ser mãe de três, imagine de quatro! Apavorada, deixei o consultório aos prantos, com a cabeça estourando. Disse a meus pais que gostaria de ficar sozinha em casa e que não queria falar no assunto naquele momento. Eles respeitaram.
Passei dois dias isolada, pensando no que estava acontecendo. Não conseguia organizar as ideias. Comecei a questionar: ‘Como vou transportar quatro crianças? Pagar escola? Adaptar a minha casa para recebê-las?’ Sabe quando tantos anos de preparo e planejamento vão por água abaixo? Foi assim que me senti. De mulher solteira e independente a mãe de quádruplos.
Depois de me recuperar do baque emocional, decidi ir para a casa dos meus pais em busca de apoio e de segurança. E foi lá que tudo realmente mudou. Eles me abraçaram e me trouxeram soluções. ‘Se for preciso, a gente vende a casa da praia, o carro; se necessário, mudamos para mais perto de você.’ Foi nesse momento, com esse acolhimento, que eu abri espaço para minha gestação evoluir. Só então passei a curtir a gravidez de fato.
Por se tratar de uma situação incomum, procurei uma médica especializada e segui à risca todas as recomendações. Com 22 semanas, em uma consulta de rotina, soube que já estava com um dedo de dilatação e fui obrigada a me internar para ficar em repouso absoluto. Meu pai, mesmo doente, cuidava muito de mim.
A meta da obstetra era segurar o parto até a 34ª semana, mas não conseguimos. Antonela, Nicolas, Sofia e Valentina nasceram com 33 semanas e, apesar do peso bom – cada um deles entre 1,3 quilo e 1,9 quilo –, eles tiveram de ficar um tempo na UTI neonatal.
Toda a euforia do nascimento, porém, se transformou em dor em poucos dias. Os bebês chegaram em 29 de agosto e meu pai morreu 11 dias depois. Vivi um misto de sensações e tive que fazer muita terapia para trabalhar meu emocional.
O momento da alta hospitalar é um capítulo à parte. Como fiquei dois meses internada, tive de coordenar a reforma da minha casa à distância. Saí do hospital antes das crianças – uma amiga me levou embora. Apesar de tudo o que já tinha passado, foi apenas no percurso que a ficha realmente caiu.
Fui observando a paisagem e pensando que eu fazia aquele caminho sozinha, solteira, voltando do trabalho. Dali para a frente, o faria como mãe de quatro filhos. Chorei muito outra vez, a cabeça deu um bug.
Sem meu pai, minha mãe veio morar comigo e até dorme na mesma cama que eu – ela é minha segurança, minha fortaleza. Também contratei uma babá para nos auxiliar. Os bebês ficaram na UTI entre 20 e 30 dias e receberam alta em momentos distintos.
Quando entrei em casa com a Valentina, a última a sair do hospital, a sensação de felicidade tomou conta de tudo. Parecia que meu coração explodiria. Finalmente estava com meus filhos tão sonhados.
Os três primeiros meses foram os mais difíceis. As situações ainda eram muito novas e a gente estava aprendendo a lidar. Os bebês até que eram bem tranquilos, mas o tempo todo queriam mamar. Eu dava o peito para dois deles enquanto os outros dois tomavam mamadeira. Depois revezava.
Ainda precisava fazer arrotar, trocar a fralda e colocar para dormir outra vez. Por dia, consumia pelo menos uma lata de leite e, no mínimo, 24 fraldas descartáveis – 720 no mês! A minha sorte é que o governo fornece as latas de leite e eu tinha ganhado muitas fraldas no chá de bebê.
Ser mãe de quatro exige disciplina e rotina. Então nossa vida é bem regrada. As crianças ficam na escola em período integral. É no trabalho, das 14 às 20 horas, que descanso a cabeça. Mas, nos fins de semana, sou eu quem assume os cuidados. Meus filhos acordam por volta das 6 horas da manhã. Levo a mamadeira e os mantenho deitados por mais um tempo.
As camas são montessorianas, ficam no chão. Assim, consigo deitar junto e dar uma cochilada. Por volta das 8h30, vou para a sala brincar. Às 9h30, dou uma fruta, e a vovó vem me ajudar. Nesse momento, me dedico às páginas que criei no Instagram – @4vidasnaminhavida, que tem 111 mil seguidores – e no YouTube – Quatro Vidas na Minha Vida, com 141 mil. Nelas, conto um pouco do nosso dia a dia, divido experiências, recebo palavras de amor.
Às 11h30, servimos o almoço. Duas crianças ficam no cadeirão e as outras duas na mesinha. Elas comem sozinhas; imagine a bagunça… Depois disso, tiramos o soninho da tarde. Faço os quatro dormirem juntos; senão desregula demais. Por volta das 15 horas, voltamos a brincar, passeamos no parque ou na praça. É sempre uma aventura.
Lá pelas 17h30, começo a servir o jantar para emendar com o banho. Se tudo correr bem, às 20 horas estão todos dormindo. E assim vamos vivendo um dia de cada vez. Atualmente, meus filhos estão na fase de imitar o irmão. Um chora porque quer colo, o outro chora também. E o outro também. Se um chora porque quer brincar, o outro começa logo em seguida. É cômico.
Além disso, claro, ficam doentes juntos, sempre numa escadinha. Um atrás do outro. Apesar de todas as dificuldades e perrengues pelos quais passamos, não me arrependo de nada do que fiz. Faria tudo exatamente igual. As coisas aconteceram da forma como tinham que ser. É perfeito assim. Sou a mãe mais feliz do mundo.”
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