“Não vão nos calar”, diz vereadora ao sofrer ameaça de morte e racismo
Em vídeo, Carol Dartora explica que o ataque parece ser orquestrado, já que outras candidatas eleitas receberam ofensas parecidas
Com quase 9 mil votos, a doutoranda em educação Carol Dartora (PT) se tornou a primeira vereadora negra de Curitiba. Neste domingo (6), a militante das causas populares e das questões identitárias usou suas redes sociais para contar que recebeu ameaça de morte e ofensas racistas por e-mail. “Nada no mundo vai me impedir de te matar e me matar em seguida”, dizia a mensagem.
“Acabo de receber ameaças de morte. As autoridades já foram contatadas e todas as providências estão sendo tomadas para que seja garantida minha segurança e da minha equipe. Eles combinaram de nos matar, combinamos de ocupar tudo!”, escreveu Carol, que também tranquilizou seus seguidores informando que estava bem.
URGENTE
Acabo de receber ameaças de morte.
As autoridades ja foram contatadas e todas as providências estão sendo tomadas para que seja garantida minha segurança e da minha equipe.
Eles combinaram de nos matar, combinamos de ocupar tudo! pic.twitter.com/WqeHn2ZnlR
— Carol Dartora (@caroldartora13) December 6, 2020
Por vídeo, a vereadora apontou que mais candidatas negras eleitas foram alvos de ataques similares. “Parece ser um ataque orquestrado. Outras vereadoras lá em BH e Joinville também receberam e-mails dessa mesma forma com a mesma assinatura. A gente ficou sabendo que a pessoa que tá assinando ali é uma pessoa que foi vítima de crime de ódio. Então, eles estão usando uma vítima para nos intimidar mais ainda, mas quero dizer que eles não vão nos calar”, afirmou.
Sobre as ofensas, Carol explicou como lida com elas relacionando com o racismo estrutural sofrido pelos pretos e pardos no Brasil. “Não vou sair chorando e gritando. Não é a primeira vez que estou sofrendo injúria racial, isso faz parte do cotidiano de pessoas negras, por isso não vou sair chorando porque disse que meu cabelo é feio ou me chamou de macaca”, declarou.
“Eu digo me elegi falando de questões raciais na cidade de Curitiba, foram quase 9 mil pessoas que depositaram seu voto de confiança em mim. Não é a agora que vou baixar minha cabeça e vou entrar naquela Câmara de Vereadores dia 1º para continuar fazendo esse debate mais intensamente”, garantiu.
Combinaram de nos matar, mas nós combinamos de ocupar todos os espaços, inclusive a Câmara Municipal de Curitiba!
Estarei lutando firme e forte ao lado da população curitibana que depositou em nosso mandato toda a esperança de uma cidade mais igualitária, sem ódio e violência. pic.twitter.com/SLqOm3ax67
— Carol Dartora (@caroldartora13) December 6, 2020
Onda de ataques às candidatas negras eleitas
Assim como Carol, Ana Lúcia Martins (PT) foi a primeira vereadora negra eleita em Joinville. A professora também recebeu injúrias raciais e ameaças de mortes, que foram denunciadas e, posteriormente, repetidas pelos criminosos como resposta ao caso ter sido levado para a Justiça. Além de Ana, eles também atacaram o vereador mais votado da cidade, Alisson Júnior, que é cadeirante e defensor dos direitos humanos.
No caso de Ana Lúcia, um inquérito foi aberto tratando a situação como injúria racial e ameaça. A Polícia Civil de Santa Catarina cumpriu mandado de busca e apreensão na residência de um suspeito no dia 22 de novembro.
Em Bauru, quem recebeu ameaças de mortes e ofensas de injúria racial também foi a prefeita Suéllen Rossim (Patriotas), primeira mulher e pessoa negra a ocupar esse cargo nos 124 anos da história da cidade. A polícia identificou o autor das mensagens, que foi liberado após prestar depoimento por falta de elementos para representar uma prisão, o que pode mudar durante o inquérito policial. Segundo ele, que também é negro, o intuito das ofensas era de promover uma discussão sobre racismo velado. Já os responsáveis pela autoria das ameaças de mortes não foram identificadas ainda.