Maria de Fátima, uma voz pela arte e educação
Cantando Marias, um ajuntamento de mulheres cantoras e musicistas, levam a todos os saberes cantados das mestras da música tradicional da região
“O que você quer ser quando crescer?” Maria de Fátima Gomes dos Santos, de 42 anos, nunca teve dúvidas antes de responder: “Quero ser cantora”. Ela, que cresceu sem ter sequer eletricidade em casa, se enebriava com as canções que ouvia nos rádios e televisões dos vizinhos. A voz eterna de Gal Costa, que nos deixou esta semana, era uma das suas preferidas. “Quando criança, a escutava nas trilhas sonoras das novelas e me emocionava”, lembra. No seu mundo particular e lúdico, a música era o que mais atraía a Maria menina, que queria conhecer todas as cantoras e bandas do mundo. Aos 15 anos, ela começou a fugir “de casa”, escondida da mãe (que desejava que a filha fosse professora), para cantar nos bares do Crato, sua cidade natal, no Ceará. Foi também com essa idade que ela passou a frequentar os terreiros das mulheres pretas e indígenas do sertão do Cariri, aprendendo com elas o cancioneiro tradicional nordestino e suas muitas sonoridades ancestrais. Hoje, aos 42 anos, Maria de Fátima realizou o sonho de ser cantora e ainda arrumou um jeito de agradar o anseio materno: é professora de música.
Seu grande projeto é o Cantando Marias, um ajuntamento de mulheres cantoras e musicistas que levam a todos os saberes cantados das mestras da música tradicional daquela região. Ao lado de Jaqueline, Leidiane, Eliana e outras Marias, Maria de Fátima produz um espetáculo autoral, homônimo ao grupo, com composições e cenas inéditas. “Meu desejo é navegar por todos os lados com esse trabalho, desbravar o mundo com meu canto”, diz ela, emocionada, a CLAUDIA. Maria de Fátima é mais uma empreendedora de um grupo de mulheres incríveis que você conhece no projeto Potencializadoras, uma parceria especial entre CLAUDIA, PretaHub e Meta.
Maria de Fátima sempre foi artista, mas decidiu entrar na universidade para se valer desse termo, para ela, tão precioso. Se formou em Música na Universidade Federal do Cariri e, depois, em Pedagogia. “Ainda quando cursava Música entendi que seria professora. Ou iria fazer outra coisa que desse um mínimo de segurança financeira para pagar as contas”, conta. Como muitas, ela ouvia que “filha de pobre não pode” seguir certas aspirações artísticas. Mas, mesmo que quisesse fugir de sua sina (e ela nunca quis, de fato), sempre cantou e fez shows à noite para “segurar as pontas”. Quando concluiu os cursos, decidiu unir suas duas vocações e passou a dar aulas de canto. “Pensei comigo: se me inspiro com as mestras do cancioneiro caririense tradicional, outras pessoas podem se inspirar em mim.” E assim aconteceu. E acontece.
Entre seus alunos e alunas, Maria de Fátima combate o mito da genialidade, essa ideia de que todo mundo nasce, necessariamente, com um dom para algo. “Existem passos e estudos para se aprender algo e chegar onde se quer”, garante. Ela sabe, contudo, que nem tudo é técnica. “Música é corpo, é alma, é se colocar presente”, ressalta. E também isso ela ensina, sempre prestando reverência ao canto tradicional e popular de tantas mestras da cultura brasileira, praticamente todas anônimas. É também o legado delas que Maria de Fátima quer levar mundo afora com o Cantando Marias. “Graças à Feira Preta, aprendi o significado da palavra ‘empreendedora‘. O AfroLab me dá bagagem para aprender ainda mais e concretizar esses planos”, conta.
Seus sonhos são coletivos, mas também individuais. Ela se emociona bastante ao contar que ainda quer ter uma casa sua, um teto todo seu sob o qual morar. “Eu tenho mais de 20 anos de carreira, sei que tenho talento, quero poder viver bem da minha arte. Estou aberta a toda a bonança que o universo puder oferecer.” Do lado de cá, torcemos para que todas as benesses encontrem o caminho de Maria de Fátima e de todas as Marias que afagam o mundo com suas vozes.
O projeto Potencializadoras é uma parceria do PretaHub, da CLAUDIA e da Meta para contar histórias de mulheres negras empreendedoras. A fotógrafa baiana Helen Salomão e Wendy Andrade se uniram para retratar 15 mulheres que fazem parte da Aceleração de Negócios de Empreendedoras Negras, iniciativa idealizada pela Meta e pela PretaHub.