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Pabllo Vittar: explícita e imprevisível para se libertar de amarras

No auge do verão, a maior drag queen do planeta mergulha na atmosfera mística e sombria da noite para lançar PV5, seu quinto álbum

Por Helena Galante
Atualizado em 13 jan 2023, 14h49 - Publicado em 13 jan 2023, 08h00

Luz e sombra fazem parte da escalada acelerada de Pabllo Vittar desde 2015, quando seu primeiro single, “Open Bar”, mudou o rumo da música pop brasileira. Se por um lado o clipe da releitura em português de “Lean On”, do grupo Major Lazer, tinha orçamento baixo e clima de improviso entre amigos numa festinha à beira da piscina, por outro havia um elemento que jamais passaria batido: o brilho inebriante da drag queen.

Pabllo Vittar usa vestido, Rober Dognani na Das Haus. Pulseiras, Carlos Penna; brincos, Lázara Design por Rbiz Assessoria. Sandália, Eurico
Pabllo Vittar usa vestido, Rober Dognani na Das Haus. Pulseiras, Carlos Penna; brincos, Lázara Design por Rbiz Assessoria. Sandália, Eurico (Rodolfo Magalhães/CLAUDIA)

Quase oito anos depois, a cantora volta a uma festa no vídeo de “Descontrolada”, parceria com MC Carol que antecipa a pegada de seu novo álbum, o PV5, com lançamento previsto para o início de fevereiro. A superprodução, os figurinos histriônicos e makes impecáveis estão lá, mas, dessa vez, a obscuridade fica no ponto de vista da narrativa, que acompanha de maneira indiscreta uma balada. Dessas que começa e termina madrugada adentro, com muita dança, pele, drinques e gente literalmente caída no chão de tanto curtir.

As pessoas têm tanto medo do feminino que quando um homem coloca feminilidade em si, elas querem diminuir. Sou um menino gay, drag, mas a minha força vem do lado feminino

“Não vejo a sombra como ruim, é algo que precisa existir para ter a luz, é muito complementar. Estar na sombra é um lugar muito confortável para mim, porque consigo enxergar quem está comigo”, diz a artista de 29 anos. A ideia de acompanhar as sensações que vêm da experiência noturna surgiu depois da fase solar de Batidão Tropical (2021), com faixas que remetem aos sons do Norte e Nordeste que fizeram parte da sua infância em São Luís, no Maranhão.

Pabllo Vittar usa vestido, Pó de Arroz. Brincos e pulseira, tudo Zara. Sandálias, Eurico
Pabllo Vittar usa vestido, Pó de Arroz. Brincos e pulseira, tudo Zara. Sandálias, Eurico (Rodolfo Magalhães/CLAUDIA)

“O que eu mais gosto, que me dá frio na barriga e interessa, é ser mutável. Se for para fazer a mesma coisa sempre, não tem muita graça. Eu não sou previsível. Estou nesse momento summertime darkness, com a confiança e a sensualidade que a gente sente quando está para noite”, fala com a voz meiga, entre risinhos, mas com zero pudores. “Estou vivendo essa vibe noturna, sexual e explícita, diria. Venho mostrar nesse álbum que a gente pode, sim, ser livre e não se sentir com amarras. A gente tem que confiar na gente. Quando você compreende e racionaliza que pode qualquer coisa, nada mais de te prende.”

Pabllo Vittar usa vestido, Pó de Arroz. Brincos e pulseira, tudo Zara. Sandálias, Eurico
Pabllo Vittar usa vestido, Pó de Arroz. Brincos e pulseira, tudo Zara. Sandálias, Eurico (Rodolfo Magalhães/CLAUDIA)

Marcos da sua desenvoltura profissional não faltam. No último ano, a turnê internacional de Pabllo incluiu as edições do Chile e da Argentina do Lollapalooza (além do Brasil, claro) e o espanhol Primavera Sound. Nenhuma fronteira foi maior do que a superada nos Estados Unidos: ela foi a primeira drag a performar no festival Coachella, na Califórnia. É na vida pessoal, porém, que seu amadurecimento fica mais evidente.

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“Eu acho hipócrita falar que não ligo para a opinião dos outros, eu ligo sim. Os fãs são a ponta do meu trabalho, é muito importante para mim saber se eles gostaram. Mas, se eles não gostarem, também é natural. Hoje, eu entendo que não vou agradar sempre, me sinto mais tranquila”, declarou, sem deixar qualquer aura blasé tomar conta da conversa.

Pabllo Vittar veste top e pareô, ambos Haight; sobretudo, Minha Vó Tinha. Brincos e colares, tudo Tiffany & Co. Sandália, Eurico
Pabllo Vittar veste top e pareô, ambos Haight; sobretudo, Minha Vó Tinha. Brincos e colares, tudo Tiffany & Co. Sandália, Eurico (Rodolfo Magalhães/CLAUDIA)

“Estou ansiosa para saber o que os fãs vão achar de PV5, álbum no qual estive mais livre para experimentar musicalidades que nunca tinha trabalhado. É muito bom quando você começa a entender o propósito: eu faço música para as pessoas ficarem felizes, e esse álbum reflete isso.” A mistura delicada entre vulnerabilidade e força cativa o público, que a trata por “mãe”.

Pabllo Vittar veste top e pareô, ambos Haight; sobretudo, Minha Vó Tinha. Brincos e colares, tudo Tiffany & Co. Sandália, Eurico
Pabllo Vittar veste top e pareô, ambos Haight; sobretudo, Minha Vó Tinha. Brincos e colares, tudo Tiffany & Co. Sandália, Eurico (Rodolfo Magalhães/CLAUDIA)

A sensação de familiaridade com a plateia, e o desejo de cuidar maternalmente de todos os seus “filhos”, veio do início da carreira, quando percebeu que sua arte tinha o potencial de causar identificação e romper com padrões sociais disfuncionais. “Muitas histórias chegavam até mim de pessoas que tinham a vida transformada pela minha música. Pessoas que enfrentavam problemas por não se entenderem e não serem entendidos no ciclo familiar, por conta de ser LGBTQ“, afirma.

Pabllo Vittar usa top, saia e luvas, tudo Raquel de Carvalho . Pulseiras, Minha Vó Tinha; colar, Lanvin no Trash Chic; brincos, B.luxo. Sandália, Eurico
Pabllo Vittar usa top, saia e luvas, tudo Raquel de Carvalho . Pulseiras, Minha Vó Tinha; colar, Lanvin no Trash Chic; brincos, B.luxo. Sandália, Eurico (Rodolfo Magalhães/CLAUDIA)

A potência para impactar tantas pessoas tem uma origem clara: “Quando estou em Pabllo Vittar, não é mais sobre os meus problemas. Me sinto forte, posso fazer e falar as coisas que penso de maneira mais suave e imponente. Mas eu não sou a Pabllo Vittar 24 horas do dia, o Phabullo Rodrigues também tem uma rotina”.

Não se trata de sustentar um personagem — “Eu sou uma pessoa que usa a Pabllo Vittar como um escudo, para me defender, não sou um ator” — mas de achar mecanismos para enfrentar batalhas duras. A metáfora bélica vem de encontro com o dia a dia de enfrentamentos que ela encara. “Todos os dias a gente arruma um jeito diferente de caminhar, porque não chegamos ainda numa realidade onde todo mundo vê as diferenças como uma coisa boa. Vivemos num mundo, e num país, onde as pessoas são bem retrógradas, ainda enxergam a gente como algo ruim”, afirma.

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Tamanho preconceito fica expresso, entre outras manifestações, em numerosos comentários de haters com que Pabllo interage diariamente, bloqueando todos de volta, o quanto pode. “Lido com isso fazendo terapia. O acompanhamento profissional me ajuda a me entender e também a compreender porque as pessoas descarregam todo esse ódio em mim. São as frustrações delas mesmas, não tenho nada a ver com isso.”

Pabllo Vittar usa top, saia e luvas, tudo Raquel de Carvalho . Pulseiras, Minha Vó Tinha; colar, Lanvin no Trash Chic; brincos, B.luxo. Sandália, Eurico
Pabllo Vittar usa top, saia e luvas, tudo Raquel de Carvalho . Pulseiras, Minha Vó Tinha; colar, Lanvin no Trash Chic; brincos, B.luxo. Sandália, Eurico (Rodolfo Magalhães/CLAUDIA)

Sem ingenuidade, mas com confiança no fato de que cada um colhe o que planta. E ela escolhe, todos os dias, pelo que pode fazer o bem. Mística assumida, enxerga em tudo a lei do carma: “Vou nos búzios, no meu pai de santo, sou cristã, acredito em Deus, faço banho de limpeza, de proteção, para tirar mau olhado ou abrir meus caminhos. Acredito no que é positivo. Desejo para as pessoas sempre algo positivo, até para quem me faz mal. É o que eu tenho para desejar.”

Suas expectativas em relação ao tratamento dos outros para com ela mesmo, porém, são bem diferentes. “Realmente não posso esperar mais respeito das pessoas que são retrógradas, que pensam diferente de nós. Eu vivi isso e vi muitos amigos passando por isso nesse último governo. Infelizmente, tenho que aceitar apenas a indiferença. Prefiro que você não fale comigo do que você seja desrespeitoso. Me evite, vai me fazer bem.”

Da vontade de ver transformada essa situação veio o posicionamento político sempre contundente, nos palcos ou fora deles. O engajamento na última campanha culminou no convite para apresentação na posse do presidente Lula, no dia 1º de janeiro. ” Tenho orgulho de dizer que fui a artista que mais encabeçou essa revolução. Sempre lutei e exaltei a força de liderança, de mudança, de cultura, de renovação do nosso presidente. Disse para os meus fãs que vai ter terninho vermelho siiiiim.”

Pabllo VIttar usa vestido, Loreto; Brincos e pulseira, tudo Koralle por NK Store; bracelete, Walerio Araújo. Sapato, Au Bottier
Pabllo VIttar usa vestido, Loreto; Brincos e pulseira, tudo Koralle por NK Store; bracelete, Walerio Araújo. Sapato, Au Bottier (Rodolfo Magalhães/CLAUDIA)

Ainda que não seja uma pessoa focada no futuro, Pabllo Vittar vislumbra um amanhã de mais liberdade. “Eu acredito no feminino em lugares de força. Falo de mulheres pretas, mulheres trans, homens trans, homens pretos, homens e mulheres gordos terem mais espaço, mais locais de fala. A gente tem que ter mais liberdade, essa é a palavra.”

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Estou mais livre para experimentar musicalidades que nunca tinha trabalhado. É muito bom quando você começa a entender o propósito: eu faço música para as pessoas ficarem felizes

No caminho dessa libertação, é a coragem que dita os próximos passos. “Com 16 anos, eu comecei a usar maquiagem e ir para o colégio, isso já me empoderava muito. Hoje, eu olho as fotos que postava no Orkut e penso: ‘Bicha, tu tinha coragem’. E ainda tenho, de me vestir do jeito que eu quero, de ser drag queen, sair na rua. Isso veio da minha mãe, para mim, é o lado feminino.”

Pabllo VIttar usa vestido, Loreto; Brincos e pulseira, tudo Koralle por NK Store; bracelete, Walerio Araújo. Sapato, Au Bottier
Pabllo VIttar usa vestido, Loreto; Brincos e pulseira, tudo Koralle por NK Store; bracelete, Walerio Araújo. Sapato, Au Bottier (Rodolfo Magalhães/CLAUDIA)

E como Phabullo Rodrigues contempla a luz e a sombra de Pabllo Vittar e de todos à sua volta? “Fui uma criança criada por uma mulher, sozinha, com duas irmãs. Eu não conheço nada mais inspirador. As pessoas têm tanto medo do feminino que quando um homem coloca feminilidade em si, elas querem diminuir. Óbvio que eu amo ser homem, sou um menino gay, drag, mas a minha força vem do lado feminino.”

Na sua entrega máxima, PV quer agora desfrutar de todos os seus lados. “Hoje entendo que a sexualidade vai muito além de genital, de ser homem e de ser mulher. Causar impacto me dá tesão. Gosto de corpos, posso ser mais livre nos ambientes em que estou. Precisamos ser livres para falar coisas assim, e dessa forma encontrar pessoas que pensam como a gente e querem experimentar. Não tenho muitos vícios, mas sou viciada em me apaixonar.” Diante de tanta vitalidade e beleza, a nós, só cabe a paixão recíproca, e mais duradoura que àquela de verão.

 

  • Fotos: Rodolfo Magalhães @rodolfomagalhaes
  • Captação e edição de vídeo: Eduardo de Moura @ehdemoura
  • Texto: Helena Galante @helenagalante
  • Styling: Vitor Ferreira @vitferreira
  • Cabelo: Thereza Brown @there.za
  • Set Design: Yuri Godoy @yurigodoy_arte
  • Direção de arte: Kareen Sayuri @kareensayuri
  • Concepção visual: Eduardo Pignata @eduardopignata
  • Assessoria de imprensa: Melina Tavares Comunicação @melinatavarescomunicacao
  • Tratamento de imagens: Angélica Marinacci @gemarinacci
  • Assistente de foto: Lucas Bergamini @lucasbergamini
  • Produção de moda: Cleber Chiliano @cleberchiliano / Manoela Fiães @manufiaes / Gabriela Fabosa @fabosafabosa
  • Costureira: Camiê
  • Contrarregras: Alexandre Jesus @ale.jesus1 / Iago Santos @iago.santos.oficiall

 

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