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Nutricionistas explicam por que “estupro alimentar” não existe

Expressão usada em vídeo da empresária e 'influencer' Maíra Cardi "demoniza" a comida e pode fomentar transtornos alimentares

Por Joana Oliveira
9 mar 2022, 08h39

Há alguns dias, um vídeo da influencer Maíra Cardi, que se apresenta como “empresária do emagrecimento”, causou rebuliço nas redes sociais: na gravação, encenada com uma amiga, um doce é empurrado na boca de Maíra, que comparou a situação a uma violência sexual, usando a expressão “estupro alimentar” para referir-se a ocasiões em que uma mulher que está em dieta é pressionada por pessoas próximas a comer algo que não faz parte de seu cardápio e que a desvie de sua meta de perda de peso. Quase imediatamente, o vídeo recebeu críticas de seguidores e de profissionais da nutrição, acusando-a de prestar um “desserviço”.

“É uma expressão que nunca deveria ser usada nesse contexto, em respeito, inclusive, às mulheres que já sofreram violências sexuais. Estupro alimentar simplesmente não existe. E é importante entender a alimentação como muito mais do que uma fonte de nutrientes, mas também como socialização, celebração, fonte de prazer”, afirma Bia Barella, nutricionista com 12 anos de carreira. Bia  trabalha principalmente com o desenvolvimento de meninas atletas e conta que está preocupada com o número de crianças e adolescentes que desenvolveram transtornos alimentares no último ano, um problema de saúde que, segunda ela, é fomentado por conteúdos como o de Maíra circulando nas redes.

Não é a primeira vez que a influencer aciona o alerta de nutricionistas. Ainda em 2016, o Conselho Regional de Nutrição do Rio de Janeiro pediu uma investigação contra ela, argumentando que Maíra não tem inscrição no Conselho Nacional de Nutricionistas e, portanto, não pode prescrever dietas. Em janeiro deste ano, ela também gerou polêmica ao criticar o marido, o ator Arthur Aguiar, participante do reality show Big Brother Brasil, por comer pão no confinamento, um alimento que, segundo ela, não entra em sua casa.

“Na verdade, em vez de tirar alimentos, as pessoas precisam é comer mais. Quando digo isso para as minhas pacientes, todo mundo me olha como se eu estivesse louca. As pessoas não entendem que fazer uma dieta significa comer todo alimento do seu gosto e do seu costume de vida, sem restrições autoritárias, mas com uma alimentação variada e balanceada“, rebate Bia Barella. A nutricionista ressalta que a menstruação é um bom indicativo sobre o funcionamento do corpo e sua disponibilidade energética e de nutrientes e, por conta de déficits na alimentação, várias adolescentes têm demorado em ter o primeiro ciclo menstrual. “Da mesma forma, tem mulheres de 40 anos com osteopenia, um problema que geralmente acomete idosas, e ninguém associa isso a dietas restritivas. As pessoas só sabem tirar, tira o pão, tira o leite… As pessoas não sabem mais o que podem comer, então, simplesmente não comem.”

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Por isso, a também nutricionista Liliam Teixeira Francisco acredita que a educação nutricional e alimentar deveria fazer parte do currículo escolar em todo o país. “O próprio conceito de dieta foi subvertido, e as pessoas precisam aprender, desde a infância, que dieta não é proibição de comer, mas sim uma ferramenta para diversos tratamentos, muito além do emagrecimento”, explica. Liliam cita pacientes que vão passar por uma cirurgia e, durante algum tempo, precisam seguir uma alimentação baseada em certos grupos alimentares. Outros exemplos são crianças que estão doentes ou atletas com elevado gasto energético. Segundo ela, o risco de se comprometer em regimes sem acompanhamento devido de profissionais é maior no caso de dietas restritivas que, muitas vezes, levam a uma compulsão alimentar. “A pessoa fica tão privada de certos alimentos que, quando se permite consumi-los, o faz de maneira exagerada.”

Liliam também ressalta que fazer reeducação alimentar não significa chegar a uma perfeição inalcançável, privando-se de comer doces, carboidratos ou gorduras. “Alguns colegas falam em terrorismo nutricional, porque estão demonizando os pobres dos carboidratos, que não são vilões de nada, e as pessoas estão ficando com medo de comer. A comida é nossa aliada, não nossa inimiga“, diz. “E o pão, sozinho, não é capaz de fazer nada. A alface também não. O saudável é sentir prazer com a comida”, conclui Bia Barella.

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