7 mulheres do rap e hip hop nacional que você precisa conhecer
MC Luanna, Ajuliacosta, N.I.N.A, Lourena, Budah, Duquesa e Afreekassia falam sobre seus trabalhos e revoluções no cenário da música urbana
Não é de hoje que as mulheres estão dominando cada vez mais o cenário do rap brasileiro no país. Se há pouco mais de 35 anos, o hip-hop desembarcava nas periferias brasileiras com a promessa de um futuro revolucionário, alavancando nomes como de Thaíde, DJ Marlboro e Racionais MC’s, figuras femininas como Sharylaine e Negra Li já estavam entoando suas rimas para contar esse futuro antes mesmo de compreendê-lo.
E se antes, esse mesmo movimento originalmente negro era dominado, em sua maioria, pela presença masculina, nos últimos 10 anos o cenário é completamente diferente: o rap anda cada vez mais preenchido por mulheres e suas revoluções.
E para ilustrar a força desse movimento unicamente feminino, conversamos alguns dos nomes mais importantes do cenário atual no rap: MC Luanna, Ajuliacosta, N.I.N.A, Lourena, Budah, Duquesa e Afreekassia contam, em uma série de entrevistas exclusivas, um pouco mais sobre seus trabalhos e revoluções no cenário da música urbana.
No topo das paradas
São músicas cheias identidades, com letras questionadoras, que, nos últimos cinco anos, cresceram cerca de 81% no tempo ouvido só no Spotify. São jovens mulheres que enxergam na música urbana uma maneira de externar suas vivências, identidades e ancestralidade em forma de poesias, versos e beats capazes de identificação e compreensão quase que instântaneas com um público fiel.
Fique esperto e pegue a visão do rap feminino e descubra o verdadeiro significo da ser cena 100% delas.
Duquesa
Publicitária e comunicadora, Jeysa Ribeiro, vulgo Duquesa, é a artista por trás de números exorbitantes: acumula mais de 2 milhões de plays no Spotify apenas no seu álbum de estreia, o Taurus, e em março de 2022 foi considerada a artista que mais cresceu em pesquisas na plataforma.
Natural de Feira de Santana, na Bahia, ela trabalhou em diversas áreas antes de se tornar a artista que conhecemos: foi locutora em rádio esportiva e compositora de jingles publicitários, por exemplo.
Mas foi na música autoral que ela se encontrou, criando rimas sobre os sentimentos profundos que acompanham a chegada da vida adulta. Com o lançamento de seu segundo álbum de estúdio, o aclamado Taurus Vol. 2, Duquesa aprofunda a conexão ainda mais íntima com seu público e busca ser ainda mais incisiva em suas rimas.
“Sinto que o meu público entende o que eu estou falando e sabe das experiências que incluo nas minhas letras. A gente vive num tempo imediatista, então eu preciso falar uma mensagem rápida que todo mundo vai entender. Existem 99 problemas que uma negra bonita passa e isso não tá visto na lista de prioridades do mundo”, revela.
N.I.N.A
Cria da Cidade Alta, na zona norte do Rio, N.I.N.A (ou Anna Ferreira) cresceu em uma família com referências musicais ecléticas: o pai e o irmão gostavam de rastafari, a irmã curtia emo e a mãe era adepta do grunge — todos ritmos que acompanham N.I.N.A até hoje.
Já no ensino fundamental e médio, começou a participar de concursos de poemas. Aos 18 anos, ingressou no curso de filosofia da Universidade Federal Fluminense (UFF), onde teve mais contato com a música, por meio da discotecagem, o grime e o drill — gêneros de origem inglesa com letras que retratam a vida nas ruas, a violência, a desigualdade e o crime.
“A música chegou pra mim como um lugar de catalisar meus sentimentos. Eu sentia muita falta de mulheres falando numa linguagem de cria de favela mesmo, sabe? Acho que muita gente precisa ouvir e entender como é a vivência de uma mulher preta que vem da favela”, defende a rapper, que hoje é referência de rima no ritmo rápido do 140BPM.
Foi depois de lançar o single “A Bruta, a Braba, a Forte”, em 2020, que encontrou o seu lugar no gênero, ao incluir nas rimas assuntos como relacionamentos e sexualidade.
“Nunca tive medo de ser julgada. A gente vê homens falando sobre sexo, crime, dinheiro e isso é aceito em qualquer lugar. Agora, uma mulher falando sobre sexo, sobre como o crime pode atrapalhar sua vida não é aceito. Incomoda muita gente”, reflete a rapper, que hoje tem 26 anos.
Afreekassia
Santista de alma livre, Cássia Sabino, mais conhecida como Afreekassia, já tinha inclinação para a arte antes de resolver viver dela. Começou a discotecar aos 18 anos em festas no litoral paulista, surpreendendo pelo talento como DJ e por ser uma das poucas mulheres negras nessa posição.
“Desde o começo, as pessoas me viam e falavam coisas do tipo, ‘Caramba, é você que tá tocando?’”, lembra. “Aí aproveitava para incluir ainda mais sons com que me identificava em meus remixes.”
Em 2020, ela se mudou para São Paulo e lançou dois singles, as faixas “Princesinha da Baixada” e “Fazer Dinheiro”, mas foi a faixa “Sou + As Negras”, em 2023, que lhe garantiu o prêmio de Melhor Videoclipe Rede Afirmativa SPcine no Music Video Festival Awards 2023.
Aos 26 anos, ela enxerga a música como sinônimo de amadurecimento pessoal. “O que eu quero é falar de construção de autoestima, e de estar certa de quem eu sou. Quero que as pessoas também cheguem na melhor versão delas mesmas, cada um com a sua identidade.”
Ajuliacosta
Impossível citar Ajuliacosta sem falar de (muito) planejamento de carreira. Aos 26 anos, a cantora e estilista de Mogi das Cruzes, São Paulo, teve um crescimento de mais de 2.000% em streamings no Spotify entre 2022 e 2024.
Hoje, é uma das artistas femininas mais pesquisadas do rap brasileiro. Em 2023, chegou a ser indicada a quatro categorias da maior premiação de música urbana no país, o Prêmio RAP Brasil, que já consagrou nomes como Tasha e Tracie, e Racionais MC’s.
Para ela, chegar ao topo sempre foi um dos maiores objetivos: desde cedo, planejou sua carreira de maneira 100% independente.
“Depois de muito tempo me criticando e tentando transformar minha maneira de fazer arte, entendi que algumas coisas na indústria demandavam tempo e, principalmente, planejamento. No fim, só restava eu e minha vontade. Foi aí que comecei a sonhar para além da máquina de costura e me enxergar como artista mesmo”, conta AJC, como gosta de ser chamada.Ela estava mais do que certa.
Com mais de 600 mil ouvintes mensais no Spotify, AJC canta sobre autoestima, feminismo e relacionamentos de um jeito único, mostrando que sua autoconsciência — tanto em termos de carreira, quanto de sensibilidade artística — é o suficiente para levá-la a lugares surpreendentes.
“É muito difícil uma MC independente conseguir um cachê que realmente pague todas as suas necessidades. Nós, mulheres, temos que estar nos lugares, mas temos que estar lá sendo tão bem pagas quanto os caras. Só assim irão reconhecer que somos tão boas quanto eles. Nós já somos. Isso só precisa ficar mais escancarado.”
Lourena
Nascida e criada em Madureira, subúrbio do Rio de Janeiro, Lourena é um dos nomes de destaque no rap acústico brasileiro, gênero que traz o violão como protagonista. Com uma voz doce e envolvente, teve a oportunidade de gravar seu primeiro projeto quando tinha apenas 18 anos.
“Eu queria fazer coisas grandiosas, no sentido de mudança, de mudar e marcar as pessoas à minha volta, principalmente a minha família. Minha vocação é ser uma agente transformadora”, afirma a cantora que, aos 24 anos, comemora seu primeiro álbum de estúdio, o Um Pouco de Mim.
“Estou construindo um legado para minha família. Sinto que vou ser aquela pessoa que será comemorada pelos familiares nas próximas gerações. Só por isso já me sinto realizada. É na arte e na música que vamos além do indivíduo. Quero expor sentimentos para o coletivo, por mim e por nós”, conclui Lourena.
Budah
Para Brendha Rangel, os sentimentos são a principal inspiração para compor suas letras. Cantando sobre amores incompreendidos, traição, desejo e tesão, Budah começou participando e organizando batalhas de rimas quando ainda era uma adolescente na região metropolitana de Vila Velha, no Espírito Santo.
De lá pra cá, se tornou uma cantora única. Hoje, tem mais de 1,7 milhão de ouvintes mensais no Spotify, atraídos pelas letras cheias de sentimentalismo e sinceridade, resultado de uma profunda autoanálise.
“É na música que conseguem ver Budah com raiva, com incômodos, sendo romântica, sendo bruta. São facetas que nós, mulheres, temos todos os dias. Saber que você não é a única pessoa que passa por sentimentos complexos é uma das coisas que mais me surpreende”, comenta.
MC Luanna
Foi durante a pandemia, quando ainda era técnica de saúde bucal, que Luanna Santos Oliveira, a MC Luanna, descobriu que a música servia como um alívio para o estresse.
Aos 25 anos, ela andava sobrecarregada com o trabalho e os estudos durante o isolamento social. A jovem, que até então tinha vergonha de sua voz, começou a escrever letras e a gravar vídeos para as redes sociais. Hoje, aos 29, ela acumula mais de 1,8 milhão de plays no Spotify e lota casas de shows e festivais por onde passa.
“No funk, eu encontrei a missão de cantar e educar em forma de música. Me sinto na obrigação de ensinar os caminhos que vão elevar a autoestima, a liberdade e a diversão dessas minas. Acho que minhas músicas são feitas para isso”, reflete.
Foi cantando sobre o amadurecimento pessoal que MC Luanna subiu num dos concorridos palcos do Lollapalooza 2024.
“Ver tudo isso acontecer de forma rápida é uma das paradas mais insanas. Principalmente quando se é uma artista preta independente, que faz tudo dentro de casa, escrevendo letras no chão do quarto. Tudo é feito na raça, mas com muita consciência de onde vai chegar e quem vai atingir.”
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