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Lipedema ou gordura localizada: você sabe a diferença?

Frequente entre as mulheres, o lipedema costuma ser confundida com outros quadros, atrasando diagnósticos e limitando opções de tratamento

Por Marília Monitchele
Atualizado em 17 Maio 2025, 06h49 - Publicado em 17 Maio 2025, 05h15
Frequente entre as mulheres, a doença costuma ser confundida com outros quadros, atrasando diagnósticos e limitando opções de tratamento
Frequente entre as mulheres, a doença costuma ser confundida com outros quadros, atrasando diagnósticos e limitando opções de tratamento (Claudia/CLAUDIA)
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Uma condição pouco diagnosticada e frequentemente confundida com celulite ou obesidade, o lipedema é uma inflamação que causa inchaço e pequenas depressões na pele. No entanto, ao contrário dos primeiros casos, em que uma alimentação equilibrada e atividade física podem trazer benefícios, essa condição leva o corpo a produzir um tipo incomum de gordura que não é facilmente eliminada por métodos convencionais. 

Caracterizado pelo acúmulo anormal de células adiposas em áreas específicas, como quadris, braços e pernas, o lipedema provoca um desajuste nas proporções corporais e pode causar sintomas incômodos, como hematomas frequentes, fadiga, enxaquecas e extrema sensibilidade ao toque.

Doença da moda?

Apesar de ser relativamente comum entre as mulheres — afetando cerca de uma em cada dez ao redor do mundo — e de ter recebido considerável atenção nos últimos anos, graças a celebridades portadoras da condição, como Paolla Oliveira e Yasmin Brunet, que vêm falando publicamente sobre o diagnóstico e o tratamento, o reconhecimento dos sintomas segue limitado nos consultórios médicos, o que dificulta o acesso à informação especializada.

“A mídia e as redes multiplicam a informação rapidamente, o que é muito positivo”, avalia o médico Mauro Figueiredo de Andrade, especialista em angiologia e cirurgia vascular do Hospital Sírio-Libanês. “Mas, em um mundo onde as redes sociais se sobrepõem ao conhecimento científico e ético, podemos presenciar grandes problemas no acesso a diagnósticos precisos.” Como resultado, muitas pacientes ainda enfrentam uma longa e frustrante jornada em busca de respostas e tratamentos eficazes.

Caracterizado pelo acúmulo anormal de células adiposas em áreas específicas, como quadris, braços e pernas, o lipedema provoca um desajuste nas proporções corporais e pode causar sintomas incômodos
Caracterizado pelo acúmulo anormal de células adiposas em áreas específicas, como quadris, braços e pernas, o lipedema provoca um desajuste nas proporções corporais e pode causar sintomas incômodos (Claudia/CLAUDIA)

Esse foi o caso da administradora de empresas Thaís Strapaicci, que percebeu diferenças em seu corpo ainda na infância, quando suas canelas mais grossas se tornaram alvo de comentários maldosos de amigos e familiares. Mas foi apenas após a primeira menstruação que o inchaço nos membros inferiores se intensificou, tornando-se um incômodo constante.

Como o lipedema surge?

A relação não é coincidência. A doença costuma se manifestar em períodos de grandes variações hormonais, como a puberdade, a introdução da pílula anticoncepcional, a gravidez ou a menopausa. Uma preocupação adicional é que cerca de 70% das pessoas com lipedema também desenvolvem obesidade ao longo da vida.

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Thaís, por exemplo, sempre acreditou que suas pernas grossas eram apenas consequência do sobrepeso. Determinada a mudar sua aparência, submeteu-se a uma cirurgia bariátrica ao atingir os 120 quilos. “Meu corpo passou por uma transformação radical, mas minhas pernas não”, relata. Hoje, após perder quase 60 quilos, a administradora descreve a sensação de viver em dois corpos distintos: “É como se eu fosse uma pessoa da cintura para cima e outra da cintura para baixo”.

Ainda assim, durante anos, ela não imaginou que a aparência das pernas pudesse estar relacionada a uma condição crônica. “Desde os 18 anos ouvia dos médicos que bastava malhar e me cuidar para aquilo desaparecer. Um deles chegou a dizer que eu não emagrecia porque não queria, já que minha família era composta por mulheres magras”, relembra. O diagnóstico só veio há três anos, quando, aos 30, ouviu pela primeira vez a palavra lipedema durante uma consulta com um cirurgião plástico. “Eu comecei a chorar. Era como se um peso tivesse sido tirado de mim. Eu tinha uma doença e minha aparência não era falta de esforço ou cuidado.”

O caso de Thaís está longe de ser isolado. Um estudo britânico revelou que, embora os primeiros sintomas geralmente apareçam na adolescência, o diagnóstico pode levar, em média, mais de duas décadas para ser feito. Nesse intervalo, a doença progride, tornando os membros cada vez mais espessos e deformados. Nos casos mais graves, as pacientes enfrentam dores intensas e dificuldades de locomoção.

Falta de informação

“Não é um diagnóstico difícil. O problema é que existe uma misoginia incorporada a doenças que são atribuídas às mulheres”, diz Fábio Kamamoto, diretor do Instituto Lipedema Brasil, um dos pioneiros no tratamento da condição. “Assim como o lipedema, a endometriose, por exemplo, foi uma doença que demorou anos para ser considerada. É importante reconhecer que muitas vezes os profissionais de saúde não são ensinados a ouvir um grupo enorme de mulheres.”

Apesar de não ser uma enfermidade recém-descoberta — a literatura médica já descreve o lipedema desde os anos 1940 — o tema ainda recebe pouca atenção. Nos últimos 15 anos, no entanto, o interesse por parte da comunidade científica tem crescido. Um marco importante aconteceu em 2019, quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) reconheceu oficialmente o lipedema como uma doença.

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Em 2022, a condição foi incluída na Classificação Internacional de Doenças (CID-11), facilitando o diagnóstico padronizado e permitindo avanços no tratamento. No Brasil, porém, a adoção dessa nova classificação foi adiada de 2025 para 2027 pelo Ministério da Saúde, sob a justificativa de necessidade de treinamento médico e atualização dos sistemas de saúde.

lipedema
Lipedema: acúmulo de gordura atinge as pernas e forma garrote no tornozelo (Clínica Kamamoto/Divulgação)

As causas exatas do lipedema ainda são um mistério, mas fatores hormonais e genéticos são apontados como os principais gatilhos. A progressão da doença é dividida em cinco estágios distintos, podendo afetar quadris, nádegas, braços, coxas e pernas de maneira cada vez mais pronunciada.

Além dos impactos físicos, os efeitos psicológicos podem ser devastadores. Um levantamento da instituição britânica Lipedema UK mostrou que 86% das pacientes sofrem de baixa autoestima, 95% relatam dificuldades para comprar roupas e 60% afirmam sentir-se desesperançosas.

Como tratar o lipedema

O tratamento do lipedema exige um acompanhamento multidisciplinar, envolvendo especialistas como cirurgiões vasculares, endocrinologistas, nutricionistas, fisioterapeutas e, em alguns casos, ortopedistas, psicólogos e cirurgiões plásticos. Abordagens menos invasivas podem ser indicadas aos pacientes em estágios iniciais da doença.

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Entre as opções estão a adoção de dietas anti-inflamatórias, com a eliminação de alimentos ultraprocessados e ricos em açúcares e carboidratos refinados, além da prática regular de exercícios físicos de baixo impacto, como caminhadas e hidroginástica, que ajudam a fortalecer a musculatura e reduzir o inchaço. O uso de meias de compressão também pode ser benéfico, aliviando edemas e dores.

Além disso, drenagens linfáticas frequentes e o tratamento de varizes associadas podem contribuir para a melhora da circulação e a redução da sensação de peso nos membros. Essas medidas não curam o lipedema, mas podem retardar sua progressão.

os quatro estágios do lipedema
Os quatro estágios do lipedema (Clínica Kamamoto/Divulgação)

A solução definitiva

O único remédio definitivo é uma forma altamente especializada de lipoaspiração, capaz de remover as células inflamadas e restaurar a mobilidade. “Essa cirurgia é indicada para pacientes em estágios mais avançados, quando há perda do formato da perna, limitação de movimentos e impacto significativo na qualidade de vida”, explica o médico Vitor Gornati, membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular. 

Embora nunca seja possível retirar a totalidade das células doentes, as que restam não se multiplicam para formar um novo tecido, tornando o procedimento uma solução definitiva. No entanto, a cirurgia é complexa, podendo exigir várias etapas, e não está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS).

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Sem essa opção na rede pública, Thaís tentou realizar o procedimento por meio do plano de saúde, mas a série de laudos e exames médicos não foram suficientes para garantir a cobertura. O custo da cirurgia pode ultrapassar 40 mil reais, dependendo da complexidade do caso.

“Não é raro os planos recusarem o procedimento”, lembra Mauro Figueiredo. “Isso acontece na maioria dos países, pois a cirurgia é classificada como estética, ficando fora da cobertura dos contratos tradicionais.”. Entre uma das mais femininas das doenças, o diagnóstico pode ser apenas o começo de uma grande odisseia.

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