O estilo de Janja: looks da primeira-dama refletem seus posicionamentos
Consultoras de imagem analisam as escolhas de moda da primeira-dama, que vai do casual ao clássico para transmitir ideia de proximidade com o povo
Na última segunda-feira (09/01), a primeira-dama, Janja da Silva, iniciou uma série de reuniões com mulheres de diferentes áreas sobre os temas com os quais pretende trabalhar em Brasília. Pipocaram no Instagram imagens desse dia de trabalho, para o qual ela escolheu uma saia midi azul marinho, uma blusa de mangas longas, em tom nude, e um par de All Stars brancos. “Queimamos os sutiãs, agora vamos queimar os scarpins“, comemorou uma seguidora numa das fotos.
Mais tarde, naquele mesmo dia, Janja acompanhou o presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, num ato simbólico ao lado de governadores e autoridades jurídicas, para subir a rampa do Supremo Tribunal Federal (STF), um dia após os ataques terroristas às sedes dos Três Poderes. A primeira-dama manteve, então, o look que havia usado o dia inteiro, trocando o tênis por um sapato de salto e acrescentando um blazer. Para consultoras de imagem ouvidas por CLAUDIA, esse é um exemplo de que Janja sabe usar a moda para transmitir as mensagens que deseja e transita muito bem entre um estilo casual e uma elegância clássica.
“Quando ela aparece para o público como uma pessoa cuja função também é representar o país, sabe optar por um toque de formalidade. Por isso trocou o tênis, que transmite essa ideia de uma pessoa mais acessível, pelo salto”, comenta Camile Stefano, consultora de moda e estilo. “Apesar de usarmos esses sapatos cada vez mais, o tênis ainda não é adequado para entrar em todos os lugares e Janja sabe disso. Há alguns protocolos que não conseguimos quebrar”, acrescenta, lembrando do look escolhido pela primeira-dama para a posse do presidente.
“Ela apresentou uma elegância tradicional, mas desconstruída”, diz Camile sobre o conjunto composto por jaqueta, colete e calça pantalona, assinado por Helô Rocha, estilista gaúcha que também foi responsável pelo vestido de casamento de Janja. Assim como aquela peça, o terno é de tingimento natural e foi bordado por artistas de Timbaúba, município da Zona da Mata pernambucana. A especialista destaca que os tons claros escolhidos pela primeira-dama em eventos oficiais rementem à formalidade exigida nessas ocasiões, mas também trazem a mensagem de empoderamento feminino, principalmente quando acompanhados de cortes modernos e bordados elaborados.
Nos compromissos de trabalho das duas primeiras semanas de governo, Janja foi vista com peças de tecidos mais finos, calças pantalonas e camisas de seda. Ela já repetiu, inclusive, a camisa de seda da marca Misci, do estilista Airon Martin, que usou em novembro de 2022 em sua entrevista ao Fantástico, pouco depois de se conhecer o resultado das eleições.
“Apesar das críticas recebidas devido ao valor da roupa, de R$ 2.580,00, a mensagem transmitida foi poderosa, pois, além da própria identidade da marca falar sobre a miscigenação nacional, a peça é um resgate de símbolos e matérias-primas do Brasil”, comenta Camile. De acordo com a especialista, essa escolha por marcas brasileiras traduz a promessa de que o governo quer valorizar o que se faz no Brasil e investir, de fato, no país. “Ela consegue justificar o porquê de essas roupa serem mais caras. Usa a imagem como ferramenta política“, explica a consultora.
“Janja tem muita autenticidade no vestir. Tem um estilo despojado e prático e não perdeu isso após se tornar primeira-dama”, acrescenta Maria Alice Ximenes, consultora de imagem. Ela lembra que não é de hoje que a socióloga e esposa de Lula utiliza as roupas para contar as histórias que deseja. Militante do Partido dos Trabalhadores desde 1983, quando se afiliou à legenda, Janja sempre adotou um estilo prático e confortável, de tênis, calça e camisetas, mas sempre com símbolos e frases de causas defendidas por ela.
“Na campanha eleitoral, por exemplo, trazia elementos pop em estampas localizadas na camiseta, frases feministas, até o próprio Lula como figura de pop art. Enquanto outras mulheres participavam dos atos e comícios de salto, ela ia de tênis. Isso passa uma imagem de alguém próximo à população, de ‘gente como a gente'”, avalia Maria Alice.
A consultora ressalta que a importância da sustentabilidade, uma das pautas fortemente defendidas por Janja, também aparece em suas escolhas de moda. Prova disso é o fato de ela não temer usar as mesmas peças mais de uma vez, em curtos intervalos de tempo. O sapato que usou no casamento, por exemplo, também foi calçado no dia da posse de Lula e depois na cerimônia de posse das ministras dos Povos Originários e de Igualdade Racial. “Ela estuda a procedência das peças, sabe como foi feito, quem fez, como foi tingido. Pergunta aos estilistas como é a cadeia produtiva têxtil, tem todo um cuidado com esse aspecto. Janja quer mostrar que não é uma primeira-dama decorativa, que quer trabalhar. Ela transfere para suas roupas os valores com os quais se identifica e, constrói, assim, uma coerência estética”, conclui a especialista.