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O mundo é delas: conheça a jornada de um casal viajante ao redor do globo

Camila Fonseca e Jessyka Moura rodam o planeta e escrevem a sua trajetória com a única coisa que realmente nos pertence: o presente

Por Kalel Adolfo
26 out 2024, 08h00
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  • Imagine passar anos de sua vida viajando pelo mundo. Parece algo destinado apenas a herdeiros, certo? Porém, um casal de mulheres brasileiras está contrariando essa lógica.

    Desde agosto de 2023, a fotógrafa Jessyka Moura e a dentista Camila Fonseca, nascidas em Fortaleza, vêm mostrando para a internet, dia após dia, que não é necessário possuir rios de dinheiro para colocar o plano em andamento. 

    A forte conexão entre as duas, responsável por fazê-las embarcar nessa ambiciosa empreitada, nasceu em 2022, ano em que se conheceram por meio de amigos em comum. “Quando fomos apresentadas, namorávamos outras pessoas. Viramos amigas, mas era apenas aquela ‘amizade de rolê’. A coincidência, no entanto, foi terminarmos os nossos relacionamentos na mesma época”, conta Camila.

    Com os caminhos livres no âmbito amoroso, um romance passou a colorir a dinâmica das jovens. “Certo dia, quando já estávamos ficando, comentei que morei nos Estados Unidos trabalhando como babá, em 2017. Ela logo me respondeu: ‘Sempre tive essa vontade de morar fora, mas nunca senti coragem’”, compartilha Jessyka. 

    O mundo é delas: conheça a jornada de um casal viajante ao redor do globo
    Camila (à esquerda) e Jessyka (direita) (Acervo pessoal / Mika Namba/CLAUDIA)

    Disposta a dar um empurrãozinho para Camila, a fotógrafa convidou a dentista para acompanhá-la em um mochilão pela Europa, começando pela Alemanha. “Eu já tinha marcado essa viagem há tempos e, inclusive, estava triste por ter que sair do país pouco tempo após conhecê-la”, afirma. Camila, em um primeiro momento, ficou relutante.

    Porém, quando Jessyka encontrou uma passagem de ida e volta a um preço acessível, a decisão se tornou óbvia: “Parcelei o valor em 12 vezes e fui com a cara e a coragem. Tudo coincidiu a nosso favor, pois eu estava prestes a me formar em julho, e a viagem aconteceria alguns dias depois”, lembra Camila.

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    Dessa sucessão de eventos, nasceu o primeiro mochilão da dupla, que passou por países como Itália, Holanda, República Tcheca, Polônia e Hungria. Jessyka não tinha data para voltar e planejava estender o mochilão por prazo indeterminado. Mas esse não era o caso de Camila.

    O mundo é delas: conheça a jornada de um casal viajante ao redor do globo
    Casal durante parada em um carro com acomodações para viagem (Acervo pessoal/CLAUDIA)

    Além da família e de seus cachorros, a dentista tinha uma porção de questões pendentes no Brasil que não poderia abandonar — sem contar a limitação financeira para continuar bancando a jornada. Assim, a dupla precisou dar adeus à história que estavam vivendo juntas. “Se despedir no aeroporto foi horrível porque não tínhamos uma perspectiva de quando nos veríamos novamente”, conta a fotógrafa. 

    Semanas e meses se passaram e a conexão entre Camila e Jessyka foi esfriando, ao ponto que a possibilidade de uma trajetória juntas foi se perdendo entre os acontecimentos da rotina.

    “O meu objetivo era que viajássemos até chegar à Nova Zelândia. Ficaríamos lá por um ano utilizando o Working Holiday Visa, um visto concedido uma vez ao ano para brasileiros que desejam ficar no país por um período de 12 meses. Porém, quando tentamos conseguir a autorização, apenas eu fui aprovada. As esperanças realmente haviam morrido’”, declara Jessyka. 

    Uma nova chance de viajar

    Era final de dezembro, próximo ao Natal, quando a sorte mudou para Jessyka. Isso porque, surpreendentemente, ela conseguiu um emprego como assistente virtual para um cliente britânico que possuía empresas nos Estados Unidos, Panamá e Brasil.

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    “Minhas funções eram basicamente traduzir documentos do inglês para o português, e administrar a agenda dele, mandando e-mails e marcando reuniões”, conta. O diferencial? Agora, Jessyka estava ganhando em dólares.

    “Por ser uma vaga remota, eu pensei: ‘Cara, eu vou voltar para o Brasil, e irei mostrar à Camila que os nossos planos de viajar o mundo juntas podem sim dar certo’”, compartilha. 

    Para dar um toque a mais de dramaticidade à situação, a fotógrafa não avisou a dentista sobre o seu retorno. Uma vez em Recife, no início de 2023, Jessyka bateu na porta de Camila que, ao abrir, reagiu com um grande susto: “Eu fiquei branca”, relembra, aos risos.

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    “Eu a pedi em namoro e, depois, sugeri que saíssemos do Brasil novamente na metade do ano”, conta Jessyca (Acervo pessoal / Mika Namba/CLAUDIA)

    A partir daí, o casal se reaproximou, e, rapidamente, recuperou os planos conjuntos. “Eu a pedi em namoro e, depois, sugeri que saíssemos do Brasil novamente na metade do ano”, afirma Jessyka. 

    E assim aconteceu: em agosto, após Camila juntar mais algumas economias, ambas retomaram o sonho de viajar pelo mundo, começando por Malta, uma pequena ilha no Mediterrâneo. “O processo do visto neozelandês seria reaberto em outubro e até lá optamos por sair por aí com as malas nas costas até saber se daria certo”, conta. 

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    Caçadoras de auroras

    De Malta, o casal seguiu para a Grécia, e depois para Croácia, Montenegro e Ibiza. De lá, foram para a Suíça, país em que descobriram uma forma de economizar com as hospedagens futuras.

    “Há uma plataforma chamada TrustedHouse Sitters, em que conseguimos moradia gratuita nos países, em troca de cuidar de animais. As pessoas nos hospedam, e nós cuidamos de seus pets”, conta Camila. Todas essas experiências, inclusive, são compartilhadas pela dupla através do Instagram ‘Por Aqui Por Agora’

    Após uma rápida passagem pela Alemanha, decidiram realizar um antigo sonho: ver a aurora boreal. “Em setembro de 2023, fomos à Noruega e, chegando lá, descobrimos que as condições climáticas não estavam ideais. Então, partimos para a Suécia e a Finlândia e, acredite se quiser: conseguimos ver o fenômeno nos dois locais”, afirma Jessyka, animada.

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    “No dia que veríamos a aurora, compramos uma pizza, uma garrafa de vinho e curtimos o momento juntas. Foi mágico”, diz Camila. (Acervo pessoal/CLAUDIA)

    Ela conta que a experiência foi extremamente divertida, com as duas, acompanhadas de algumas amigas, caçando a aurora em um motorhome, acessando grupos de Facebook especializados no assunto a fim de descobrir as regiões corretas para a observação.

    “No dia que veríamos a aurora, compramos uma pizza, uma garrafa de vinho e curtimos o momento juntas. Foi mágico”, diz Camila. A última parada da dupla na Europa foi em Londres, Inglaterra. 

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    Experiência de quase morte 

    Já a caminho da Nova Zelândia, o casal fez uma longa parada na Índia, onde permaneceu por um mês. “Foi um choque de realidade, especialmente por sermos duas mulheres lésbicas. Até 2018, ser LGBT era crime por lá. Então, não víamos ninguém de mãos dadas, e não podíamos demonstrar nenhum tipo de afeto”, declara Jessyka.

    No entanto, apesar de experimentarem o peso do retrocesso no país, foi lá que receberam a notícia que tanto almejavam: a aprovação do visto neozelandês de Camila. Jessyka explica que, assim que o documento é concedido, há um prazo de um ano para entrar no país. O visto da fotógrafa foi aprovado em outubro de 2022, porém, só foi enviado em janeiro de 2023.

    “Sendo assim, eu tinha até janeiro de 2024 para ingressar na Nova Zelândia”, afirma Jessyka. 

    Mas, claro: nem tudo são flores. Antes de desembarcarem no país da Oceania, o casal passou por um baita susto. “O nosso último destino antes da Nova Zelândia foi o Vietnã. Porém, em poucos dias de chegada, contraí dengue”, revela Jessyka.

    Camila conta que a parceira ficou internada por quase uma semana, com o agravante de nenhum dos funcionários saber falar inglês, já que estavam em uma cidade muito pequena. Consequentemente, toda a comunicação com a equipe médica era feita através do Google Tradutor.

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    “O principal tratamento para dengue, especialmente em quadros graves, é a hidratação. Tomar soro na veia, inclusive, é primordial. Mas, para eles, o soro é considerado um remédio, e por isso, só permitiam que eu tomasse uma vez ao dia”, conta a fotógrafa.

    Com isso, as plaquetas de Jessyka foram caindo drasticamente, chegando ao patamar de 30 mil/mm (o número ideal está entre 150 e 350 mil/mm para adultos). O desespero apenas aumentava quando, para tornar a situação ainda mais assustadora, a parceira de Camila acordou com um sangramento excessivo nas gengivas (sinal de agravamento da doença).

    “Eu entrei em pânico achando que ela iria morrer. Passei a ligar para todos os médicos que conhecia no Brasil. Por sorte, após a hidratarmos intensamente, ela começou a apresentar sinais de melhora”, diz a dentista. Passado o episódio angustiante, ambas puderam (finalmente) partir em direção à Nova Zelândia. 

    Por Aqui, Por Agora 

    Assim que chegaram, Jessyka precisou, relutantemente, abrir mão de seu emprego remoto como assistente virtual. A dupla agora se desdobra entre um bico e outro a fim de conseguir se manter financeiramente no país.

    “Foi aqui que montamos a nossa campervan do zero. Juntamos dinheiro para comprar um carro. Depois, uma amiga nossa, que é arquiteta, nos ajudou a compreender como medir os espaços. Por fim, conhecemos um indiano que, por um preço acessível, nos auxiliou com a montagem”, afirma a fotógrafa.

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    “Quando não vemos outras pessoas fazendo isso, achamos que não é possível. Porém, é possível sim. O mundo é muito grande, e tem espaço para todos” (Acervo pessoal/CLAUDIA)

    Atualmente, as jovens alternam entre morar no veículo e residir em hospedagens concedidas pelos anfitriões do TrustedHouse Sitters. E o que virá a seguir? Segundo ambas, nem elas sabem.

    “O nosso visto vence em dezembro. Temos vontade de partir para a Austrália, mas nada está certo. Escolhemos o nome de nosso Instagram, Por Aqui, Por Agora, justamente por isso. Tudo pode mudar, e estamos vivendo apenas o agora”, declara Camila.

    O único plano, de acordo com as brasileiras, é mostrar para mulheres, especialmente da comunidade LGBTQIA+, que é possível ter espaço no mundo: “Quando não vemos outras pessoas fazendo isso, achamos que não é possível. Porém, é possível sim. O mundo é muito grande, e tem espaço para todos”, diz Jessyka. 

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