Três vezes feminicídio: homem mata a facadas a ex e as irmãs dela
Inconformado com o fim do relacionamento com a mãe de seu filho, Jackson Lar, 24 anos, matou a ex, de 15 anos, e suas duas irmãs, de 24 e 12 anos
Cunha Porã, no extremo oeste de Santa Catarina, tem apenas 10.639 habitantes. Metade da população vive da Agricultura. O nome da pacata cidade ganhou, nessa semana, ainda que sem muito alarde, o noticiário policial. Um crime bárbaro contra mulheres.
Não há nada de original neste roteiro. Rafaela Horbatch, 15 anos, tinha um bebê de três meses com Jackson Lar, de 24. Haviam terminado o namoro “há algum tempo”. Em entrevista à rádio Líder FM, o delegado Joel Specht relatou que Jackson estava inconformado com o término do relacionamento. Os dois disputavam, na justiça, o acerto no valor da pensão alimentícia e as visitas ao filho. Havia um boletim de ocorrência de agressão anterior, registrado por Rafaela, com a aplicação de medidas protetivas.
Na noite do crime, por volta das 20h30, Jackson invadiu a casa da irmã de Rafaela, Julyane Horbache, 24 anos, casada com Gilvane Meyer. A irmã mais nova das duas, de 12 anos, também estava lá. Ele atacou a todas com golpes de facão. Julyane ainda conseguiu fugir da casa, mas não resistiu e morreu a poucos metros dali. Gilvane lutou com o agressor, mas foi ferido também. Sobreviveu porque fingiu-se de morto. O bebê foi poupado.
Não há dúvidas da autoria do crime. De acordo com o pai das três, Jackson já havia ameaçado a filha mais velha de morte. O agressor, preso preventivamente, já foi indiciado por triplo feminicídio. Para cada crime, a pena varia de 12 a 30 anos. A motivação do crime, descrita no Boletim de Ocorrência: ciúmes.
A barbárie aconteceu na última segunda-feira, enquanto o Brasil assistia, encantado, aos desfiles da Sapucaí. Ou se divertia nos bloquinhos de rua. A notícia da morte das três irmãs não teve a mesma repercussão da Chacina de Campinas, que comoveu o país em meio à celebração do ano novo. E acabou por se somar à tantos outros crimes de feminicídio, numa contabilidade macabra, já sem provocar a indignação que deveria, por ser, infelizmente, fato corriqueiro.
Ao contrário: há, ainda, quem legitime os atos do agressor. Ou culpe as vítimas, publicamente. Como o homem que faz um comentário na página do jornal local, o Diário de Santa Catarina: “Só quem já passou por tortura psicológica e emocional nas mãos de uma mulher sabe a que ponto elas podem levar um homem. Mulher adora quando homem morre ou mata por causa delas, isso infla o ego delas. Não tenho pena de ninguém”. Ou a mulher que deixou esta, na página do G1: “Triste demais. Porém, adolescentes e mulheres que primeiro engravidam pra depois conhecer o homem, dá nisso.”
Enquanto a sociedade não compreender os efeitos da desigualdade de gênero e reconhecer que paira sobre as mulheres um perigoso senso de justiça destinado a puni-las, crimes como esses continuarão a se repetir. Um crime de ódio contra todas as mulheres.