Reflexo da alma: por dentro do apê urban jungle de Pan Alves
Tons outonais, muitas plantas e cantinhos que contam história formam o apartamento cheio de afeto da fotógrafa Pan Alves e do editor de vídeos João Paulo
O que transforma uma casa em um lar? Quando mudou-se para seu apartamento no Campos Elíseos, bairro na região central de São Paulo, Pan Alves encontrou paredes vazias e a possibilidade de erguer seu refúgio. Aos poucos, foi inserindo um vaso aqui, um quadrinho ali… Até construir um espaço acolhedor, que abraça qualquer um que visita.
“Como eu fico muito em casa, minha prioridade era ter um lugar onde me sinto bem, que fosse iluminado, tivesse pé-direito alto para não dar aquela sensação de sufocamento, piso de madeira e cozinha americana. Nunca achei que iria encontrar um com todos esses elementos. Ao me deparar com esse que, além de tudo, vinha com uma sacada, quis me mudar na hora!”, relembra, animada.
“Comecei colocando uma cor na parede e as plantinhas. Aliás, minha mãe fica enlouquecida quando vem aqui e vê outro vaso novo. Eu digo que sempre cabe mais.” Pan refere-se às mais de 30 plantas que hoje dividem o apartamento com ela, João Paulo, seu namorado, e Amora, uma shih tzu caramelo.
“A casa reflete seu momento: decorar é respeitar o que você está sentindo e o que é bom para você agora”
A fotógrafa de 35 anos sempre foi apaixonada por decoração. Até mesmo antes de morar sozinha, ainda na casa dos pais, já tinha o hábito de adquirir objetos, ansiosa pelo dia em que teria seu próprio espaço para aprimorar. “Decoração é algo difícil. Hoje, existem muitas referências disponíveis, por isso não parava de adquirir coisas aleatoriamente. Quando me mudei para cá, trouxe tudo, mas algumas compras já não faziam sentido. Tive que ir eliminando objetos ao longo do tempo”, relata.
A neutralidade e sofisticação do minimalismo, por exemplo, são características que a agradam esteticamente, mas não para aderir para si, pelo menos por enquanto. “Gosto do conforto de ter um monte de plantas, dos meus macramês pendurados nas paredes, mas pode ser que isso mude daqui a um tempo. A casa reflete seu momento: decorar é respeitar o que você está sentindo e o que é bom para você agora”, define a paulistana.
Após anos dividindo o espaço com amigos, quem agora compartilha com ela as gavetas do guarda-roupa é João Paulo. O casal se conheceu há um ano em um aplicativo de relacionamento, quando, durante a pandemia, encontraram um no outro uma forma de enfrentar a solidão do isolamento, mesmo que de forma virtual.
“O papo era muito bom, mas quando descobri que ele morava em Santa Catarina, foi um balde de água fria. Eu nem sabia que era possível dar match com alguém de longe! Mas nos demos tão bem que continuamos nos falando. Afinal, estávamos presos em casa, por que não conversar?” A intensidade da troca perdurou por oito meses até a relação virtual migrar para um namoro à distância.
“Ficamos um bom tempo com ele viajando para cá uma vez por mês, mas estava muito difícil ficar longe um do outro, os dias passavam muito devagar. Então ele veio de forma definitiva e começamos a namorar imediatamente. Tem sido ótimo, temos jeitos e gostos parecidos, e amamos a nossa casinha.” Recentemente, eles repaginaram juntos o home office da casa, já que o trabalho remoto tornou-se cada vez mais rotineiro para ambos – ele é editor de vídeos.
Por meio da combinação de plantas e tons terrosos, a casa foi tomando forma. Tudo de um jeito orgânico, sem muito planejamento, apenas seguindo a intuição da moradora e sua paixão por detalhes e uma paleta outonal. “Fiz uma consultoria de coloração pessoal e descobri que os tons que já uso são as cores que me favorecem. Fui acertando sem querer e não precisei mudar nada no meu armário. Mas, se por acaso descobrisse que minha paleta é formada por outras cores, iria simplesmente ignorar, porque são essas as que me trazem conforto”, conta a fotógrafa com um sorriso largo. “É engraçado que as pessoas que moraram comigo sempre disseram se sentir muito acolhidas nesses ambientes.”
Pamela se considera desapegada e gosta de fazer suas roupas e objetos decorativos circularem, mas é claro que rola um carinho com alguns elementos especiais. “Se algo está aqui, mas não faz mais sentido para mim, prefiro que vá para a casa de outra pessoa, já que pode fazer sentido para ela”, explica. Além de mostrar detalhes do seu apartamento no @nesse_ap, ela tem também um perfil para compartilhar seu “bazar” de roupas, o @desapegospanalves.
“Gosto de apoiar o comércio local, meu maior prazer é trabalhar com marcas pequenas e incentivá-las de alguma forma”
Xodó da fotógrafa, a escrivaninha do quarto (na página anterior) foi deixada pela antiga moradora e Pan já planeja levar para onde for – uma de suas vontades é um dia mudar-se para Salvador, cidade natal de seus pais. A peça de madeira veio de um antiquário e foi repaginada por ela, que trocou os puxadores por outros de estilo vintage, adquiridos em uma viagem a Buenos Aires. Outro apego é o quadro de madeira pendurado na sala, confeccionado pela artista Sara Luana Blatt (@luhannawoodart). A peça (veja na página seguinte) é feita de madeira de reflorestamento e suas partes são encaixadas à mão, uma por uma. “Ele pode ser usado de várias formas, até como cabeceira. Gosto de itens versáteis, seja no vestuário ou no mobiliário, porque a vida útil deles é mais longa.”
Na ativa como fotógrafa há quase 14 anos, Pan tem como predileção o trabalho feito com pequenos empreendedores. Durante a pandemia, a profissional precisou se reinventar e passou a fazer todos os processos do trabalho. “Alguns clientes enviavam as peças aqui para casa e eu fazia de tudo, desde passar a roupa até ser modelo: o autorretrato era a única forma de continuar trabalhando.” A relação com as proprietárias dessas pequenas marcas é tão estreita que muitas transformaram-se em amigas, presentes em detalhes espalhados pela casa, a exemplo do vaso ondulado na mesa de jantar, confeccionado pela É Pedra Ateliê (@epedraatelie), feito em impressão 3D.
Caseiros, o programa preferido de ambos tem sido o combo filme e pipoca no sofá, sempre acompanhado de Amora, é claro. “O que eu mais amo nessa casa é que me sinto bem em qualquer cômodo. Quando dividia um outro apartamento com amigos, tinha essa sensação apenas no meu quarto, o que era muito ruim. Aqui, sou inteira em todos os espaços”, reflete. E com um refúgio como esse para chamar de lar, o desafio é mesmo querer sair da porta para fora.