Assine CLAUDIA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

A pressão estética para ter os seios perfeitos e seus problemas

Câncer de mama, gravidez e envelhecimento são apenas alguns dos fatores responsáveis pela mudança dos peitos, e a sociedade não poupa julgamentos a eles

Por Lorraine Moreira
21 nov 2023, 08h00

Peito, teta, mama, seios. Palavras de quatro a cinco letras que nomeiam uma parte do corpo que muitas vezes pressiona esteticamente as mulheres. Eles precisam ser grandes, mas não tão grandes. Devem ser simétricos, sem esquecer o bico para cima, e nunca, nunca mesmo, flácidos. Caso uma fatalidade, como o câncer, te obrigue a passar por uma cirurgia, é provável que você não seja poupada dos olhares de pena ou desgosto. Se eles caírem depois da amamentação, o silicone será indicado por dezenas de pessoas, que não dão valor à beleza de alimentar um bebê. E, se resolver reduzir a mama por questões associadas à saúde, os homens farão questão de pontuar a sua “burrice”.

A chegada das mamas não é tranquila: com os primeiros sinais, que surgem lá pelos 10, 11 anos, as meninas não só estranham o crescimento, mas também as mudanças decorrentes desse processo. De repente, usar sutiã é uma obrigação, aguentar as possíveis comparações, piadas e opiniões não solicitadas, também.

“Bastava usar uniforme branco para os meu colegas fazerem piadas, inclusive me chamavam de vaca”, lembra a professora universitária Paula*, que escondia o corpo com amontoados de roupas de frio para não escutar comentários sobre ele.

A escritora Simone de Beauvoir defende que, desde a infância, somos socializadas como “o outro”, enquanto o homem é “o sujeito”. Nossa existência, portanto, dependeria deles. Para Simone, somos ensinadas a buscar a aprovação e valorização dos homens também no âmbito do corpo. Quem está fora do padrão é pressionado socialmente a se encaixar pelo machismo estrutural, mesmo que tenha passado por mudanças originadas por processos naturais, como gravidez, envelhecimento ou doenças.

O drama permanece na adolescência. O primeiro namorado de Ana*, que, ao contrário de Paula, tinha baixo volume de seios, disse para ela colocar silicone. “Não consegui fazer sexo sem blusa nos próximos cinco anos daquele dia.” O hábito acabou apenas depois do término do casal e do assunto virar pauta no consultório de sua psicóloga.

“A pressão por seios perfeitos possui muitos impactos na vida das mulheres. Primeiramente, a questão da pressão estética emerge, impactando negativamente na autoestima delas, possibilitando o desenvolvimento de transtornos de imagem”, pontua Manoela Veras, historiadora que estuda colonialidade e gênero na UFSC.

Continua após a publicidade

A ideia de seios perfeitos também é atravessada pela questão racial, no ponto de vista da pesquisadora, uma vez que aquilo que é entendido como ideal costuma ser o corpo magro branco. “Esse ideal acarreta na desvalorização da mulher negra.”

O avanço da idade, que naturalmente vem acompanhado da flacidez dos seios, também gera medo e desgosto. Joana*, aos 78 anos, não tem uma boa relação com seu busto. “Acho difícil me olhar no espelho, porque meu peito está caído, flácido. Não gosto do que vejo.”

Mulher segurando bico do peito
Envelhecimento e câncer de mama causam mudanças nos seios (Tima Miroshnichenko/Pexels)

Luana*, que precisou fazer a retirada de uma das mamas depois de um diagnóstico de câncer, também tem dificuldades para se aceitar. “É uma marca que me lembra a doença, mas o fato de não ser considerado esteticamente bonito, de não ter representações disso como algo normal também me fere. É muito difícil me relacionar amorosamente. Muitos homens perdem o interesse depois de descobrir.”

Mulheres com câncer de mama, garotas frustradas com o tamanho dos peitos, mães que tiveram o prazer de amamentar. A lista não acaba, e a pressão estética tem um custo alto para a autoestima dessas pessoas. Muitas delas recorrem a uma sala cirúrgica e remodelam o busto, mas essa é a solução?

Continua após a publicidade

A banalização de cirurgias plásticas é uma realidade brasileira: são realizados mais de 200 mil procedimentos para a implantação da prótese de silicone anualmente, segundo dados da Sociedade Internacional de Cirurgias Plásticas. Colocar a própria vida em risco em nome de um ideal estético é um problema, de acordo com Manoela.

“A indústria das cirurgias plásticas e a banalização desses procedimentos não são soluções, mas parte do problema, uma vez que elas possibilitam que nós individualizemos os problemas que são coletivos, tendo uma compreensão errônea de que a solução para a pressão estética é a modificação corporal e não a crítica a uma estrutura que não nos respeita e não nos reconhece como sujeitos”, termina a historiadora.

*Nomes alterados para preservar identidade das entrevistadas

Publicidade

Essa é uma matéria fechada para assinantes.
Se você já é assinante clique aqui para ter acesso a esse e outros conteúdos de jornalismo de qualidade.

Domine o fato. Confie na fonte.
10 grandes marcas em uma única assinatura digital

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

Impressa + Digital no App
Impressa + Digital
Impressa + Digital no App

Moda, beleza, autoconhecimento, mais de 11 mil receitas testadas e aprovadas, previsões diárias, semanais e mensais de astrologia!

Receba mensalmente Claudia impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições
digitais e acervos nos aplicativos de Veja, Veja SP, Veja Rio, Veja Saúde, Claudia, Superinteressante, Quatro Rodas, Você SA e Você RH.

a partir de R$ 12,90/mês

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.