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Sophie Charlotte: “Somos poderosas, mas ainda lutamos pelo básico”

Com uma coleção de personagens marcantes, a atriz usa seu ofício para questionar desigualdades de gênero e criar conexões culturais entre o Brasil e o exterior

Por Beatriz Lourenço
12 Maio 2025, 10h00
Sophie Charlotte usa seu ofício para questionar desigualdades de gênero e também criar conexões culturais entre o Brasil e o exterior
Sophie Charlotte usa seu ofício para questionar desigualdades de gênero e também criar conexões culturais entre o Brasil e o exterior (Bob Wolfenson/Divulgação)
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Na infância de Sophie Charlotte, o Brasil era um sonho distante. Um lugar fantástico, cheio de primos, calor e memórias afetivas — um espaço encantado em que passava as férias antes de voltar para casa. Filha do cabeleireiro paraense José Mário da Silva e da bióloga alemã Renate Elisabeth Charlotte Wolf, a menina nasceu em Hamburgo, foi alfabetizada em alemão e cresceu imersa no balé clássico.

Aos 8 anos, seu avô materno quis morar em um lugar de clima tropical e se deparou com uma reportagem sobre o país do genro. De um dia para o outro, a família toda (toda mesmo: avós, pais, irmãos) resolveu encaixotar a vida em um contêiner e atravessou o Atlântico, rumo a Niterói.

“Foi um choque. Precisei aprender a ler e a escrever de novo com uma professora particular para não repetir de ano. Mas tudo o que perdi lá, ganhei em muitos outros sentidos aqui”, lembra. “Minha cultura é uma mistura até hoje: na Páscoa, o almoço teve bacalhau e o prato do jantar foi salada de batatas e chucrute.” 

No longa-metragem Virgínia e Adelaide, que acaba de estrear nos cinemas, a atriz resgata essas referências para viver a psicanalista alemã Adelaide Koch. Judia, Adelaide fugiu da perseguição nazista, chegou aqui em 1937 e tornou-se a primeira mulher a exercer a profissão na América Latina. A interpretação é marcada pelo sotaque forte, um sorriso contido e uma vida cheia de dor e luta.

“A produção homenageia minha linhagem, principalmente a minha avó. Eu trouxe alguns objetos dela para as cenas, como o colarzinho, o brinquinho e até mesmo o esmalte que ela usava”, conta. “Pude desaguar um pouco a convivência e a minha ligação com o idioma — algo que nunca pensei que aconteceria.”

“Meu objetivo é ser levada a sério pelo comprometimento, seriedade e postura. Minha credibilidade é muito cara nesse sentido” (Bob Wolfenson/Divulgação)

A experiência de mostrar as raízes nas telas, porém, não é nova para Sophie. Na minissérie Passaporte para Liberdade, disponível no Globoplay, ela personifica Aracy de Carvalho, poliglota que prestou serviços ao consulado brasileiro na Alemanha durante o regime nazista.

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“Meu bisavô por parte de mãe trabalhou como professor de natação no transatlântico que fazia o mesmo trajeto que levou Aracy para a Alemanha e trouxe Adelaide, tudo na mesma época. Há personagens que escolhem a gente para iluminar histórias que precisam ser entendidas.”

Força feminina

Outra mulher irreverente que cruzou seu destino foi Gal Costa. Protagonista de Meu Nome é Gal, cinebiografia lançada em 2023, Sophie entende que a oportunidade foi um divisor de águas — não só por tê-la consolidado como multiartista, mas porque a fez pensar ainda mais sobre o universo feminino.

“Elas mudaram a minha vida e me deram coragem. Ambas enfrentaram questões que se repetem até hoje, como a desigualdade de gênero, religiosa e social. Além disso, precisaram provar seu valor em espaços estritamente masculinos, sempre subvertendo os códigos vigentes”, ressalta. 

Para ela, a dramaturgia ainda tende a reduzir figuras femininas a extremos, entre santas e prostitutas, uma fórmula que considera ultrapassada em uma sociedade que já deveria ter entendido que temos nuances. Ser mulher, afinal, é um processo contínuo e cheio de camadas.

“Nos tornamos mulheres com o tempo, e ainda estou aprendendo — é como um véu que vai caindo”, diz Sophie com voz doce mas alerta, citando a filósofa feminista Simone de Beauvoir. “É coletivo, bonito, mas não podemos romantizar as dificuldades.”

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Entre as muitas reflexões que carrega, destaca o cansaço silencioso, o desgaste de precisar ser validada, o respeito às escolhas e até a equidade de salários. “As manobras que fazemos todos os dias para sermos ouvidas são invisíveis. Todas estamos gerando e gerindo o mundo. Somos poderosas, mas ainda lutamos pelo básico.”

No longa-metragem Virgínia e Adelaide, que acaba de estrear nos cinemas, a atriz resgata essas referências para viver a psicanalista alemã Adelaide Koch
No longa-metragem Virgínia e Adelaide, que acaba de estrear nos cinemas, a atriz resgata essas referências para viver a psicanalista alemã Adelaide Koch (Bob Wolfenson/Divulgação)

Vida offline

Quem acessa o perfil do Instagram da atriz não encontra um feed padronizado. Fotografias com amigos, poses espontâneas, paisagens e trailers de suas obras se misturam, evidenciando que as publicações não seguem uma ordem estética definida por cores ou categorias. E isso é, sim, intencional.

“Para entrar na casa de quem me assiste, preciso pedir licença. Por isso, gosto de ter um respiro entre meu ofício e a pessoa comum que sou. Não opinar sobre tudo e não expor minha intimidade faz com que as pessoas vejam a personagem, e não a persona.”

A escolha é um tanto ousada em uma época em que o número de seguidores e o engajamento das redes influenciam diretamente as contratações. “Meu objetivo é ser levada a sério pelo comprometimento, seriedade e postura. Minha credibilidade é muito cara nesse sentido. O momento em que vivemos agora é muito curioso, mas me dei o direito de não fazer de tudo o meu lugar de trabalho.”

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Fora da internet, ela afirma, com certo alívio, que leva uma rotina menos interessante e distante do glamour. As doses de simplicidade no cotidiano são, inclusive, o que a ajudam a manter a humildade, valor que considera essencial.

“Pode parecer loucura, mas entendi que o ritual de fazer compras no mercado da promoção, sair de lá e ir comprar frutas em outro, um esquema que eu poderia delegar, me centra e traz a humanidade que preciso. Assumimos pessoas extraordinárias, muito ricas ou muito distantes de nós. Aí, sinto que é importante estar conectado com uma realidade mais comum”, reflete. 

Em 2023, a artista estrelou no filme da Netflix O Assassino, dirigido por David Fincher, o que a impulsionou internacionalmente
Em 2023, a artista estrelou no filme da Netflix O Assassino, dirigido por David Fincher, o que a impulsionou internacionalmente (Bob Wolfenson/Divulgação)

Futuro promissor 

Em 2023, a artista estrelou no filme da Netflix O Assassino, dirigido por David Fincher, o que a impulsionou internacionalmente. O convite, inesperado, rendeu um frio na barriga e uma experiência arrebatadora com o cineasta.

“Foi surreal. Me senti absolutamente respeitada, cuidada, ouvida. O David tirou uma tarde para conversar comigo sobre a cena e sobre o que ele estava esperando. E olha que o papel nem era tão grande assim.” 

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A dinâmica das filmagens foi diferente da realidade brasileira, não pela competência da equipe, mas pelo orçamento robusto que proporciona mais tempo de gravação, melhores estruturas e tecnologia de ponta — elementos decisivos para um resultado refinado.

“Ele fala que gasta muito tempo no set, o que é maravilhoso. No Brasil, fazemos milagre. Criamos filmes poderosos com pouco dinheiro. Mas a feitura de cena, a ação, é a mesma”, aponta. “Ainda que tenha uma carreira aqui, tenho vontade de realizar algum projeto em alemão, seria incrível.”

Agora, Sophie Charlotte também se aventura na música: ela e Tom Veloso estão gravando um disco
Agora, Sophie Charlotte também se aventura na música: ela e Tom Veloso estão gravando um disco (Bob Wolfenson/Reprodução)

Neste ano, seus planos incluem a música, uma paixão despertada durante as gravações do show Fatal, de Gal. Subir ao palco com Roberto Carlos e cantar ao lado do rei foi tão comovente que ela resolveu se arriscar em apresentações pelo Brasil.

“O canto e a dança são ferramentas para o meu ofício, não considero algo paralelo. Quando conheci o músico Tom Veloso [filho de Caetano], tivemos uma sintonia muito grande e resolvemos arriscar: montamos um repertório e partimos para alguns shows pontuais. Agora, vamos gravar um EP e lançar músicas autorais”, declara. 

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Uma aventura que nunca deixa de lado é a novela — e Sophie acaba de ser confirmada como a protagonista de Três Graças, folhetim de Aguinaldo Silva que vai ocupar o horário nobre na Rede Globo.

“Ainda nem comecei a preparação, mas estou muito feliz porque gosto de fazer novelas. A gente se lança numa jornada junto com o público, contando uma história onde tudo pode acontecer”, relata.

“É um desenvolvimento coletivo. E também gosto de saber que é o veículo que me leva para o maior número de pessoas, chegando até em lugares do país que têm pouco acesso à cultura.”

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