No mês do Outubro Rosa, precisamos falar sobre o autocuidado
Em depoimento emocionante, Rachel Jordan fala sobre o quanto a resiliência e o autocuidado a ajudaram a vencer um dos períodos mais desafiadores de sua vida
A importância do autocuidado tem sido um dos temas mais discutidos atualmente por especialistas e até mesmo pelos influencers digitais nas redes sociais. Percebo que em função de parecer um assunto da “moda” muitas pessoas não estão dando a devida atenção que o tema merece e, em alguns casos, até desdenham das dicas e orientações que são passadas para a manutenção da nossa saúde e bem-estar geral. E neste mês, marcado pelo Outubro Rosa, movimento de conscientização para a detecção precoce do câncer de mama, o autocuidado ganha ainda mais valor.
Muitas vezes, por estarmos nos sentirmos bem, achamos que a doença é uma realidade distante de nossas vidas e não damos a devida atenção ao nosso corpo, a nossa saúde. Mas esse movimento, que foi criado no início da década de 1990, tem um valor fundamental para nós mulheres.
Ele é um importante sinal de alerta que o autocuidado é fundamental para a prevenção do câncer de mama. O fato é que o autocuidado pode salvar vidas, sim, minha gente. Em 2004 eu tinha 39 anos e naquele momento da minha vida estava totalmente focada em cuidar do meu pai, que passava por um período difícil em relação à saúde, das minhas filhas, que eram pequenas, e da minha mãe.
Em vez de equilibrar a atenção a ele e a elas com o meu autocuidado eu me negligenciei. Não ia ao ginecologista para os exames femininos de rotina e esse comportamento quase custou a minha vida. Sem que eu percebesse surgiu um nódulo no meu seio, que quando foi descoberto, por acaso numa situação de intimidade de casal, já estava grande. Levei um susto e foi só aí que voltei a olhar para mim.
Fui procurar meus médicos e me deparei com uma situação que mudou a minha vida de forma radical naquele período. Ao sair do exame de mamografia, no qual senti uma dor imensa e que provocou a saída de um líquido – uma espécie de leite – do meu seio, tive um pressentimento. Liguei imediatamente para o meu médico e relatei o acontecido. E ele foi incisivo em nossa conversa, e tinha razão. Lembro de querer correr contra o tempo, mas já não dava mais.
Após uma cirurgia o resultado apontou um nódulo de 3,5 cm, ou seja, bastante preocupante. Eu desabei diante dessa nova realidade e confesso que, naquele primeiro momento, só pensava que iria morrer em consequência da doença. Naquela época ninguém falava a palavra câncer, ela era sinal de morte, se falava “aquela doença”. Hoje, encaramos o câncer de uma outra forma, as chances de cura são muito maiores, mas naquela época era visto praticamente como uma sentença de morte.
Passei por todo processo que envolve o tratamento fazendo sessões de quimioterapia e de radioterapia. Fui ao fundo do poço quando o meu cabelo começou a cair. Fiquei tão mal que não conseguia conversar com ninguém sobre a doença, nem mesmo com a minha mãe, que só soube algum tempo depois. Por sorte tive uma orientação muito cuidadosa da equipe médica e da minha família.
Para evitar qualquer troca de informação negativa, que pudesse impactar ainda mais a minha saúde mental e reduzir a minha imunidade, ia para as sessões de quimio com fones no ouvido. Para mim, ficar trocando informações sobre a doença não me faria bem. Durante as oito horas que durava o tratamento, eu focava em ler livros e revistas. O meu médico, Dr. Daniel, me dizia: “não se compare Rachel, cada caso é um caso”.
Também fui orientada a não ficar buscando informações e notícias sobre a doença na internet, o famoso ‘Dr. Google”, e não comentava sobre o que estava vivendo com pessoas que não fossem muito próximas. Foi a forma que encontrei para me proteger naquela fase em que eu precisava assimilar tudo que estava acontecendo comigo.
Mas digo a vocês, mais uma vez: o que me sustentou naquele período foi o amor do meu marido – impressionante como os homens abandonam suas mulheres, tive várias amigas que passaram por essa situação – da minha família e, sobretudo, a minha fé. Sei que cada pessoa tem uma maneira de pensar, uns são religiosos e outros não, respeito essas escolhas totalmente.
Mas minha fé me deu forças para acreditar que eu poderia, sim, vencer a doença; lutar bravamente, fazendo a minha parte, para que isso acontecesse. E eu venci minha gente. Comecei a me sentir novamente feliz, leve e solta. Apesar de ter que fazer um remédio via oral por cinco anos, eu engatei a primeira e fui viver novamente. Mas, definitivamente, a vida nos apresenta surpresas que nos tiram da nossa zona de conforto. E foi assim comigo.
Dois anos depois de vencer o câncer de mama, estava muito feliz em uma viagem a Paris. De repente senti uma forte dor nas costas. E após verificar o que estava acontecendo com o meu médico, fui surpreendida com a notícia de que estava novamente com câncer, era uma metástase no sacro. Foi um choque absurdo. Fiquei tão fora de mim que num primeiro momento me recusava a fazer tratamento, não conseguia me imaginar passando por todo aquele processo novamente. Digo a vocês que foi muito pior do que a primeira vez.
Sem querer ser clichê, mas talvez já sendo, foi o amor pelas pessoas que são mais importantes para mim, a vontade de estar ao lado das minhas filhas, e acompanhá-las na vida adulta, e a minha fé que me deram força, novamente, para enfrentar meu destino e ser resiliente, passando por tudo da melhor maneira possível.
O que aprendi é que, mesmo quando estamos sob uma forte tempestade, precisamos acreditar que o sol vai voltar a brilhar. Depois de atravessar a fase mais difícil da minha vida, e vencer a doença pela segunda vez, eu tive uma boa notícia ao fim do tratamento que me deu ainda mais força. Com o avanço constante da medicina, meu médico me informou que havia sido lançada uma nova medicação e que ela seria muito positiva para mim, uma vez que a anterior não havia funcionado.
Infelizmente não são todas as mulheres que podem lançar mão desse medicamento por algumas questões, mas é ele que até hoje contribui para me manter saudável. A cada 21 dias sou submetida a uma sessão de tratamento para receber o medicamento. Não bastasse esses dois grandes sustos que tive seguidamente, também fui diagnosticada com hipertireoidismo, que depois se tornou hipotireoidismo.
Desde então passei a exercitar o meu autocuidado à risca. Vou ao meu oncologista com regularidade e sempre estou atenta a minha saúde como um todo. Apesar de ter sido uma fase extremamente difícil e desafiadora, eu vi o sol voltar a brilhar em diversos aspectos de minha vida. Um deles foi a possibilidade de trilhar um novo caminho profissional. Até então eu era totalmente voltada para Artes Plásticas, atividade na qual tenho formação.
Mas vi surgir um novo horizonte ao reencontrar uma amiga, que é Consultora de Imagem, naquela fase em que estava me reestruturando emocionalmente. E foi ela quem me estimulou a enveredar pelo caminho da Consultoria de Imagem como uma forma de levantar a minha autoestima.
E descobrir esse caminho profissional gerou um grande estímulo para a minha vida. Eu comecei a conhecer diversas profissionais da área e percebi como eu gostava de trabalhar com pessoas. Tive muito acolhimento e generosidade, as pessoas gostavam de estar comigo e isso foi fundamental para a minha recuperação e transição profissional.
Hoje me orgulho de ser a profissional que me tornei, em parte como resultado das histórias de superação que precisei vivenciar. Então, esse artigo não tem como objetivo ser um espaço de lamentação, mas uma prova viva de que precisamos acreditar que somos capazes de enfrentar e vencer as grandes dificuldades que a vida nos impõe como uma espécie de teste para nos provar que podemos superar os maiores obstáculos, mesmo quando parecem intransponíveis.
Não existe dúvida de que precisamos viver a vida. No entanto, devemos sempre avaliar se estamos vivendo a nossa vida do jeito que ela realmente precisa ser vivida. Dando o devido valor as pessoas que estão ao nosso lado e a tudo que é importante para nós.
Um de meus objetivos atualmente é sempre deixar nas pessoas uma lembrança positiva sobre quem eu sou, poder fazer a diferença na vida de cada um (a) e contribuir para que essas pessoas sejam felizes de alguma forma. Encerro esse artigo dizendo a vocês que nunca percam a esperança e a fé e que exerçam o autocuidado continuamente. Acreditem que por mais difícil que uma situação possa parecer, de alguma forma nós conseguiremos vencer. E o sol voltará a brilhar.