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Documentário resgata ativismo de Pauli Murray pela igualdade de gênero e racial

O pioneirismo da ativista, advogada e escritora Pauli Murray foi ocultado da história, mas será recuperado em documentário da Amazon Prime Video

Por Ana Carolina Pinheiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
22 set 2021, 10h00

“Essa sociedade não é hospitaleira para pessoas de cor, mulheres ou canhotos”, declarou Pauli Murray, pessoa negra, não binária e queer, nascida nos Estados Unidos em 1910. Ativista dos direitos humanos, advogada, poetisa e docente, Pauli foi alvo constante dessa falta de hospitalidade e sentiu na pele o golpe de não poder externalizar sua essência, além de ter tido seu protagonismo no âmbito jurídico ocultado na história.

Presa após se recusar a se sentar na parte de trás do ônibus – quinze anos antes de Rosa Parks – e proibida de fazer o tratamento hormonal para redesignação de gênero, Pauli dedicou sua vida ao feminismo e à luta pelos direitos civis. Ela foi a primeira mulher negra ordenada como sacerdote na Igreja Episcopal.

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O desconforto com tamanha injustiça e a tentativa de reparar o silenciamento de Pauli impulsionaram a criação de My Name is Pauli Murray, documentário que estreia na Amazon Prime Video este mês. Com materiais inéditos, a produção mostra dos primeiros passos ao legado contemporâneo de Pauli, que passou a adotar o nome de gênero neutro na década de 1930.

“Foi desafiador fazer um filme sobre alguém que morreu há 35 anos, mas encontramos cartas, diários, fotografias, vídeos e áudios que nos permitiram trazer essa figura à vida”, conta Julie Cohen, uma das diretoras. Por meio da voz e dos escritos históricos de Pauli, além de entrevistas com familiares, ex-alunos e pesquisadores, a produção ganha um tom único. “Fomos ensinados que pessoas como nós, não binárias, não existem. Quando conheci a história de Pauli, senti raiva, como se tivessem roubado uma parte da minha história”, relata Dolores Chandler, líder do Centro Pauli Murray, no documentário.

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Pioneirismo

Com o diploma do curso de literatura inglesa em mãos, Pauli tinha como próxima missão entrar na Universidade da Carolina do Norte, que, na época, em 1938, só recebia alunos brancos. O movimento ganhou repercussão nacional e a instigou a cursar direito em Howard, na capital dos Estados Unidos. A meta – alcançada – era se tornar especialista em direitos civis.

O bom desempenho lhe garantiu uma vaga em Harvard, que foi fechada quando souberam que Pauli era mulher e negra. A situação fez com que ela desenvolvesse seu mestrado sobre igualdade de gênero no mercado de trabalho, na Universidade da Califórnia.

Pauli Murray
(Amazon Prime Video/Divulgação)

A produtora e roteirista Talleah Bridges McMahon exalta o impacto do trabalho de Pauli para a população jovem e trans até hoje. “Estamos nesse momento em que a comunidade LGBTQIA+, especialmente as pessoas trans, são duramente condenadas. As taxas de assassinatos de negros são mais altas entre as pessoas trans”, comenta.

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Talleah destaca a recente citação dos estudos de Pauli na agenda de igualdade da Casa Branca. O presidente norte-americano Joe Biden derrubou o veto de seu antecessor, Donald Trump, ao permitir que pessoas trans servissem às Forças Armadas. “Ela continua a ter influência, mesmo postumamente”, ressalta. Em uma entrevista em 2017, a lendária juíza Ruth Bader Ginsburg, que morreu em setembro de 2020, compartilhou a importância de Pauli no julgamento de casos permeados pela igualdade de gênero.

Pauli Murray
(Amazon Prime Video/Divulgação)

Segundo ela, Pauli teve um papel crucial na primeira vez em que a Suprema Corte do país reconheceu mulheres como vítimas de discriminação sexual, em 1971. “Devemos muito à sua coragem e vontade de falar mesmo quando a sociedade não estava preparada para ouvir”, declarou a juíza sobre Pauli, a qual definia “como uma das principais mentes jurídicas do século 20, que muitas vezes não foi creditada.” De acordo com Ginsburg, Pauli foi a responsável por eliminar a interpretação sexista sobre a 14ª Emenda da Constituição norte-americana, ressaltando que a lei deveria proteger todas as pessoas e não somente os homens.

A equipe do documentário está ansiosa para levar a trajetória disruptiva de Pauli até o grande público. “Temos uma entrevista que nunca tinha sido vista. Esse vídeo traz a vida, o espírito, o sorriso. Ficamos muito felizes em encontrar sua personalidade ali. Essa pessoa teve uma vida extraordinária”, afirma a diretora Betsy West sobre Pauli, que morreu em 1985, vítima de um câncer. Pauli usou sua intelectualidade para construir não só justiça, como também a hospitalidade tão escassa em sua realidade.

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