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Você ama mudanças ou foge delas?

Nossa editora Liliane Prata fala sobre uma amiga que ama uma novidade e outra que prefere uma rotina sem sobressaltos

Por Liliane Prata
Atualizado em 28 out 2016, 22h02 - Publicado em 24 fev 2016, 14h45

Eram duas amigas bem diferentes.

Uma adorava novidades. Era o jeito dela. Se a vidinha de sempre estava se arrastando por tempo demais, se a temperatura andava morna e os desfechos, previsíveis… Lá ia ela arrumar alguma coisa diferente para fazer, arrumar as malas, terminar um relacionamento, iniciar um relacionamento, redecorar a casa, se matricular em um curso, pensar em mudar de área, de cidade, de estilo, de corte de cabelo, de endereço: ela era, afinal, toda essa mistura de decisões repentinas e pensamentos agitados, ideias mirabolantes que apareciam na cama, de madrugada, loucas por um bloquinho de papel, e planos urgentes embaixo do chuveiro.   

E ela precisava atender a esses chamados, que estavam mais para comichões intensos, desesperados, senão, ai dela… Quem é inquieto sabe: ou ouve as inquietações e tenta atendê-las da forma que conseguir, decifrá-las como puder, na velocidade que der… Ou murcha, fica louco ou fraco, corroído aos poucos pelo veneno da repetição, do tédio, da mesmice.

Às vezes, fugindo do veneno, mas sem coragem ou autoconhecimento para identificar os comichões do momento, ela pedia para a existência o que a existência não podia dar: alegrias sempre satisfatórias, encontros inesperados no final de todos os dias, assuntos interessantes e projetos instigantes e pessoas apaixonantes da hora de acordar até a hora de dormir. Nesses momentos, ela queria ser como sua amiga de infância.

Sua amiga de infância era do tipo que não se incomodava quando os últimos finais de semana, festas de aniversário e compras no supermercado eram semelhantes. Que, chegando do trabalho (onde, aliás, estava havia dez anos), sempre jogava a bolsa no sofá, fazia um sanduíche e ia para frente da TV como na noite anterior e na noite seguinte. Possuía um organismo todo sensível e assustado com novidades, equipado com uma resistência particularmente forte a restaurantes novos, lugares desconhecidos e amigos de amigos. Para mudar de casa, desistir de um relacionamento ruim ou fazer uma viagem longa era um parto dos mais complicados. O cheiro de novo lhe dava náuseas, e ela se retraía inteira, pedindo da existência o que a existência não podia dar: dias tão lineares como as folhas do calendário, sempre o sete depois do seis, sempre o catorze antes do quinze,  e todo 31 de dezembro era véspera do ano-novo: que coisa boa, receber um ano novo tendo sido avisada com 12 meses de antecedência.

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No caminho do meio, elas se encontravam: geralmente quando a novidadeira estava tranquila, serena, desfrutando sua última mudança de vida, e quando a resistente a mudanças estava numa fase do jeito que gostava, sem sobressaltos. Mas, depois, cada uma ia para o seu lado, exalando as dores e as delícias de sua própria natureza…

… e deixando sua dona louca, pois ambas, a novidadeira e a resistente a mudanças, moravam dentro de uma mulher que tentava, à custa de muita terapia, escrita, meditação e conversas com si mesma e com as amigas, entender e aceitar suas diferentes facetas. As amigas, cada uma à sua maneira, ajudavam, embora cada uma delas estivesse às voltas com sua própria bagunça interna também – e desejando, secretamente, ser como essas pessoas (elas existem mesmo ou só disfarçam?) que parecem ter uma só alma, uma só personalidade, um só indivíduo habitando seu nada contraditório interior.

Liliane Prata é editora de CLAUDIA e escreve aqui no site toda quarta-feira. Para falar com ela, clique aqui!

 

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