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Medida Provisória: Lázaro Ramos revela os maiores desafios dos bastidores

Adaptado da peça “Namíbia, não!”, o filme mescla gêneros como suspense, comédia ácida e drama social

Por Kalel Adolfo
11 abr 2022, 09h01
Medida Provisória
Alfred Enoch, Taís Araújo e Seu Jorge em "Medida Provisória".  (Mariana Vianna/Divulgação)
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Medida Provisória marca a primeira vez em que Lázaro Ramos dirige um longa-metragem, e o resultado não poderia ser melhor. Ambientado num futuro distópico, o filme gira em torno de um decreto nacional que obriga os cidadãos negros a migrarem para a África, justificando que a ação é uma tentativa de reparação histórica motivada pelos danos da escravidão.

Em meio a este caos, Antônio (Alfred Enoch), Capitú (Taís Araújo) e André (Seu Jorge) lutam para não sucumbir à repressão, enfrentando inúmeras injustiças provocadas pelo sistema político do país.

Para mergulhar no universo deste enredo e entender os maiores desafios, influências e dificuldades acerca do projeto, Claudia participou de uma coletiva exclusiva com participações de Lázaro Ramos, Taís Araújo, Seu Jorge, Alfred Enoch, Adriana Esteves e Mariana Xavier. Confira:

“Medida Provisória” reflete sobre temas urgentes

Para Seu Jorge, a produção serve como um comentário acerca da violência física e emocional empregada sob a juventude negra no Brasil. “Eu não tenho dados precisos, mas até onde eu sei, jovens negros são assassinados todos os dias em nosso país. E essa é apenas a dimensão física do assunto”, pontua o artista.

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Mas além da brutalidade diária, que é mais visível à população, também existem as agressões psicológicas presentes em nosso sistema sócio-político, que podem passar despercebidas por muitos: “Se o meu menino estiver caminhando na rua e for abordado pela polícia, ele terá um tratamento diferente dos brancos. A questão emocional da negritude é muito acentuada”, afirma.

O ator explica que o arco narrativo de André, Antônio e Capitu exemplifica bastante esse problema: “Na trama, eles são pessoas felizes, vibrantes e diferenciadas. Mas essas agressões psicológicas acabam os transformando profundamente. De repente, esses indivíduos estão ocupando lugares em que nunca estiveram. Portanto, a mensagem do filme é avisar que seremos resistência”, declara o ator.

O papel dos brancos na luta antirracista

No enredo, a personagem de Mariana Xavier — Sarah — é uma mulher branca que se coloca como aliada na luta antirracista. Porém, há uma linha tênue entre tentar protagonizar e prestar um apoio responsável a quaisquer causas sociais, e a atriz tem completa consciência disso: “Eu tento ser cada vez mais uma aliada. O racismo não é um problema exclusivo dos negros. É só ter o mínimo de noção de história para saber que fazemos parte dessa engrenagem. Nascer branco carrega privilégios, e entender como isso funciona é uma forma de transformar a realidade em que vivemos. Hoje, eu procuro usar a visibilidade e privilégios que eu tenho para causar melhorias no mundo. Tudo o que eu quero é uma sociedade justa e igualitária, onde não precisamos chamar de privilégio o que deveria ser um direito básico”, declara.

O que motivou Lázaro Ramos a se arriscar como diretor

Lázaro explica que participar do processo criativo do filme foi uma decisão extremamente natural, já que ele esteve intimamente envolvido com a peça teatral em 2011. Contudo, ele revelou que, antes de assumir o cargo de diretor, o cineasta baiano João Rodrigues Matos estava responsável pelo desenvolvimento do longa-metragem.

“Com o passar do tempo, eu fui naturalmente assumindo esse lugar, por conta da minha relação com a peça. Cheguei a ter dúvidas sobre dirigir, mas acabou sendo um enorme prazer”, esclarece.

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Maiores desafios nas gravações de “Medida Provisória”

Medida Provisória traz uma ótima variedade de gêneros, como drama social, comédia ácida e suspense. Porém, colocar todos esses estilos cinematográficos em prática sem afetar a coerência da narrativa foi um grande desafio.

Além disso, as limitações no orçamento também tornaram a produção um pouco mais complexa: “Ele parece um filme grande, mas tínhamos uma verba modesta para fazê-lo. Alguém chegou a me perguntar como nós conseguimos colocar uma obra de 30 milhões de dólares em tela. Isso só foi possível pelo talento das pessoas envolvidas”, diz.

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“Criar esse futuro distópico que esteticamente tem algumas exigências também foi um desafio. Mas volto a dizer: a paixão dessas pessoas em fazerem esse projeto acontecer foi tão grande, que todos deram um jeito do filme ter essa cara. Quando estamos bem acompanhados, vamos longe”, reitera.

A jornada de Capitú

Taís Araújo revelou que a ideia de fazer uma mulher negra criada num ambiente privilegiado e predominantemente branco foi intencional: “A ideia era que o preconceito chegasse até ela, porque o racismo te chama. Em algum momento ele se apresenta, ninguém está livre dele. A partir disso, pudemos montar toda a trajetória dela, mostrando como ela se fortalece e compreende o seu lugar na sociedade”, declara.

O que fazer para o futuro distópico não acontecer

Quando perguntado sobre o que deveríamos fazer para impedir que o futuro distópico do filme acontecesse na vida real, Lázaro Ramos foi direto: “Precisamos tirar o Bolsonaro do poder”, disparou.

A escuta fortaleceu o projeto

“O diretor precisa escutar os talentos que estão ao seu redor. Espero que todos tenham se sentido assim. Também gosto de estimular as pessoas a terem suas próprias opiniões, se apropriarem da história. Tenho muita gratidão por essa turma que montamos, tanto os que estão à frente e por trás das câmeras”, conclui Lázaro.

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“Medida Provisória” chega aos cinemas brasileiros no dia 14 de abril. Confira o trailer oficial: 

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