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Curados da Covid-19 citam estas sequelas psicológicas e neurológicas

Confira quais são os problemas e distúrbios mais citados por quem se recupera da Covid-19

Por Gabriela Maraccini (colaboradora)
Atualizado em 1 fev 2021, 12h54 - Publicado em 10 set 2020, 18h00
Recuperados da Covid-19 podem ter sequelas psicológicas, como ansiedade e depressão, e neurológicas, como perda do olfato a longo prazo, fadiga e até AVCs
 (iStock / Getty Images Plus/Getty Images)
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Cientistas e pesquisadores investigam as possíveis consequências psicológicas e neurológicas em pacientes que contraíram o novo coronavírus. Além dos efeitos na saúde mental de toda a população – infectada ou não –, a Covid-19 pode deixar algumas sequelas nas pessoas recuperadas, como ansiedade, síndrome do pânico, perda do olfato a longo prazo e até falhas na memória.

Em agosto, um estudo feito pela Universidade de Oxford, na Inglaterra, apontou que um em cada 16 pacientes curados da Covid-19 apresentou algum tipo de transtorno mental após três meses da recuperação da infecção. Os problemas mais citados foram ansiedade, depressão e insônia, respectivamente. Mais de 62 mil pacientes recuperados participaram da pesquisa.

Outro estudo realizado por cientistas italianos, em julho, mostra que, de 402 pacientes monitorados, 55% apresentaram ao menos um distúrbio psicológico um mês após receberem alta do hospital. A ansiedade também foi o transtorno mais comentado nesta pesquisa, com 42% dos casos.

A psicóloga Marilene Kehdi, especialista em atendimento clínico, explica que a pandemia trouxe impactos no estado psicológico e emocional de toda a população, devido à necessidade de isolamento social, a mudança de rotina e a insegurança em relação ao futuro, além do medo de ser infectado. No entanto, ao contrair, de fato, a doença, o abalo na saúde mental é ainda maior.

“A necessidade da hospitalização, o distanciamento da família, a solidão e o medo de morrer são alguns dos fatores que podem levar ao desencadeamento de alguns transtornos mentais em pessoas que tiveram a Covid-19, inclusive em quem nunca havia tido qualquer tipo de distúrbio mental anteriormente”, explica.

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A infecção por Covid-19 pode aumentar ainda mais os sintomas de ansiedade, depressão e pânico gerados pela pandemia, explica psicóloga (Jobalou/Getty Images)

Outros sintomas citados pelos pesquisadores italianos são a insônia (40%) -que também é um sintoma de ansiedade, conforme explica Marilene – depressão (31%), transtorno de estresse pós-traumático (28%) e TOC, transtorno obsessivo compulsivo, (20%). Nesses dois últimos casos, respectivamente, o paciente pode ter lembranças indesejadas e involuntárias sobre o episódio ocorrido, causando comportamento autodestrutivo, pânico, pensamentos intrusivos e obsessivos, que levam à realização de um ritual compulsivo para amenizar a ansiedade.

“Ao identificar esses sintomas, é necessário tratamento médico, psicológico e terapia cognitivo comportamental”, avalia Marilene. “No caso de depressão, o paciente dificilmente consegue buscar ajuda especializada sozinho, é necessário apoio da família, amigos ou pessoas próximas. Então, é preciso estar atento aos sintomas e incentivar a pessoa ao tratamento.”

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Consequências neurológicas da Covid-19

Aqui no Brasil, a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) chegou a identificar, também, sintomas de fadiga, dores nas pernas e no quadril, perda do olfato, do paladar e da memória e sonolência diurna. Segundo pesquisa da universidade, de 504 pacientes diagnosticados com Covid-19, 70% persistem com queixas mesmo após terem se recuperado da doença.

“Ainda não está claro o porquê dessa manifestação tão prolongada. Existem algumas pesquisas a respeito disso, mas não se sabe o mecanismo exato da perpetuação desses sintomas”, explica Ana Paula Peña Dias, neurologista formada pela Universidade de São Paulo (USP) e especialista pela Academia Brasileira de Neurologia (ABN). “O que sabemos é que a Covid-19 traz muitas complicações neurológicas, tanto durante a infecção, quanto no pós-infecção e o período de recuperação costuma ser bem prolongado quando há essas manifestações neurológicas”, completa.

Já em Wuhan, na China, um relatório com 217 pacientes hospitalizados, publicado em abril no JAMA (Journal of the American Medical Association) encontrou manifestações neurológicas em 40 dos 88 pacientes com infecção grave, incluindo AVCs (acidente vascular cerebral), encefalopatias e lesões musculares.

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“Uma das principais hipóteses para isso é de que, com a infecção, há um aumento dos fatores de coagulação no sangue, causando fenômenos trombóticos que causam, por exemplo, o acidente vascular cerebral, a trombose venosa cerebral e também problemas como sangramento”, afirma Ana Paula. “Além do aumento dos fatores de coagulação, tem também mudanças na paredes dos vasos que causam doenças vasculares, principalmente. Existem, ainda, as doenças de nervos periféricos, como polirradiculoneurite aguda (Síndrome de Guillain-Barré), problemas de doenças musculares causadas pela lesão direta do vírus ou também por lesão imuno-mediadas pela presença de fatores inflamatórios ligados a infecção.”

Ainda são necessárias mais pesquisas e estudos para encontrar o melhor tratamento para o prolongamento dos sintomas da Covid-19, mas a neurologista alerta que é crucial uma avaliação médica caso eles se perpetuem por muito tempo.

“Se a pessoa continuar sentindo dores de cabeça, tendo dificuldade para dormir após a infecção, é necessário buscar ajuda de um neurologista para ser tratado o mais rapidamente possível”, alerta. “A perda de olfato não é uma questão de fácil tratamento e tem sido relatada como uma das grandes sequelas da doença. Muitos pacientes têm tido perda de olfato, mas ainda não temos um grande tratamento terapêutico. Nesse momento, nos resta esperar”, finaliza.

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