Não tenho mais dúvidas de que a mulherada quer mesmo saber sobre dinheiro, planejar a aposentadoria e também — é preciso dizer em alto e bom som — se divertir. Aliás, Cyndi Lauper, aos 71 anos, subiu ao palco principal do Rock in Rio pela primeira vez em sua carreira em setembro passado e criou um momento épico para as fãs da música Girls Just Want To Have Fun, cantada por ela — e por nós — desde 1983.
Eu não estava lá, troquei a multidão por um retiro de “yoga integral” que culminaria em um casamento Hare Krishna. Mas isso não quer dizer que eu não estava me divertindo também.
Foi meu primeiro contato com o movimento Hare Krishna, que não ousarei tentar explicar aqui. É um sistema complexo, com características bastante peculiares, que muitas vezes revira o que os ocidentais considerariam comum.
Eu, religiosa e monoteísta que não sou, respeito. Ali conheci monge, mestre, residentes temporários da ecovila, cozinheiros veganos e praticantes do yoga que acreditam que entoar mantras e inserir boas práticas no dia a dia faz bem para a mente e para a alma. É o meu caso.
Para mim, ficou o exercício de refletir sobre o papel do dinheiro na nossa vida, da importância que damos aos bens materiais e à autonomia financeira para se viver em paz com o que se tem, com o que se pode. Podemos ir, porém, mais a fundo e mais adiante, claro.
Afinal, nascemos com um “credkarma”, conforme disse a professora de yoga, na mesma palestra em que o monge citou George Harrison (1973-2001), guitarrista dos Beatles, autor da terna My Sweet Lord. A banda britânica, que pregou a paz pelo mundo, participou da popularização do Hare Krishna nos Estados Unidos na década de 60 — eu gostava da música e nem sabia dessa conexão até então.
Opa, mas me distraí. Voltando ao “credkarma”, os Hare Krishna acreditam que a alma é eterna e que nossa passagem pela terra faz parte de um enorme ciclo de nascimentos e mortes, onde acumulamos o que é chamado por eles de “karma”. Cada ação que você toma tem um efeito, seja em breve ou na próxima vida.
O dinheiro está no bolso, na conta bancária e também no subconsciente, independentemente de nossas crenças ou religiões. Naquele lugar onde se pratica o desapego, também me surpreendi com a conversa que ouvi entre um grupo de mulheres vestidas com seus sáris, sentadas nas cadeiras à minha frente, durante a cerimônia de casamento.
Enquanto aguardava a noiva, pesquei a discussão no momento em que uma, de mais idade, reclamou do valor com que se aposentaria após anos de trabalho em regime CLT. A do lado, por volta dos seus 40 anos, disse aliviada que pagava previdência privada desde os 18, com o objetivo de completar a renda quando parasse de trabalhar. E que, recentemente, contratou uma consultoria para fazer um planejamento financeiro.
A menina, da geração mais jovem, pediu para que compartilhasse o contato pelo grupo do telefone. “O pouco dinheiro pode virar muito se você souber o que fazer”, exclamou uma delas. “Não preciso de muito, mas o suficiente para viajar e cuidar com folga da minha saúde”, completou uma outra.
Hare Krishna, Hare Krishna, Krishna Krishna, Hare Hare / Hare Rama, Hare Rama, Rama Rama, Hare Hare.
Silenciamos.
De longe se via o cortejo. A noiva estava vindo, era o início do ritual, cheio de significados.
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