7 em cada 10 mulheres já foram assediadas ou importunadas em deslocamentos
Pesquisa dos institutos Locomotiva e Patrícia Galvão apontam que o público feminino é o mais vulnerável quanto às violências nas cidades do Brasil
Uma pesquisa indicou que importunação e assédio sexual são os principais motivos de insegurança das mulheres ao se locomoverem pelas cidades do Brasil.
Realizada pelos institutos Locomotiva e Patrícia Galvão, o estudo, que contou com o apoio técnico e institucional da ONU Mulheres, ouviu mais de 2 mil pessoas de todo o país. Os resultados apontaram que, dentre os homens e mulheres abordados, o público feminino é mais vulnerável quanto às violências que ocorrem nos diversos meios de transporte. Cidadãos LGBTQIA+, negros, de baixo poder aquisitivo e deficientes aparecem em seguida.
Das situações de violência consideradas estão: acidente de trânsito, agressão física, assaltos, furtos, sequestros-relâmpagos, atropelamento, estupro, importunação, assédio sexual, olhares insistentes e cantadas inconvenientes, preconceito, discriminação e racismo.
A cada 10 mulheres entrevistadas, sete afirmaram já ter recebido olhares insistentes e cantadas inconvenientes enquanto se deslocavam nas cidades em que vivem. Representando por porcentagens, 36% das mulheres disseram ter passado por episódios de importunação e/ou assédio sexual.
O número é tão alarmante que supera os 34% de pessoas que foram vítimas de assalto, furto e/ou sequestro-relâmpago em um país que, em parâmetros de violência, ocupa a 128ª posição no ranking do Global Peace Index (GPI) de 2021, que mede a paz em todo o mundo.
Os fatos divulgados pela mídia, tal como a ciclista que caiu da bicicleta após ser assediada no Paraná ou a jovem que morreu após ser assediada e atropelada em Santa Catarina só fortalecem os dados trazidos pela pesquisa. Veja:
- 83% das entrevistadas já foram vítimas de episódios violentos enquanto se deslocavam;
- 24% não contaram o ocorrido a amigos e familiares;
- 53% ficaram ou estão abaladas psicologicamente após o episódio;
- 67% mudaram hábitos e comportamentos após os episódios;
- 27% afirmaram já ter reagido a alguma situação do tipo.
A realidade importuna das mulheres é tão clara que 89% dos homens entrevistados disseram que se sentiriam menos seguros se fossem mulheres. 72% deles também concordam que espaços públicos são mais perigosos para o gênero feminino.
O ônibus se destacou por ser o meio de transporte mais citado pelas entrevistadas como o cenário destas importunações e assédios, seguido pelo deslocamento a pé, que traz insegurança nestes quesitos e a outros tipos de violência, como assaltos, agressões e estupros.
A pesquisa ainda apresentou outro dado alarmante: 83% das mulheres que responderam a pesquisa disseram que se privam de utilizar determinadas roupas e acessórios por medo de serem vítimas de alguma forma de violência.
Sobre os principais fatores que transmitem insegurança destacam-se a falta de iluminação pública, ausência de policiamento, ruas desertas e a grande quantidade de espaços públicos abandonados, condições que podem ser tratadas com a implementação ou melhoria das políticas públicas.