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“Meu padrasto abusou de mim e da minha irmã. Minha mãe o aceitou de volta”

A leitora Suzana* não queria que a irmã passasse pelo mesmo sofrimento que ela, mas se surpreendeu ao buscar ajuda e não conseguir apoio

Por Da Redação
Atualizado em 7 set 2020, 10h21 - Publicado em 7 set 2020, 09h00

“Primeiramente, gostaria de agradecer por disponibilizar este canal para que vítimas de abuso possam desabafar. Faz muita diferença.

Eu não sei ao certo quando começou, mas quando eu tinha 8 anos era bem frequente. É provável que tenha começado antes, mas não consigo me lembrar de coisas dos meus 5 aos 7 anos. Fui abusada diversas vezes por meu padrasto. Ele abusava de mim quando minha mãe saía para trabalhar e também quando todos estavam dormindo.

Eu sentia muita vontade de vomitar. Ele esfregava o pênis nas minhas costas ou fazia sexo oral em mim. Às vezes, quando eu lembro, eu sinto o mesmo nojo, a mesma raiva e tristeza de antes. Uma noite minha mãe acordou e o viu em pé na porta do quarto e desconfiou, fez algumas perguntas, ele negou e o assunto morreu. Mas a desconfiança se instalou ou talvez a certeza. Com o passar do tempo, quando eu tinha 10 ou 11 anos me tornei extremamente agressiva e quieta. Dormia com uma faca debaixo do travesseiro, pois estava disposta a matá-lo. Ele percebeu que não podia mais se aproximar e ficava me espionando.

Não aguentava mais a cegueira de minha mãe. Ela teve outros três filhos com ele (duas meninas e um menino). Depois de um tempo, ouvi minha irmã, que na época tinha 15 anos, chorando. Nós dormíamos juntas. Eu tinha 18 anos. Perguntei o que estava acontecendo e ela me disse que o monstro entrou no quarto na ponta do pé e estava passando a mão no corpo dela. Fiquei enfurecida com aquilo, pois não queria outra vítima naquela casa.

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Fui acordar a minha mãe para expor a situação e exigir a saída dele de casa. O safado teve a cara de pau de sugerir que ela nos levasse ao médico para fazer os exames, pois sabia que não havia ocorrido penetração. Ele sempre foi muito ardiloso. Mesmo assim, exigimos sua saída de casa e ele teve medo de uma denúncia, então foi para a casa do irmão dele, que era na mesma rua. Pensamos que a partir dali começaríamos uma nova vida, mas não foi o que aconteceu. Minha mãe mudou, ficou agressiva, nos humilhava e ameaçava o tempo todo. Ela se tornou nossa inimiga e nós sabíamos que era porque sentia falta dele. Isso machucava demais, pois aquele homem é a personificação de tudo que não presta. Eu me perguntava como ela podia gostar de alguém que fez mal às suas filhas e até mesmo a ela durante brigas. Um homem que usava drogas, que tinha sido preso em várias ocasiões, mentiroso, que nos deixou passar fome muitas vezes quando ela não trabalhava.

Nesse período, durante uma briga, minha irmã chegou ao limite e resolveu ir morar com uma amiga. Todos os maus tratos passaram a ser dirigidos somente a mim. Foi horrível, pois não aguentava tanta humilhação. Tive vontade de me matar muitas vezes, pois minha mãe que deveria ter zelado por mim se tornou uma inimiga e não escondia que também queria que eu fosse embora para que ele pudesse voltar.

Um dia, eu estava sentada e ela se aproximou pra perguntar alguma coisa e eu estava em lágrimas. Resolvi falar tudo que ele havia feito pra refrescar sua mente ou na esperança de que para ela fosse algo novo, que não soubesse. Na verdade, eu estava me enganando, pois não queria aceitar sua postura e naquele dia levei o golpe de misericórdia. Ela falou na minha cara que ele era bom para ela, que a ajudava, que gostava dele e eu, como católica, não deveria desejar o mal aos outros. Eu fiquei enjoada e percebi que eu não tinha mãe.

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Hoje tenho 37 anos e moro sozinha. Eu e minha mãe moramos na mesma cidade, mas não temos contato. Não me casei, não tive filhos, vivo sozinha e cheia de amargura. O abusado se sente sujo e culpado, sem valor, com a autoestima lá embaixo. Muitas vezes rezei pra que ela mudasse de postura, mas não aconteceu. Na época, cheguei a contar o que estava acontecendo para pessoas próximas dos dois, o que foi um erro, pois ninguém ofereceu ajuda para aquela criança/adolescente que precisava tanto de apoio e justiça. Muitas pessoas, principalmente familiares, muitas vezes tomam ciência do que está acontecendo, mas preferem esconder, se fazer de desentendidos. Isso é tão absurdo e injusto quanto o que o abusador faz. Eu tenho mais raiva da minha mãe do que dele, pois ela é meu sangue e o preferiu. Eles continuam vivendo juntos.”

A partir de agora, CLAUDIA mantém esse canal aberto e oferece acolhimento para quem quiser libertar as palavras e as dores que elas carregam. Fale com CLAUDIA em falecomclaudia@abril.com.br.

*Nome trocado a pedido da personagem

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