Ozonioterapia: os benefícios e controvérsias da prática
Entenda o que é a técnica e quais são os seus reais benefícios após aprovação de projeto de lei que autoriza sua prática para fins estéticos e odontológicos
Não é de hoje que ouvimos falar sobre o uso da ozonioterapia como um dos métodos de tratamentos complementares na medicina, principalmente após ter sido aprovada pelo projeto de lei que estabelece sua prática para fins estéticos e odontológicos, no início deste mês.
O seu uso em processos de rejuvenescimento da pele, entre outras diversas alternativas de procedimentos estéticos, caiu no gosto do povo, incluindo famosas como Anitta, Ivete Sangalo e Joelma, que já declararam o uso do gás para restauração de colágeno e até mesmo como tratamento alternativo para dores crônicas.
Porém, você conhece esta prática? Estudos revelam que há controvérsias sobre o uso de ozônio no organismo, contrapondo os positivos relatos daqueles que não vivem sem o gás. Pensando nisso, conversamos com o dermatologista e membro titular da Sociedade Brasileira de Dermatologia, Dr. Vinícius Broseghini Pinto, para discutirmos as principais dúvidas sobre o uso da ozonioterapia na dermatologia e quais são os seus reais benefícios no organismo e na pele. Confira a seguir as dicas:
O que é ozônio?
Antes de tudo, para entender o que é a ozonioterapia, Vinícius explica que precisamos entender o que de fato é o ozônio. “O ozônio é um gás formado por três átomos de oxigênio. Muito diferente do gás oxigênio que precisamos respirar para sobreviver, o ozônio é um gás quimicamente instável e fortemente oxidante. É mais conhecido por sua presença na camada de ozônio” conta o dermatologista.
E para responder o que é a ozonioterapia e para que serve? Ele complementa nos explicando como funciona o uso do gás para fins terapêuticos: “Já a ozonioterapia é o uso do gás ozônio com o objetivo de modular certas respostas biológicas. Isso pode ocorrer de algumas formas: diluído em líquidos e óleos para aplicação tópica; administrado como gás ou em preparação líquida de maneira sistêmica (subcutânea, intramuscular, intravenosa, retal); e até mesmo em auto-hemoterapia, técnica em que o sangue é colhido, exposto ao ozônio e reinjetado pelo especialista. Os mecanismos de ação propostos do ozônio incluem efeito antimicrobiano, anti-inflamatório e imunoregulador, por exemplo” conclui o dermatologista.
Os usos da ozonioterapia
O médico ainda explica que existem inúmeras possibilidades de uso da ozonioterapia, principalmente para fins dermatológicos e estéticos: “O uso da ozonioterapia já foi publicado para uma lista de inúmeras condições dermatológicas, incluindo cicatrização de feridas, dermatite atópica, psoríase, queimaduras, úlceras crônicas, infecções, micoses, verrugas, herpes, etc. Já dentro da estética, existem descrições do uso para o envelhecimento cutâneo, para bioestímulo da produção de colágeno, como coadjuvante no tratamento de acne, para assepsia e limpeza da pele nos procedimentos estéticos, dentre outros”, explica.
A ozonioterapia funciona?
Apesar dos inúmeros benefícios, o dermatologista alerta que não há evidências suficientes para comprovar de fato a eficácia da ozonioterapia. “Em termos de segurança, a maioria dos relatos não descreve eventos adversos ou descreve efeitos colaterais leves. Muitos pesquisadores convergem à conclusão de que ainda são necessários mais estudos de alta qualidade para estabelecer a segurança da ozonioterapia. Apesar disso, as intervenções com ozônio são muito descritas de maneira promissora no contexto de seu efeito antisséptico e antimicrobiano. Na prática, isso pode ser útil em infecções cutâneas e na cicatrização de feridas”, conta o médico.
Mesmo com tantas incertezas sobre a prática, a procura pelo uso da ozonioterapia como alternativa de eliminar gordura localizada são altas, principalmente entre mulheres, e o dermatologista afirma que o procedimento não se encaixa no grupo de técnicas mais consagradas: “Existe um grande interesse no desenvolvimento e aplicação de inúmeras diferentes técnicas para atingir esse tipo de resultado. A ozonioterapia não se encaixa nem no grupo de técnicas mais consagradas e nem dos resultados mais surpreendentes para essas finalidades”, conclui.
E quais são os riscos da ozonioterapia?
De maneira geral, Vinicius conta que, em altas doses, o gás pode ser tóxico quando inalado, e explica quais são os outros possíveis efeitos colaterais da substância quando se encontra em outros estados. “Em sua forma gasosa, o ozônio inalado pode causar prejuízos ao pulmão podendo levar a edema pulmonar, e em altas doses é considerado tóxico. Devido à alta capacidade oxidante, também pode causar danos oxidativos aos tecidos que estiverem em contato. Felizmente, dentro da ozonioterapia a exposição ocorre em baixas doses e não são esperados esses tipos de efeitos adversos. No uso tópico, são possíveis reações alérgicas e de irritação local. Não está indicado o uso para grávidas e lactantes. Portadores de doenças crônicas não controladas devem considerar o risco-benefício individualmente em conjunto com seu médico”, conta o dermatologista.
O médico ainda esclarece que as expectativas sobre os resultados de procedimentos que envolvem a prática da ozonioterapia devem ser discutidas com o profissional especializado, e todas as contraindicações e alternativas devem ser levadas em consideração. “A ozonioterapia ainda carece amplamente de evidências científicas robustas e de qualidade. É importante esclarecer com um profissional habilitado e de confiança: a ozonioterapia é considerada padrão ouro de tratamento para o meu caso? Existem alternativas que sejam mais consagradas e tradicionais para o meu tratamento? Dentro das práticas de medicina e saúde, é importante entender que não temos todas as respostas. Existem situações em que temos limites ou até mesmo escassez de informação para propor uma solução que tenha altos níveis de evidência científica. Nesse caso, cabe ao profissional informar ao indivíduo com seriedade e ética sobre as limitações e oferecer alternativas”, conclui.
E você, já conhecia a prática da ozonioterapia como alternativa para tratamentos dermatológicos e estéticos? Lembre-se sempre de procurar um médico especialista antes de realizar qualquer procedimento. Para mais informações sobre o uso e a aprovação de procedimentos invasivos, acesse o site www.gov.br/saude/pt-br e informe-se.