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Maquiadora, consultora e pesquisadora de beleza, fundadora do Liceu de Maquiagem.
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O avesso do anti-ageing

Termo popularizado nos EUA, após uma crise na indústria cosmética, lá nos anos 1950, segue surtindo efeitos (negativos) na nossa visão da beleza

Por Vanessa Rozan
Atualizado em 16 out 2023, 12h17 - Publicado em 16 out 2023, 10h59

Lá vamos nós no mundo da beleza para mais um termo importado, o “anti-ageing” — para nós, seria o nem bom e nunca velho antienvelhecimento. No espaço desta coluna, gosto de fazer uma costura entre o que aconteceu quando tudo começou e o hoje, para que a gente possa, juntas, traçar uma linha do tempo e fazer essa reflexão de onde estamos pisando.

O conceito anti-ageing surgiu em 1987, batizando um produto que combinava proteção solar com hidratantes, antirrugas e antirradicais livres, nascido como o primeiro creme antienvelhecimento. Vamos lá: sim, os raios solares, a poluição, o estresse (em resumo, a vida) causam o envelhecimento precoce da pele, que é diferente do processo natural de envelhecimento do corpo humano. O que fizeram com essas duas frentes foi misturar uma na outra como se ao “combater” o primeiro fosse possível reverter o segundo. Tudo vendido num creme mágico.

A indústria dos cosméticos estava parada após avanços das pautas minoritárias e seus levantes durante as décadas 60 e 70. Segundo Susan Faludi, “desde a ascensão do movimento feminista nos anos 1970, as empresas de cosméticos e fragrâncias passaram uma década inteira registrando uma vertiginosa queda nas vendas”. Ou seja, muita gente estava triste com o fato de que mulheres começaram a questionar os padrões de beleza e a reagir a isso.

Mulheres, aliás, passaram a falar abertamente de como se sentiam e a unir-se em grupos, e entenderam que o que elas sentiam não era um caso isolado, mas, sim, uma construção do sistema que as oprimia. O contra-ataque dos anos 80 e 90, que Susan menciona no livro Backlash, trabalhou arduamente pela construção de um padrão de beleza que persuadia mulheres. “Elas eram pacientes em estado grave — a profissionalização delas era a responsável pelo seu adoecimento.” 

Era quase como se a indústria dos cosméticos dissesse que a mulher estava envelhecendo mais rápido porque se meteu a querer ter uma carreira e decidir sua vida reprodutiva, tal qual faz um homem. Isso teria um preço, afinal a proposta estadunidense dos anos 1950 foi das mulheres ficarem nos subúrbios sendo donas de casa (dopadas) e “felizes”, cuidando de seus maridos, casas e prole e consumindo eletrodomésticos. “Como vocês, mulheres, podem querer mais que isso?”, pergunta o patriarcado. Era como se as conquistas profissionais tivessem comprometido nossa beleza. “A igualdade criou rugas e celulites”, diz Susan.

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Necessitamos, assim como as mulheres dos anos 60 e 70, nos unir em conversas, leituras, discussões e entendimentos de que o padrão de beleza estará sempre presente.

Não demorou para as revistas de moda, beleza e comportamento entrarem na onda. Como se você, adulta na sociedade, tivesse que correr atrás do prejuízo. Quer ver isso bem desenhado? Só maratonar a série Physical, da Apple TV, que já citei aqui.

De lá para cá, o anti-ageing só se multiplicou, na vida e na pia do banheiro (o creme e toda a ansiedade em torno disso). E ele chega com perguntas: “Com quantos anos começar?”, “Quais os melhores ativos?”, “Quantas vezes ao dia?”, como se fosse possível beber da fonte da juventude. 

Inclusive, em uma época pré-pandêmica, havia uma movimentação para buscar um substituto para o anti-ageing, uma vez que não existe fórmula que seja anti envelhecimento, pois é impossível parar a passagem do tempo. Dessa discussão, surgiu o nome pro-ageing, na tentativa de clarificar que os anos irão passar, então que tal tirar o melhor disso pensando na longevidade e na redução dos impactos? — Você acha que esse debate avançou para as prateleiras? (contém ironia).

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No processo de envelhecimento, a pele vai ser a ponta do iceberg do reflexo de uma vida com boa alimentação, rotina, exercícios e genética. E mais: envelhecer é natural, não uma doença, não precisa ser combatido. 

Necessitamos, assim como as mulheres dos anos 60 e 70, nos unir em conversas, leituras, discussões e entendimentos de que o padrão de beleza estará sempre presente. Ele nos isola e nos faz pensar que esse sofrimento é individual, quando, na verdade, não é. Ele age como uma sombra sobre as nossas cabeças, nos fazendo acreditar que basta se esforçar um pouco mais, controlar um pouco mais, gastar um pouco a mais e tudo dará certo. 

Vamos passar uma vida rendidas a essa lógica ou vamos desatar esses nós para a nossa geração e de nossas filhas

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