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Cientistas mexem na lei de Einstein. Será possível desobedecer o tempo e consertar o passado?

As ondas gravitacionais foram comprovadas. Oba! O que isso tem a ver com o tempo, a mulher, o amor, os machões do carnaval, a alegria e a igualdade?

Por Patrícia Zaidan Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 28 out 2016, 15h38 - Publicado em 12 fev 2016, 18h14
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Não haverá mais a mesquinharia do tempo. Nem a submissão a ele. Será desprezível o medo que temos de envelhecer e partir. Também não sentiremos saudade de quem está longe, pois espaço e distância deixarão de ser um problema. Se os cientistas estão viajando na maionese certa, será possível frequentar o futuro e (quem sabe?) revisitar o passado. Eles se mostraram eufóricos com a descoberta, anunciada na quinta (11/03), das ondas gravitacionais que haviam sido previstas por Einstein na Lei da Relatividade. Sete brasileiros do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais integram o time de pesquisadores. Entre eles, o físico Odylio de Aguiar. É dele a declaração que permite antever a desobediência à cronologia das coisas. Em cem anos, disse Aguiar, a gente vai conseguir navegar no binômio tempo-espaço. Para frente e para trás?. Bom, né!

O que você faria se pudesse dirigir-se ao ponto de onde partiu? Ou rearranjar algo que deixou meio sujinho lá atrás. E se tivesse a oportunidade de consertar a pisada na bola que fez você perder um romance, um trabalho, um dinheiro, uma amiga, uma chance na vida? Dava para pegar no ar a frase ruim, o xingamento, a injúria contra alguém. E apagar o erro e a culpa antes de acontecerem. Da minha parte, iria às últimas consequências para que Danilo, à caminho do celibato, deixasse o noviciado dos Irmãos Maristas e se juntasse ao fogo da paixão. Meu amigo, 18 anos, e eu, 16, nos víamos mais perto da pirotecnia dos corpos que dos votos religiosos e de castidade que ele fizera com tão pouca idade. Eu também ousaria mais na maior aventura em que me meti, como vereadora em Uberaba, Minas Gerais, e militaria no feminismo desde a mamadeira. Não esperaria os 15, para só começar a agir no oco surdo da ditadura militar.

Se todas as brasileiras da minha geração tivessem se engajado cedo na defesa das mulheres, talvez a última pesquisa do Data Popular para o site Catraca Livre apontasse resultados menos vexatórios. Os jovens do século 21 não teriam sido criados sob o ranço troglodita do Brasil-Colônia. Realizada durante o Carnaval, em 146 cidades, a pesquisa ouviu homens acima de 16 anos. Veja: 61% deles afirmaram que uma mulher solteira, brincando no carnaval, não pode reclamar de ser cantada. Bloco de rua, para 49% não é lugar para “uma mulher direita”. Responda rápido: o que é ser uma mulher direita?

  1. Não ter o nariz torto de bruxa.
  2. Repetir “Amém, Amém” para as decisões que o homem toma para ela cumprir ou realizar.
  3. Fechar com Bolsonaro, Cunha, Feliciano e afins.
  4. Topar salário menor que o do colega-macho
  5. Transar toda vez que o homem quiser
  6. A direita é a mulher que apanha e cala. Fica em casa. Prega botão. Dá banho no cão. Amordaça os sentidos do próprio corpo.
  7. TODAS as alternativas anteriores

Segue a sondagem do Data Popular: 70% dos caras que encontramos nos blocos do Carnaval/2016 têm certeza que adoramos quando eles assobiam; 59% acham que uma cantada grosseira na rua nos deixa felizes e 49% nem têm dúvida: as mulheres vibram quando são chamadas de gostosa. Que lástima! Homens tão bonitinhos e mantendo a mente na era do pênis que diz tudo. Resolve tudo, compra tudo, decide tudo, até o que a mulher ama e quer. Está explicado: por isso foi tão comum a mão-na-bunda e a língua-no-peito em plenos M’Boi Mirim, Pelourinho, Vila Madalena, Leblon, Ipanema…  

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Machos, porém, não metem mais medo. Uma mulher (ela pode ter 14, 20, 30 ou 50 anos) já sabe do valor que tem. E se vira bem no mundo truculento dos homens. Além disso, lembremos, esse país já tem leis que nos protegem. Não por acaso, crescem as denúncias nas delegacias de polícia. É bom olhar como estão fortalecidas as mulheres nos blogs, na internet, nos coletivos em universidades e escolas de secundaristas. Elas se organizam cada vez mais, afiam o discurso, se defendem, pressionam o Congresso Nacional, as empresas onde trabalham, e crescem como pessoa. Ainda não mudaram tudo como é preciso, mas mostraram as garras e o poder conquistado.

O que é triste: constatar que os homens só perdem com o comportamento tosco e que ainda não notam isso. Deixam de ganhar prazer e alegria na troca com as mulheres e com os homens não-violentos (sim, eles existem e estavam no M’Boi Mirim, no Pelourinho, na Vila Madalena, no Rio de Janeiro…). Quando o exército de broncos deixar de pensar pequeno, vai descobrir maravilhas, se libertará da obrigação de ogro e do dever de se exibir para o outro macho. Entenderá, enfim, que a vida é melhor com igualdade, longe do papel de estripador.

Bem, a novidade científica recém-anunciada abre muitas possibilidades, como usar as tais ondas gravitacionais para sobrevoar o tempo que há de vir. Que futuro você quer visitar? Eu desejo um de amor, sexo, carnaval, harmonia, bloco de rua, paz, compaixão, direitos respeitados, entendimento entre homens e mulheres. Todos absolutamente libertos dos padrões que nos escravizaram até agora. O físico Odylio Aguiar há de descubrir que não será necessário esperar mais 100 anos para viver dias melhores. Os homens atrasados precisam se tocar, criar juízo e desistir logo de cultuar a violência.

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