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Stéphanie Habrich

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Stéphanie Habrich é CEO da editora Magia de Ler, apaixonada pelo mundo da educação e do jornalismo infantojuvenil. Fundadora do Joca, o maior jornal para adolescentes e crianças do Brasil e do TINO Econômico, o único periódico sobre economia e finanças voltado ao público jovem, ela aborda na coluna temas conectados ao empreendedorismo, reflexões sobre inteligência emocional, e assuntos que interligam o contato com as notícias desde a infância e a educação, sempre pensando em como podemos ajudar nossos filhos a serem cidadãos com pensamento crítico.
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Saúde mental feminina e pandemia: como lidar?

Se nós, adultos, temos vontade de chorar, sentimos raiva, estouramos, por que as crianças não podem exprimir o mesmo?

Por Da Redação
Atualizado em 23 abr 2020, 15h55 - Publicado em 22 abr 2020, 17h00
 (Cavan Images/Getty Images)
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Na semana passada, recebi uma mensagem de uma mãe assinante, pelo WhatsApp, me pedindo para enviar o PDF da última edição do jornal Joca, pois ela não conseguia acessar pelo site. Ela agradeceu o envio e, na mensagem de gratidão, desabafou dizendo que sua rotina estava enlouquecedora com dois filhos que a demandam muito com lição on-line. Disse a mim, uma desconhecida, que tinha chorado muito naquele dia. Acho que ela precisava mesmo desabafar.

Apesar de estar longe, pude sentir a dor daquela mãe. A minha vontade era de romper a distância entre nós, abraçá-la e dizer que eu a entendia perfeitamente.

Sabemos que, historicamente, sempre coube às mulheres cuidar dos filhos e da casa. Essas tarefas, que já são naturalmente difíceis, se tornam ainda mais duras em tempos de pandemia. Espera-se que sejamos capazes de manter uma ordem impecável em um momento em que tudo está fora do lugar: as crianças não estão indo para a escola, fomos obrigados a trabalhar de casa, não podemos sair na rua… Isso sem falar na ameaça constante de um vírus que está provocando sofrimento no mundo inteiro.

Há dias em que sinto que vou enlouquecer diante das diversas demandas e chamados incessantes de “mãe”. Às vezes, preciso contar até três para não explodir ou falar alguma besteira – tenho ficado cada vez melhor no meu autocontrole e isso tem me dado uma recompensa interior muito grande.

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No início da quarentena, precisei de algumas semanas para me ajustar e encontrar uma rotina. Comecei querendo dar conta de tudo e me cobrando para ser uma mãe perfeita, uma esposa perfeita, uma chefe perfeita…

Depois de duas semanas de estudos em casa, descobri que o meu filho mais novo não estava entregando a maioria das tarefas. Ele precisa de muita ajuda presencial por ainda não ter a maturidade e a organização que os estudos on-line exigem de uma criança. Então, tive que abrir mão de trabalhar na parte da manhã para acompanhar os estudos dos três e ajudá-los a dar conta das atividades.

No começo achei injusto e senti certa raiva de ter que ser eu a abdicar do meu trabalho, e não meu marido. Tive que baixar minha ansiedade e perceber que não poderei entregar tudo perfeitamente. Estou certamente fazendo o melhor que posso no momento.

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Familia de quarentena
(MEDITERRANEAN/Getty Images)

Agora também estou mais em paz e encaro como uma sorte poder ficar mais tempo perto dos meus filhos e acolhê-los durante a pandemia. Muitas vezes sei que eles só me querem por perto, do lado deles. Não é questão de não conseguirem acompanhar as demandas on-line do professor, é o carinho de estar ao lado deles. Assim como nós, eles também estão sofrendo muito com tudo isso. A escola, para uma criança, não é só a parte dos estudos. A parte social e afetiva também são fundamentais. Mas, nesses dias de quarentena, ficaram apenas os estudos, que ainda por cima são feitos em um computador, o que é absolutamente cansativo. A parte social da escola que a torna especial não é possível no momento e isso traz um grande vazio.

Como disse em outro texto, o lado acadêmico será recuperado – o importante é fazer com que tenhamos o melhor relacionamento familiar possível durante o confinamento. A forma como foram acolhidas, abraçadas quando se sentiram com medo ou perdidas… É isso o que ficará para as crianças.

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Se nós, adultos, temos vontade de chorar, sentimos raiva, estouramos, por que as crianças não podem exprimir o mesmo? Por que elas têm que passar por uma cobrança extra de entregarem todos seus deveres de forma perfeita e impecável?

Paralelamente a isso, como diretora e fundadora do Joca, com uma equipe de aproximadamente 20 funcionários, tenho hoje como missão, além de continuar entregando o produto com a mesma qualidade de sempre, ter a certeza de que todos os que trabalham comigo estejam bem. Acompanho cada um de perto no dia a dia, respeitando o tempo que precisam, entendendo suas frustrações e dificuldades e tentando manter a chama da paixão pelo nosso trabalho e nosso produto acesa!

Não é fácil para ninguém. E todos reagimos diferentemente. A prova são o aumento das brigas e tensão entre casais e filhos.

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No nosso SAC, por exemplo, vejo muitos pais e professores reclamando com agressividade. Dedico parte do meu tempo a falar com cada um pessoalmente e os acalmar. Não é hora de ignorar os sentimentos dos outros, é hora de ouvir. As pessoas estão com muitos problemas: ouvi a história de uma família que o filho precisa usar o computador para assistir à aula e o pai, para trabalhar – o que dava muita dor de cabeça; ouvi também o relato de uma mulher que estava exausta porque tinha que imprimir toda hora os deveres que a escola do vizinho pedia. Precisamos escutar a todos e compreender o que estão passando.

Da minha parte, decidi baixar as expectativas e me contentar com o que posso oferecer – e não com modelos impossíveis de perfeição. Na prática, isso significa focar naquilo que realmente importa. Se estou ajudando o meu filho a fazer as tarefas, o mais importante não é que ele acerte todos os exercícios ou que faça todas as atividades. O que mais importa é aproveitarmos esses momentos em que estamos juntos para trocar carinho e afeição.

Em relação a aqueles que estão ansiosos com tudo o que está acontecendo, acho que o melhor que posso fazer nesse momento é ouvir o que têm a dizer. Muitas vezes, queremos desesperadamente ajudar os outros, mas não temos solução para aquele problema. Então, precisamos nos conformar com o fato de não possuirmos a capacidade de salvar a todos e que, às vezes, já ajudamos muito simplesmente mostrando ao outro que damos valor para o que ele sente e que estamos ali para escutar os seus sentimentos.

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Faço um convite a todos para sairmos desse momento como pessoas melhores. Não pelos outros, mas por nós mesmos. É indescritível a sensação de paz que cada pequena mudança traz.

Stéphanie Habrich é Diretora Executiva do Joca. Franco-alemã que cresceu no Brasil, Stéphanie é formada em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas, com Mestrado em International Affairs pela Columbia University, em Nova York. Atuou 8 anos no mercado financeiro em Nova York e no Brasil, em bancos como Deutsche-Bank e BNP Paribas. Fundadora e Sócia-diretora da Magia de Ler, organização que produz o Jornal Joca, primeiro e único jornal do Brasil voltado para jovens e crianças.

Em tempos de isolamento, não se cobre tanto a ser produtiva:

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