Por que os casamentos acabam?
Será que os divórcios têm sido mais frequentes porque estamos todos menos propensos a dedicar tempo e paciência para a vida a dois?
Cada vez mais as pessoas deixam a vida a dois para depois. Querem antes terminar a faculdade, viajar o mundo, ter um bom emprego, construir a própria casa. E, ao mesmo tempo em que o “sim” é adiado, aumenta o número de uniões que terminam.
Parece não fazer sentido. Se o casamento tem sido adiado para um momento em que temos mais maturidade para fazer as escolhas, por que tantos términos? Com esse questionamento em mente, fui conversar com a psicóloga Marina Simas, terapeuta de casal e família e cofundadora do Instituto do Casal.
Segundo ela, o fim dos casamentos muitas vezes tem a ver com a idealização. É comum que as pessoas se casem com um script em mente, imaginando cada ação e reação de seu parceiro ou parceira. Quando essa expectativa não é correspondida, vem a decepção. “A paixão que normalmente existe no momento do casamento não dura para sempre e, quando ela acaba, os casais precisam viver o amor. O problema é que muitas vezes as pessoas querem viver um casamento só com paixão, o que não é viável”, diz.
Vale aqui uma curiosidade: A instituição do casamento surgiu por razões econômicas. Só depois de anos – e com um empurrãozinho de histórias como a de Romeu e Julieta nos filmes de Hollywood – ganhou essa associação com o amor romântico e a paixão. Estaria aí o motivo de hoje as uniões serem menos duradouras?
Marina me contou também que há ciclos na vida em casal, que podem ser divididos em aquisição, filhos pequenos, filhos na adolescência, ninho vazio e aposentadoria. Estes são momentos mais complexos, onde há maior propensão para o rompimento, pois são períodos em que o marido e/ou a mulher ficam mais vulneráveis por conta da necessidade de adaptação.
O novo papel da mulher no casamento
A independência das mulheres também ajudou nas mudanças. Antigamente, o homem mandava. Se não o marido, o pai, sogro, irmão mais velho, ou, às vezes, todos juntos. Os casamentos duravam porque, de fato, não havia outra opção, e o “até que a morte os separe” (que acontecia antes do que hoje, quando temos uma expectativa de vida maior) era a mais pura realidade. Se as pessoas eram menos felizes é algo difícil de dizer, pois a expectativa era outra.
Antigamente, quando uma mulher se casava, o esperado era que ela fosse cuidada pelo marido, que construísse e cuidasse de um lar, tomasse conta da família. Hoje, a busca pela felicidade vai muito além disso tudo. A questão é que muitas vezes se espera que essa felicidade chegue pronta.
Falta, aos casais de forma geral, a paciência ou dedicação para construí-la em conjunto. Quando isso acontece, a dupla vai perdendo a intimidade. Os dois passam a conversar menos e têm dificuldade de se tocar. Apesar de viverem na mesma casa, criam um distanciamento enorme um do outro.
“É através do diálogo que se constrói a vida a dois. E, muitas vezes, não vai ser no primeiro diálogo”
Marina Simas, psicóloga
A união de duas pessoas requer esforço para manter a intimidade, trabalhar a individualidade e a conjugalidade, colocar limites na família de origem, fazer a gestão de tempo para se dedicar um ao outro e ter planos juntos, seja para definir o destino da próxima viagem ou para planejar o que farão nos próximos dez anos.
Esta disponibilidade interna de construção é que muitas vezes as pessoas não têm e nem sabem que precisam ter. São detalhes que só se tornam conhecidos depois do casamento.
Não é um fracasso
Os casamentos podem acabar, mas isso não quer dizer que não deram certo. Toda união, em algum momento, teve algo que mobilizou e teve frutos que precisam ser valorizados. “O ideal é que as pessoas se separarem de uma forma amigável, principalmente quando têm filhos, porque o papel de pai e de mãe precisa ser mantido. Quem vai separar é o homem e a mulher”.
Hoje temos liberdade sem precedentes, mas também dúvidas sem precedentes. Enquanto é importante saber que significamos algo para alguém, também precisamos entender que o casamento, assim como uma amizade, ou um projeto, pode, sim, ter um ciclo, e que isso não é algo necessariamente ruim. Temos que aceitar que há casos em que o fim é a melhor opção.
Em vez de ter como meta “até que a morte nos separe”, que a nossa vida seja mais leve e que busquemos apenas ser felizes, estejamos nós solteiras, casadas ou separadas.