Conheça as 5 finalistas do Prêmio Jabuti de romance literário
Natalia Borges Polesso, Andréa del Fuego, Micheliny Verunschk, Aline Bei e Tatiana Levy estão entre os grandes nomes da literatura brasileira contemporânea
As mulheres dominam a lista de indicados na categoria de romance literário do Prêmio Jabuti deste ano, o mais prestigioso da literatura brasileira. A lista com os cinco indicados em 10 prêmios foi divulgada esta semana, com destaque para os nomes de Natalia Borges Polesso, Andréa del Fuego, Micheliny Verunschk, Aline Bei e Tatiana Salem Levy. As escritoras são algumas das mais promissoras da literatura nacional contemporânea, e praticamente todos os livros concorrentes já foram recomendados nas Leituras de CLAUDIA. Agora, contamos um pouco mais sobre cada uma delas e seus romances.
Natalia Borges Polesso – A Extinção das Abelhas
Em 2016, a gaúcha Natalia Borges Polesso venceu o Prêmio Jabuti na categoria contos e crônicas com Amora (que acaba de ser reeditado pela Dublinense), uma coletânea de contos centrados no amor entre mulheres. Com oito livros publicados, este ano ela é uma das finalistas de romance com A Extinção das Abelhas (Companhia das Letras), cuja protagonista tenta se adequar à nova realidade de um mundo devastado, enquanto avalia as reminiscências de sua vida familiar (ou a falta dela) e amorosa. Nesse livro, mais uma vez, Natalia traz histórias de histórias de personagens que fogem à vivência heteropatriarcal. “É importante tirar a literatura da normatividade e eu não faço isso para deslocar algo de algum lugar, mas porque essa questão me é cara. Tem mais a ver com o modo como eu me posiciono no mundo e como olho para ele do que como olho para a literatura”, disse ela a CLAUDIA, em março. É dela a foto (ilustrada por Catarina Moura) que abre esta matéria.
Andréa del Fuego – A Pediatra
Em A Pediatra (Companhia das Letras, 2021), a escritora Andréa del Fuego retrata uma médica canalha, cuja única motivação para o trabalho é o poder social e financeiro que o jaleco branco lhe confere. Pediatra neonatal, Cecília não gosta de crianças e, menos ainda, de mães. Seu cinismo não é amenizado nem quando se envolve com um homem casado, pai de um de seus pacientes, o que suscita sentimentos inéditos pela criança que ela mesma ajudou a trazer ao mundo. Com essa personagem descarada e complexa, Andréa nos obrigada a olhar para traços que a maioria de nós reconhece, mas prefere negar em nossas próprias personalidades.
A pediatra é a mais recente obra da prolífica carreira da escritora de 47 anos, que transita desde livros juvenis até tórridos contos eróticos. Formada em filosofia pela Universidade de São Paulo (USP), ela é autora de Os Malaquias (Companhia das Letras), que conta a história de três irmãos que passam a encarar uma nova realidade após a morte dos pais. Esse romance foi vencedor do prestigioso Prêmio Literário José Saramago, em 2011, e foi publicado na Alemanha, Itália, França, Israel, Romênia, Suécia, Portugal e Argentina.
Aline Bei – Pequena Coreografia do Adeus
Aos 35 anos, Aline Bei autora de O Peso do Pássaro Morto (Nós, 2017) e Pequena Coreografia do Adeus (Companhia das Letras, 2021), já marcou seu espaço na literatura brasileira, graças a uma linguagem muito própria. Aline escreve em versos que não são versos, organizados em linhas desiguais que se sucedem quase no ritmo cardíaco de quem as lê. Em suas palavras, trata-se de “narrativas simples, quase banais”, que ganham novas dimensões em sua lírica poética. Sua obra está centrada em “corpos solitários, marginais, que não encontram seus pares” e, invariavelmente, mulheres. “Uma mulher vivendo na literatura e sendo escrita por outras mulheres é algo revolucionário”, afirmou ela a CLAUDIA, em março.
Em Pequena Coreografia do Adeus, finalista do Jabuti este ano, ela escrutina o abandono e a solidão femininas na figura de Júlia Terra, sua protagonista e fruto de um amor devastado. A jovem de 20 e poucos anos tenta encontrar a própria identidade enquanto revisita os traumas e lembranças de uma infância entre as surras da mãe, Vera, e a distância do pai, Sérgio, ambos confinados em uma relação cujos escombros perduram mesmo após o divórcio.
Micheliny Verunschk – O Som do Rugido da Onça
A pernambucana Micheliny Verunschk, de 50 anos, é praticamente uma especialista em premiações. Em 2004, ela foi indicada ao Prêmio Portugal Telecom de Literatura, com o livro de poesia Geografia íntima do Deserto (Landy), sendo a única mulher estreante e também a mais jovem a ficar entre os dez finalistas. Em 2015, venceu o Prêmio São Paulo de Literatura de 2015 na categoria melhor de romance escrito por autor estreante no gênero acima de 40 anos, com a obra Nossa Teresa – Vida e Morte de uma Santa Suicida (Patuá). Também escreveu os livros de poemas O Observador e o Nada (CCSP, 2003), A Cartografia da Noite (Lumme, 2010), B de Bruxa: Bonnus bonnificarum (Mariposa Cartonera, 2014) e Maravilhas Banais (Martelo, 2017).
Entre seus romances, destacam-se Aqui, no Coração do inferno (2016) e O Peso do Coração de um Homem (2017), ambos da Patuá. O Som do Rugido da Onça, lançado em 2021 pela Companhia das Letras e finalista do Jabuti, também concorre ao Prêmio Oceanos 2022, uma das maiores premiações literárias em língua portuguesa. Na obra, Micheliny parte de um fato histórico e usa da ficção para expor o passado de violência que reverbera no presente da sociedade brasileira. As imagens de duas crianças indígenas identificadas apenas como “Miranha” e “Juri”, que foram sequestradas e levadas para a Europa no século XIX, são o ponto de partida da história. Subvertendo o relato europeu, a autora devolve a voz de uma das meninas que foi levada, dando a ela o protagonismo do destino que lhe foi imposto. O Som do Rugido da Onça é, assim, um esturro de ousadia literária e política, que reivindica o necessário reconhecimento histórico dos horrores que suplantaram os mitos e crenças dos povos originários do Brasil.
Tatiana Salem Levy – Vista Chinesa
Portuguesa de nascença, Tatiana Salem Levy se mudou para o Brasil aos nove meses de vida, depois da Lei de Anistia (seus pais haviam sido exilados pela ditadura militar ao país luso). Hoje, a escritora de 43 anos vive entre o Rio de Janeiro e Lisboa, e se dedica à literatura e à coluna que assina no jornal Valor Econômico. Graças ao seu primeiro romance, A Chave da Casa (Record), ela recebeu o Prêmio São Paulo de Literatura como autora estreante em 2008. De lá para cá, publicou os Dois Rios (Record, 2011) e Paraíso (Foz, 2014), além de livros infanto-juvenis, totalizando sete obras.
A última delas é o romance Vista Chinesa, lançado pela Todavia em 2021, que concorre ao Jabuti. Na trama, Júlia é sócia de um escritório de arquitetura que trabalha na construção da Vila Olímpica, no Rio de Janeiro, em 2014, e vive a excitação nacional generalizada pela perspectiva da Copa do Mundo naquele ano e das Olimpíadas de 2016. Seus planos se interrompem quando, um dia, ela sofre um estupro e é deixada sangrando na floresta, de onde se arrasta para casa. O calvário de dor enfrentada por uma mulher que passa por esse tipo de violência é contado com crueza, dureza e um pulso literário digno da indicação ao prêmio. Um tom que, felizmente, se consolida na literatura brasileira.