Eriberto Leão se compara a seu personagem na novela “Paraíso”
O ator vive Zé Eleutério, um peão doutor da nova trama das 6

Eriberto Leão comemora papel de
protagonista na trama das 6
Foto: Renato Rocha Miranda
Esta é a hora de Eriberto Leão. O ator, de 36 anos, estreia no papel de protagonista, como o Zé Eleutério de Paraíso. Também prepara um documentário, Os Brasileiros, sobre os Yanomamis, para lançar no final do ano. Dois assuntos que são, no momento, os objetos da paixão do gato. E não é apenas pelo provável sucesso que as produções podem alcançar. A felicidade diz respeito a algo mais inusitado: a chance de falar sobre o interior e, consequentemente, sobre o homem simples.
A conclusão do parágrafo acima soa como um papo-cabeça? Se sim, o alvo foi acertado. Eriberto é afeito a respostas longas, cheias de divagações e intenções nobres. O ator se esforça para passar longe da superficialidade tão em voga nesses tempos de celebridade instantânea. Para ele, Paraíso não é apenas o remake de um grande sucesso (a primeira versão foi exibida em 1982), com a missão de recuperar o horário das 6 da Globo, depois do fracasso de Negócio da China.
Não, é muito mais que isso. Essa é uma novela para a gente usar a nosso favor. O que queremos para nossos filhos? É dizer, no futuro, que perdemos grandes pedaços de terra para os outros? E que não fizemos nada, que estávamos cegos?, indaga, com esperança de que o quadro sombrio se reverta. Que Paraíso faça com que a gente enxergue o nosso tesouro, que é o interior, torce. Se depender de Eriberto, a difícil missão será cumprida.
Além de afirmar que tem uma relação verdadeira com o interior, o ator observou com atenção a população e os peões das regiões onde gravou, como Mato Grosso e Minas; e Miguel Pereira e Conservatória (as duas últimas no Rio), além de ter aprendido a tocar berrante. Aliás, o instrumento também levou o ator a reflexões profundas. Quando eu tive minha primeira aula, o professor me perguntou: O que é o som do berrante? Eu: É o som do boi. Mas não é, conta. E, em seguida, explica aos desavisados, repetindo o que ouviu do mestre berranteiro: É o som da terra. Vem lá de baixo, sobe, sai pela sua boca e o animal (boi) reconhece o som da mãe dele, que é a terra, diz, aproveitando para ir mais longe. E a Nossa Senhora, a grande mãe, quem é? É a terra, esse feminino.
O BEM E O MAL
A comparação entre Nossa Senhora, a terra e o berrante já mostra o quanto Eriberto está envolvido com a história de seu personagem um peão que todos acreditam ser filho do diabo e sua paixão por Maria Rita (Nathalia Dill), vista como santa na região. Zeca é cavalo selvagem, assim como eu, que não serei domado nunca. Sempre vou questionar, procurar a vervidadade no meu coração e no coração dos meus irmãos, explica. Apesar do tom pacificador, Eriberto, assim como Zeca, tem um olhar benevolente para a figura temida do diabo, a quem chama de Deus também. Eles são um só. É o mesmo lado, afirma. Antes que a declaração soe polêmica, o galã mesmo se apressa em explicar: O mal não é essa energia que chamam de diabo. O demônio é energia telúrica, da terra… É a paixão, o desejo. Agora, quando essa energia domina… É o mal.
UMA HISTÓRIA DE AMOR
A despeito de qualquer avaliação (profunda ou não), o fato é que Paraíso, antes de tudo, é uma história de amor. E com a missão de recuperar o bom ibope das 18 horas. Quanto à audiência… Não me preocupo com isso, diz Eriberto, categórico. Embora reconheça que é muito difícil fazer sucesso com uma história que fale de amor. Mesmo assim, ele aposta no fôlego de Zeca e Santinha. Para funcionar como um amor verdadeiro, deve ser de uma poesia, de uma beleza… Benedito Ruy Barbosa é o mestre dos mestres, o último dos moicanos, avalia. Quando questionado mais sobre a trama, Eriberto apela para uma fala de seu personagem. Eleutério diz: Eu vejo Deus na flor e na abelha, que suga o néctar da flor. Vejo Deus no pássaro que devora a abelha. Vejo Deus no homem que devora o pássaro. Consigo ver Deus até no verme que devora o homem. Eu só não consigo ver Deus no homem que devora o homem. Então, o que mais eu posso falar?, pergunta. E a gente responde: Mais nada, Eriberto. Está mais do que bom!