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Quarentena vira terreno fértil para piadas machistas sobre casamento

Associação negativa do comportamento feminino ao matromônio é violência simbólica, alerta especialista

Por Gabriela Maraccini Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 28 jun 2020, 19h26 - Publicado em 28 jun 2020, 09h32

Durante toda a vida somos acostumadas a ouvir que, para a mulher, o casamento é algo que legitima seu valor diante da sociedade, enquanto que, para o homem, é algo que o prende. Esse pensamento machista está enraizado em nossa cultura e é reforçado por meio de piadas sobre casamento e divórcio.

Em uma rápida passagem pelas redes sociais, é possível observar piadas e “memes” que inferiorizam ou demonizam a mulher no casamento. E, se antes já era comum, a quarentena e o isolamento social, que confinou casais juntos em casa como medida de contenção do novo coronavírus, potencializou essa fatia do “humor”.

(Redes sociais/Reprodução)

“É um conteúdo reforça estereótipos de que a mulher não é inteligente, de que o casamento é uma prisão para homem, de que a mulher é alguém que está sempre cobrando, que é chata”, opina a promotora de justiça Valéria Scarance. “Os estereótipos correspondem ao que chamamos de violência simbólica, ou seja, aquela violência em que se repetem ensinamentos e padrões que, em regra, importam em uma subordinação da mulher e em ensinamentos de que o homem é superior”, completa.

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Entra para a equação, conferindo contornos ainda mais dramáticos a ela, o fato de que o número de vítimas de violência doméstica aumentou consideravelmente no mesmo período. Segundo dados divulgados pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, os casos de feminicídio aumentaram 41,4% no estado de São Paulo nos meses de março e abril de 2020, comparados com o mesmo período do ano passado. Além disso, segundo o Ministério Público de São Paulo, as medidas protetivas emergenciais aumentaram 30% e as prisões em flagrante por violência contra a mulher cresceram em 54%.

Não significa que quem faz ou compartilha esse tipo de conteúdo é um ou um marido violento em potencial, mas reforça pensamentos opressores que já existem. “Essas piadas reafirmam a ideia de que a mulher é uma pessoa que provoca o homem, ou de uma mulher louca e insuportável de se conviver. Ou seja, essas piadas legitimam as explosões dos homens como se essa conduta fosse justificada pelo modo de ser da parceira”, pondera Valéria. “Piadas são ensinamentos silenciosos disfarçados de brincadeiras. Não tem graça uma piada machista, racista, discriminatória, porque traz uma mensagem que torna legítima a violência”, completa.

A cultura do memes é reflexo da mentalidade da população

Para Ivana Bentes, professora da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro e pesquisadora de memes políticos, há memes que reforçam os valores de um grupo de pertencimento, ou seja, parcelas da sociedade que sempre foram vistas de forma privilegiada.

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Por exemplo, piadas sobre engordar na quarentena reproduzem gordofobia e discriminam pessoas gordas apenas por possuírem um corpo fora de um padrão estético, como apontado por CLAUDIA. O mesmo acontece com o conteúdo sobre o comportamento feminino em uma relação amorosa. Nos dois casos, as críticas vêm maquiadas de humor e são aceitas sem contestações. “Essa afirmação constante, partindo desse comportamento machista, é retroalimentado pela sociabilidade, pelo grupo ao qual você pertence. Ou seja, enquanto ela não for considerada algo que incomoda, enquanto homens e mulheres aceitarem essas piadas e se calarem diante disso, elas se tornarão um hábito”, explica Ivana.

Segundo ela, o meme acompanha a mentalidade de uma sociedade. Por isso, a tendência, com o surgimento de movimentos e coletivos feministas nas redes sociais, é que, cada vez mais, esse tipo de piada seja considerada incabível. “Se a sociedade muda, cria-se um novo patamar em relação ao que é tolerável socialmente e, sem dúvidas, esses memes vão mudar, se atualizar.” Para tanto, a postura de questionamento é fundamental, ainda que na comunicação informal das redes sociais. “Se eles são uma construção, então não temos que mudar os memes, mas toda sociedade”, finaliza.

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