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Síndrome do Ninho Vazio: o que é, de acordo com mães e especialistas

Observar um filho sair de casa pode desencadear tristeza profunda; conversamos com Angela Dariva e Alessandra Losacco sobre suas experiências

Por Lorraine Moreira
28 set 2023, 08h23
Colagem de duas fotos, sendo que em uma delas aparece uma mãe e um filho e na outra aparece uma mãe e uma filha
Mães relatam o que sentiram depois que seus filhos saíram de casa (@angeladariva/@alefitmom1/Instagram)
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“Minha filha mais velha foi morar com o namorado, enquanto meu caçula mudou-se por causa da faculdade. A casa, que antes escutava reclamações da falta de espaço para caber todas as tralhas, virou uma mansão. Os chinelos espalhados deram lugar a uma organização que irrita. O silêncio passou a gritar alto. Eu chorei quase 24 horas sem parar. Do dia para a noite, me senti completamente sozinha”, conta a criadora de conteúdo Alessandra Losacco (@alefitmom1), ao relembrar a síndrome do ninho vazio (SNV).

Este termo é dado à tristeza profunda que atinge os pais quando seus filhos saem de casa, segundo a psicóloga Danielle Lamarca. “Assim como a chegada, a partida deles traz a necessidade de reconfiguração do espaço físico e mental. Nesse processo, porém, algumas pessoas apresentam melancolia demasiada e preocupações em excesso, que podem levar a ansiedade e outros problemas psicológicos, é aqui que surge a síndrome.”

Quem passou pela mesma situação foi a influenciadora Angela Dariva (@angeladariva). “O mais velho recebeu a aprovação no vestibular e precisou morar em São Paulo. Naquele momento, senti que estava em uma queda feliz”, diz ela, que explica: “Queda, porque vem o sentimento de estar caindo num buraco vazio, encerrando um ciclo de construção e intimidade. Feliz, porque a gente vibra com as conquistas dos filhos.”

Os sintomas e as consequências da síndrome do ninho vazio

Entre os sintomas mais comuns da SNV, estão tristeza, raiva, choro compulsivo, sentimento de solidão, alterações no sono, alimentação e libido, abatimento e desmotivação. “Os efeitos são diversos, pois cada indivíduo reage de maneira singular”, explica a psicóloga Tabata Labiapari. Alguns pais ficam mais suscetíveis a estados depressivos e a comportamentos compulsivos, como vícios em jogos, álcool e alimentação desregulada.

“Nessa reorganização familiar, também é possível acontecer uma separação do casal, pela falta de adaptação à vida nova ou por discordâncias sobre como agir. Além disso, o próprio filho pode ser afetado, com o sentimento de culpa, ou tendo problemas na atual relação amorosa, no caso da mudança ter acontecido por essa motivação”, completa Danielle.

Filho e mãe junto
Alessandra e seu filho junto (@alefitmom1/Instagram)
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Mães são as que mais sofrem

Ainda que as mulheres tenham conseguido maior inserção no mercado de trabalho nas últimas décadas no Brasil e tenham outras responsabilidades além da criação dos filhos, a síndrome do ninho vazio ainda é mais frequente entre as mães. Segundo dados do IBGE, em 2016, as mulheres dedicavam uma média de 18 horas semanais a cuidados de pessoas ou afazeres domésticos, 73% a mais do que os homens (10,5 horas), fator que corrobora para a problemática. 

Tabata explica que a menopausa é outro ponto que diferencia o impacto da SNV entre homens e mulheres.  “Durante essa alteração fisiológica, as mulheres passam por uma fase de transição hormonal que pode afetar negativamente aspectos como autoestima, humor, ansiedade, depressão, energia vital e disposição. E esses sintomas sincronizados com os da SNV podem deixar tudo mais intenso.”

“Um fator importante é que, independente do gênero, normalmente o perfil de quem sofre do problema são pessoas dedicadas quase que exclusivamente aos cuidados da família, sacrificando em excesso os próprios interesses”, acrescenta.

A dor passa: as mães que tiveram Síndrome do Ninho Vazio contam

“É o começo de outro ciclo, mais distante, cheio de incertezas, dúvidas. ‘Será que meu filho está pronto? Será que vai dar conta?’ pensamos. Ninguém está pronto, mas a vida é um eterno processo de aprendizagem”, pontua Angela. Ela ainda diz: “Superar esse momento, um segundo corte do cordão umbilical, nos cobra confiança no que ensinamos a eles.”

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Alessandra é prova de que tudo passa: “no começo, pipocavam memórias das crianças almoçando depois da escola, dos beijos de boa noite e dos cafés da manhã na correria. Naquele momento, eu estava sentindo falta de tudo e sabia que era um caminho sem volta, porque nunca será como antes. E dói, dói muito, mas também ficamos felizes com o que está acontecendo. É um misto de emoções inexplicáveis, que vai da dor mais profunda à alegria mais intensa de ver que cresceram”. 

No momento de transição, ela aproveitou para se dedicar aos estudos, aprofundar seus conhecimentos e investir no Instagram. Ainda foi convidada para escrever dois livros e hoje permanece focada naquilo que deseja.

Luana buscou foco em si mesma, sempre admirando o filho: “Espero ansiosamente pelos passos do João na construção da vida dele, sentindo aquela dor do distanciamento, mas também aquele prazer de ver um homem cheio de valores surgindo. A porta do quarto está sempre aberta, a das oportunidades também. Até porque a vida é assim, um constante recomeço”.

Marido, esposa e filho juntos
João, filho mais velho de Angela Dariva, foi morar sozinho depois de passar na faculdade (@angeladariva/Instagram)
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Como é feito o diagnóstico?

“O diagnóstico da síndrome do ninho vazio é feito quando os sintomas prevalecem por mais de seis meses após a saída dos filhos”, esclarece Tabata. Muitas vezes, porém, há uma confusão com outros transtornos, como depressão, e problemas que surgem com o avanço da idade ou por conta de questões conjugais, segundo a psicóloga.

Prevenção contra a síndrome do ninho vazio

“Antecipar os efeitos da Síndrome é a melhor prevenção contra a SNV”. Os pais podem, antes mesmo da saída do filho de casa, procurar por novos interesses, atividades prazerosas, ampliação do contato social e terapia.

Como superar a síndrome do ninho vazio?

A saída é a terapia e, em casos mais graves, medicação psiquiatrica, de acordo com Danielle. “Encontrar pessoas que estão passando pelo mesmo processo também é importante, além de conversar com os filhos antes e depois da saída, sem pressioná-los”, conclui a especialista. No final, dedicar a si é valioso, e entender que os filhos foram feitos para construírem o próprio futuro, também.

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