“Meu ex-marido fazia minha filha pequena ver pornô e copiar as cenas”
A leitora Andressa* vive com a culpa de não ter conseguido denunciar o ex-marido. Ela afirma não ter rede de apoio e nem dinheiro para se sustentar sozinha
“Fiquei viúva em 2008, quando tinha apenas 25 anos. Meu marido infartou nos meus braços. Morávamos em uma cidade de interior e eu me vi com duas crianças pequenas. Não tinha como seguir na roça com elas, então me mudei para uma cidade próxima. Alguns meses depois eu fui apresentada a um rapaz por uma amiga em comum. Ele era mais novo do que eu e, no começo, não dei muita bola. Mas, depois de alguma insistência, saí com ele.
Nos dávamos bem e ele me ajudava muito em casa. Depois de um tempo, não deixou mais eu trabalhar, falava que era pra eu cuidar dos meus filhos e da casa. Após alguns meses, nos mudamos par a capital. As crianças foram crescendo ele começou a me cobrar um filho. Enrolei o quanto pude, uns dois anos.
Tivemos uma menina e ele nunca deixou faltar nada para mim e para as crianças. Quando estávamos há quatro anos juntos, ele ficou desempregado e nos mudamos para o interior novamente. Achei que logo ele arrumaria um trabalho, mas passou tempo e nada. Eu arrumei um emprego para sustentar a casa. Passava o dia fora. Um dia, notei que a região íntima da minha filha de 6 anos estava muito assada. Achei que ela não estava tomando banho direito ou não estava sabendo se secar. Passei pomada e ela não reclamou de mais nada.
Após um ano, voltamos para a capital. Ele arrumou outro emprego e eu ficava com as crianças. Levava na escola, na creche, buscava. Ainda estava um pouco gordinha da última gravidez. Quando já estávamos há sete anos juntos ele começou a me maltratar com palavras e me humilhar. Dizia que ninguém ia querer uma mulher gorda com três filhos. E assim seguiam as humilhações. Ele não me dava roupa, mas sempre deu tudo para as crianças. Meus passeios eram a escola das crianças e o supermercado.
Eu comecei a entrar em jogo online e acabei conhecendo uma pessoa que me fez levantar a cabeça. Com isso, me separei. Nessa época, achei um bilhete nas coisas da minha filha de 7 anos. Tinha a ver com um namoradinho. Apertei ela e ela me contou que enquanto eu trabalhava meu marido dava comida com sonífero para as crianças. Quando elas dormiam, ele abusava da do meio. Ele assistia filmes pornográficos com ela e depois repetia as cenas nela. Aí batia para ela ficar calada. E ainda dizia que ia me matar e matar os irmãos dela se ela contasse alguma coisa.
Desesperada, liguei no conselho tutelar. Eles marcaram de eu ir lá dias depois. Não tomaram nenhuma atitude antes disso. Quando fui, me crucificaram por deixar meus filhos sozinha em casa e ir trabalhar. Nunca mais falei nada com ninguém. Eu mudei de casa e crio meus filhos sozinha. Meu ex tem medo que eu o denuncie, mas minha filha não quer ia na delegacia relatar o ocorrido. Eu tenho medo de perder a guarda dos meus filhos, então também não faço mais nada. E assim vamos vivendo. A caçula ainda passa férias na casa do pai e eu morro de medo, é algo muito difícil.
Hoje minha filha tem 14 anos e não leva uma vida normal por causa desses traumas. As marcas seguem conosco, mas não sei o que fazer. Eu me sinto culpada e com medo. Normalmente nesses casos a mídia cai em cima da mulher, como se ela fosse a culpada. Só que somos ameaçadas. Eu mesma nunca falei nada porque não tenho onde me apoiar e a pensão que ele envia faria muita falta. Também sinto medo porque a companheira atual dele também teve uma menina com ele e eu temo pelo que pode acontecer a ela.”
A partir de agora, CLAUDIA mantém esse canal aberto e oferece acolhimento para quem quiser libertar as palavras e as dores que elas carregam. Fale com CLAUDIA em falecomclaudia@abril.com.br.
*Nome trocado a pedido da personagem