Val Benvindo, herdeira do Ilê Aiyê e abridora de caminhos
Jornalista, produtora e criadora do festival Humor Negro, jovem baiana potencializa a cultura afro-brasileira com seu trabalho
Ela decidiu cursar jornalismo aos 11 anos, quando assistiu Zileide Silva, preta como ela, sendo correspondente da Globo em Nova York. A menina que cresceu subindo e descendo a ladeira do Curuzu, em Salvador, realizou esse desejo. E tantos outros. Neta de Hilda Jitolu, fundadora do terreiro onde nasceu o Ilê Aiyê, o “mais belo dos belos” blocos afros da capital baiana, Val Benvindo aprendeu ali o seu outro ofício, o de produtora cultural. “Desde muito nova, sempre nos bastidores, fui aprendendo os processos e me encantando. Em outros ambientes, via que se mostrava a cultura negra, mas quem produzia eram brancos. Entendi, então, que era necessário que estivéssemos por trás das coisas, pensando, fazendo, construindo junto. Isso é tão importante quanto estar na frente das câmeras”, conta a também criadora de conteúdo digital, aos 32 anos.
Foi dessa percepção que surgiu, em 2019, o festival Humor Negro. O especial de comédia com humoristas, direção, roteiro, figurino e maquiagem feito por pessoas pretas chegou ao Multishow no final de 2022. “É um projeto que saiu da minha cabeça, que não é sobre mim, mas sobre uma cena potente que merece ser mais vista.” Val é filha de Xangô e, como diz ela, gosta de aparecer (com o pé no chão). Se a escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie fala sobre o risco de uma história única, Val não quer ser preta única nos lugares. A também apresentadora do Band Mulher sabe que incentiva meninas e jovens ao representar uma oportunidade delas olharem para a televisão e enxergarem a si mesmas.
“Eu não estou inventando a roda. Antes de mim, vieram muitas. E eu sou ancestral de alguém que ainda nem nasceu.” O que ela quer é potencializar outras como ela, fazer a economia e o dinheiro girar na mão dos seus. “Como jornalista, produtora, criadora de conteúdo, quero ser inspiração, ajudar a aumentar a autoestima das pessoas pretas.” Seus orixás abrem os caminhos.