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Sexo violento está na moda? Entenda o fenômeno

Conteúdo erótico pode contribuir para a normalização de comportamentos agressivos entre os adolescentes; saiba a opinião de especialistas

Por Lorraine Moreira
23 ago 2024, 15h00
Sexo violento
Jovens estão cada vez mais interessados por práticas sexuais violentas (cottonbro studio/Pexels)
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O sexo agressivo está em alta. Nem abstinência, nem tradição: a violência é a obsessão sexual do momento. Mais especificamente, os enforcamentos, puxões de cabelo e tapas no rosto estão fazendo a cabeça de cada vez mais pessoas – especialmente jovens. Esse fenômeno, porém, pode trazer riscos à saúde dos participantes.

De onde vem o desejo por práticas mais violentas no sexo?

O interesse pelo sexo está ligado à sobrevivência da espécie – onde há desejo, há possibilidade de reprodução. Mas esse impulso vai muito além dos fatores biológicos.

Todos os dias o mundo nos fornece milhares de informações, seja através de vídeos no TikTok, séries, mensagens, filmes ou até mesmo pornografia, e isso molda nossos interesses. Ou seja, o contexto sociocultural impacta nossos desejos. E isso começa a valer bem cedo. Estima-se que a primeira exposição à pornografia ocorra, em média, aos 11 anos.

De dois a quatro anos depois, 28,5% dos jovens já experimentam relações sexuais, segundo dados da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar. Muitos deles estudam vídeos pornográficos para copiar os movimentos, uma tentativa de produzir mais prazer. Asfixia erótica, xingamentos e outras cenas, porém, são frequentemente retratados nessas produções.

Isso contribui para a normalização de comportamentos agressivos entre os adolescentes“A exposição repetida e precoce a esses conteúdos está ensinando como agir em situações sexuais, o que, muitas vezes, significa normalizar a violência no sexo e acreditar que ela não só é aceitável, mas também desejável”, explica a médica psiquiatra Jessica Martani.

Com o cérebro ainda em formação, eles acabam sendo influenciados mais facilmente, segundo Marina Vasconcellos, psicóloga especializada em terapia familiar pela Unifesp.

Além disso, a adolescência é uma fase marcada pela procura de novas experiências. “A busca incessante por sensações intensas é comum nessa fase da vida, e o sexo pode ser um dos caminhos para alcançar esse desejo”, observa a sexóloga e ginecologista Carolina Dalboni.

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Em um mundo repleto de estímulos visuais e com amplo acesso a conteúdos explícitos, recorrer à violência parece também uma saída para quem busca o inusitado.

Sexo violento e consensual
Sexo violento chama atenção por perigos envolvidos (Anna Shvets/Pexels)

Dinâmicas de poder e sexo consensual com agressividade

A agressividade no sexo é ainda um marcador de poder. Nas relações heterossexuais, os homens geralmente recebem gratificação, como sexo oral, enquanto as mulheres frequentemente experimentam a submissão. Mesmo em relacionamentos homoafetivos, essa dinâmica de controle pode se manifestar.

A objetificação feminina leva muitas mulheres a aceitarem violências para agradar seus parceiros, de acordo com Jessica.

“O estereótipo da masculinidade está associado à dominação, agressividade e controle, enquanto o feminino está ligado à submissão e à priorização do prazer do parceiro em detrimento do próprio”, explica Tamara. “Esses jovens são ensinados a assumir determinados papeis para se enquadrar nos padrões de gênero”, acrescenta.

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Cerca de 40% dos adultos com menos de 40 anos incorporam práticas violentas consensuais, segundo uma pesquisa das universidades de Hamburgo e de Tecnologia de Ilmenau. E os homens geralmente assumem o papel ativo. Parte delas aceitam por sentir que é uma obrigação.

“Não é coincidência que muitas mulheres tenham passado por experiências mais agressivas por acreditarem que deveriam se submeter a elas”, acrescenta a sexóloga.

Riscos de práticas agressivas no sexo

A popularidade de práticas sexuais mais violentas, como asfixia erótica e tapas no rosto, especialmente entre os jovens, é um alerta entre especialistas. Eles apontam para os riscos à saúde física e psicológica dos envolvidos.

Cerca de 44% dos entrevistados de uma pesquisa da Universidade de Reykjavik, publicado em 2023, já praticaram asfixia sexual (principalmente na faixa etária entre 18 e 34 anos). Essa descoberta indica que os adultos mais jovens são os maiores adeptos desse tipo de prática. 

Esse enforcamento pode gerar lesões e, estas, por sua vez, são capazes de levar até a morte, como explica Carolina. A gravidade é tanta que especialistas em BDSM (bondage, dominação, submissão, sadismo e masoquismo) frequentemente desencorajam a prática da asfixia, considerando-a perigosa.

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“Muitas vezes a pessoa não consegue retirar o consentimento do ato”, afirma Carolina. Séries, filmes e conteúdos pornográficos não costumam abordar a questão do consentimento para os jovens, o que pode tornar a questão ainda mais grave.

A dessensibilização sexual é outro fator colateral para quem consome excessivamente esses conteúdos, de acordo com Tamara. Além disso, é possível criar expectativas irreais sobre o sexo, tornando a experiência real cada vez menos satisfatória.

Qual o limite?

Traçar limites do que é certo ou errado em relações sexuais não é uma tarefa fácil. As especialistas concordam que o consentimento mútuo é importante, mas também é necessário avaliar se as práticas estão causando ou podem causar problemas para a saúde mental e física de qualquer uma das partes envolvidas. 

“O limite entre o saudável e o prejudicial é definido pelo impacto que a prática tem sobre você ou seu companheiro”, afirma Marina. Esse ponto inclui reconhecer os próprios limites. Sacrificar seu conforto para proporcionar prazer extremo ao parceiro pode resultar em sérios danos psicológicos.

“Essa busca incessante por prazer sexual leva mulheres e homens a realizarem coisas que, muitas vezes, eles nem desejam”, afirma Carolina.

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Munir o jovem de conhecimento é importante nessa fase

A pornografia online tornou o sexo mais violento entre jovens, muitas vezes sem que os pais tenham consciência disso. Os algoritmos das plataformas digitais segmentam o conteúdo de forma diferente para cada público, e a falta de diálogo aberto entre pais e filhos deixa o assunto ainda mais escondido.

Exatamente por isso, a comunicação deve começar em casa, desde cedo, com foco em construir um futuro mais saudável, de acordo com a psiquiatra. “Oferecer um espaço seguro para conversas sobre sexualidade e garantir que os jovens tenham acesso a informações embasadas cientificamente são passos essenciais.”

As práticas agressivas estão na pornografia, e no TikTok, Instagram, Twitter… Não dá para poupar seu filho de ter contato com tudo isso, mas é possível equipá-lo com conhecimento suficiente para que ele entenda os limites dessas influências, para as especialistas.

“É preciso ouvir o que eles falam. Não basta fazer as perguntas e querer ensinar mil coisas de uma vez. A conversa precisa ser mútua”, finaliza Tamara.

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