‘Bridgerton’, série da Netflix, soma influência de Austen à sensualidade
Inspirada na série de nove livros da escritora Julia Quinn, a trama é um presente do streaming para a legião de românticas de todas as idades
Adoro criar fórmulas para fenômenos televisivos e, embora não seja conhecedora do império Shondaland – da produtora de séries maratonáveis Shonda Rhimes, como Grey’s Anatomy e Scandal –, me arrisco a dizer que Bridgerton, a nova mania da Netflix, é uma mistura azeitada de Orgulho e Preconceito com Gossip Girl e Cinquenta Tons de Cinza.
Juro que nunca, em tempo algum, imaginei que as contemporâneas de Lizzy Bennet, minha personagem predileta e uma clara inspiração pra qualquer heroína criada na literatura depois de 1813 – quando Orgulho e Preconceito, de Jane Austen, foi lançado – tivessem uma vida pré-nupcial tão animada.
Lizzy Bennet é minha personagem predileta e uma clara inspiração pra qualquer heroína criada na literatura depois de 1813 – quando Orgulho e Preconceito, , de Jane Austen, foi lançado. Mas juro que nunca, em tempo algum, imaginei que as contemporâneas dela tivessem uma vida pré-nupcial tão animada.
Do alto de seus mais de 3,5 milhões de livros vendidos, Julia Quinn é quem escreve a saga de nove livros que dão conta da vida da família Bridgerton, que é narrada pela fuxiqueira Lady Whistledown, na voz de Julie Andrews. Americana, com seus 50 anos, Quinn é claramente interessada na obra de Austen, mas adicionou a ela uma boa dose de pimenta, o que gosto particularmente.
No entanto, me arriscaria a dizer que a autora precisa ainda comer muita “pork pie” para chegar aos pés da grande escritora de romances britânicos, o que soaria bastante injusto na medida em que nunca li suas obras e sei que cativam e fazem milhões de adolescentes brasileiras lerem.
Presentão de Natal da Netflix para uma legião de românticas de todas as idades, Bridgerton traz ao cenário Daphne (Phoebe Dynevor), a indefectível heroína da obra O Duque e Eu, e o insuportavelmente sedutor Simon Basset, vivido por Rege-Jean Page. Versão pouco tradicional do nosso adorado Mr. Darcy (o grande personagem masculino de Austen), Simon é aquele rebelde com causa que soa canastrão em muitos momentos. Mas, logo arrebata e nos faz esquecer de olhar para Anthony Bridgerton (Johathan Bailey), o primogênito Bridgerton, o visconde que, claro, foge à regra da família perfeita e se apaixona por uma cantora que jamais carregará o sobrenome que nomeia a série.
Lembrando que estamos em 1813, curiosamente o mesmíssimo ano da publicação de Orgulho e Preconceito, e Londres está vivendo o período regencial, que antecede a Era Vitoriana, e tem um rei que foi parar no cinema como louco, o famoso George III. E, sim, havia uma rainha negra, pois ele se casou com a norte-africana Charlotte (Golda Rosheuvel).
De volta à trama, Daphne é a filha mais velha de quatro garotas, tendo ainda quatro irmãos, e precisa conseguir um bom casamento, enquanto também espera encontrar o verdadeiro amor (ai, as boas mocinhas!). Junto dela concorrem – literalmente – cerca de outras 200 debutantes da cidade. Lembrando que neste momento da história, “casar bem” a primeira filha era imprescindível para garantir os casamentos das demais. Lembra de como sofreram as meninas de Razão e Sensibilidade, também de Jane Austen?
O elenco conta ainda com Luke Newton, Claudia Jessie, Nicola Coughlan, Ruby Barker, Sabrina Bartlett, Ruth Gemmell, Adjoa Andoh (a terrível e adorável Lady Danbury), Polly Walker, Ben Miller, Bessie Carter, Harriet Cains.
Por fim, atente-se à trilha sonora que traz clássicos do pop interpretados pelo quarteto Vitamin String Quartet. A abertura é cafona, mas a série é irresistível. Já assisti duas vezes.