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Moda cíclica: entenda o conceito

A cultura pop é um dos fatores que influenciam esse "ciclo" fashion, vide tendências como Barbiecore

Por Raíssa Basílio
Atualizado em 16 abr 2023, 09h53 - Publicado em 16 abr 2023, 08h00
O filme da Barbie ainda nem foi lançado e já vemos o efeito disso no movimento Barbiecore.
O filme da Barbie ainda nem foi lançado e o movimento Barbiecore já está entre nós. (Warner Bros./Reprodução)
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Você já deve ter ouvido falar que estamos vivendo um retorno dos anos 2000 pois a moda tem vida útil de 20 anos. Mas essa história não começa bem assim: nem sempre foi necessário revisitar o passado para criar ou recriar novas tendências. “A tendência dos ciclos sazonais surgiu no início da moda moderna, quando as coleções passaram a ser organizadas com base em temporadas”, explica Carol Garcia, pesquisadora e consultora de moda do Bureau de Estilo.

Podemos dizer que a estilista francesa Jeanne Lanvin, pioneira na área, começou esse movimento nos anos de 1920, ao criar um vestido de inspiração romântica do século XVIII. “O objetivo era reviver a feminilidade que havia sido esquecida durante a Primeira Guerra Mundial”, conta Carol. “No entanto, o exemplo mais icônico de uma criação inspirada no passado é o New Look de Christian Dior, em 1947, uma coleção que remeteu à década de 1860. Essa imagem deu origem ao culto à figura da ampulheta”, completa.

Croquis de Maria Grazia Chiuri, ilustrados por Mats Gustafson, da coleção 2023 da Dior, inspirada na rainha Catarina de Médici.
Croquis da estilista Maria Grazia Chiuri, ilustrados por Mats Gustafson, da coleção 2023 da Dior, inspirada na rainha Catarina de Médici. (Instagram/@Dior/Reprodução)

Lanvin e Dior, exemplificando, foram atrás de um resgate como fuga de um período pós-guerra. Na década de 1940, as mulheres tiveram que ocupar “atividades masculinas” e as roupas precisaram se tornar mais práticas no setor feminino. “Dior adaptou a silhueta de 1860 para torná-la mais funcional e adequada para a vida contemporânea”, explica Carol.

Por que hoje em dia as tendências costumam se reciclar em 20 anos?

Vivemos em uma era onde as informações chegam muito rápido, e isso vale tanto para as notícias quanto para as tendências. Com isso, os conteúdos viralizam e somem na mesma intensidade. E ao falarmos de moda e beleza, temos que pensar na produção de massa (alô, fast fashion!).

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“Seja qual for a duração, o importante é notar que de Jeanne Lanvin para cá, esse ciclo torna-se cada vez mais curto”. Um dos motivos das tendências se reciclarem está ligado ao consumo em massa e também aos acontecimentos históricos.  “As tendências de moda dos anos 1920 foram influenciadas pela era do jazz, em 1960 pela revolução cultural e dos anos 1980 pela cultura pop e tecnologia emergente. Toda tendência tem uma explicação social”, explica Carol.

A influência da cultura pop

É impossível falar de massificação e não responsabilizar a mídia e a cultura pop. Filmes, séries e novelas, especialmente em nosso país, têm um poder absurdo quando falamos de moda. “O que parece mais certeiro: apostar numa ideia totalmente nova e original que ainda não foi testada pelo público e, portanto, não se sabe como será o retorno ou apostar numa franquia de sucesso que já tem milhares de fãs consolidados?”, pontua Carol Garcia.

“A cultura pop é uma indústria milionária e cada vez mais se comporta como tal, colocando o lucro certo acima da criatividade e experimentação.”

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Vale lembrar: a etimologia da palavra ‘moda’ vem do latim modus, e um dos significados deste termo está atrelado aos costumes. Sendo assim, o que está em voga na cultura e história acaba influenciando a maneira em que nos vestimos.

O filme da Barbie ainda nem foi lançado e já vemos o efeito disso no movimento Barbiecore.
O filme da Barbie ainda nem foi lançado e já vemos o efeito disso no movimento Barbiecore. (Warner Bros./Reprodução)

“A moda não existe num vácuo, é sempre uma tradução estética do zeitgeist [expressão alemã que sintetiza o espírito da época], das ideias e acontecimentos do momento e, portanto, não foge à lógica que mencionei logo acima”, complementa a pesquisadora.

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Reciclagem não apenas nas tendências, mas pensando em sustentabilidade

Além da cultura pop, que anda mais nostálgica do que nunca, um dos principais fatores para a moda ser cíclica é a grande demanda por novidades. Infelizmente, isso está associado a um descarte excessivo, vide o que aconteceu com o Deserto do Atacama, no Chile. O lugar se transformou, literalmente, num cemitério de roupas descartadas. Inclusive, a situação se tornou tão precária, que a Organização das Nações Unidas (ONU) está alertando para uma “emergência ambiental e social”.

O retorno de tendências antigas faz as roupas circularem, aumentando a demanda por roupas vintage e evitando a compra de peças novas, que vão gerar mais lixo se não forem duráveis.  “A moda vintage foi uma das principais razões para o surgimento dos brechós, mas a sustentabilidade tem sido cada vez mais valorizada na indústria da moda e isso tem impulsionado o sucesso deles”, comenta Carol. No entanto, “o público mais fiel dos brechós não é aquele que se preocupa em seguir tendências”.

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