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Devemos (sempre) dizer ‘sim’ ao casamento?

Apesar das normas sociais insistirem que um relacionamento só é sério após o casamento, casais mostram que o amor vai além de um pedaço de papel

Por Kalel Adolfo
8 jul 2022, 08h49

Já faz tempo que a sociedade adotou um consenso: toda verdadeira história de amor termina em casamento. Caso o seu romance não tenha culminado em uma grande celebração que envolva troca de alianças e votos emocionados, o melhor seria voltar cinco casas no jogo da vida. Mas a realidade afetiva não é uma regra universal, ufa!, e, para alguns casais, estar juntos é o suficiente.

Tal decisão pode até parecer simples, mas ela vai de encontro a uma cultura que está constantemente ditando os percursos e formatos que os relacionamentos devem seguir. “A ideia do casamento como instituição começa bem antes de Cristo, como uma aliança política e familiar, a fim de preservar bens, normas e valores. Raízes que perduram até hoje”, declara a psicóloga e psicanalista Raquel Baldo. Segundo ela, a proposta romântica só surge a partir do séc. 13.

“É nesse período que temos os primeiros registros de afronta às regras por pessoas querendo estar ao lado de quem se ama. Esse posicionamento, inclusive, era recebido com repulsa, porque a união não deveria trazer felicidade, e sim, resultados.”

Anos se passaram, e a “instituição casamento” ainda dita quais papéis cada um precisa desempenhar, de que forma e, em contextos mais conservadores, até o jeito de se vestir. “O casamento não deveria ser visto como um ponto de partida para construir a ideia de felicidade. Isso não significa que estamos proibidos de realizar um sonho, se for o caso. Mas não é obrigatório fazer isso para validar uma ideia amorosa”, pontua.

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O casamento não deveria ser visto como um ponto de partida para construir a ideia de felicidade

Raquel Baldo, psicanalista

Outra questão acerca desse grande momento da vida é a fantasia de alcançar algum tipo de status.

“Nascemos e crescemos aprendendo que o casamento é algo a ser alcançado. E o desejo emocional em torno da formalidade ultrapassa o do indivíduo, pois carrega as expectativas da família, dos amigos, dos vizinhos… E quem não cumpre isso, muitas vezes, é visto como fracassado”, diz Raquel.

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A idealização do casamento ultrapassa o indivíduo.
A idealização do casamento ultrapassa o indivíduo. (Getty Images/Reprodução)

Por outro lado, está cada vez mais comum encontrar aqueles que questionam as regras: “Os casais que recusam o casamento, de certa forma, podem estar mais casados do que imaginamos, porque decidem estar lado a lado, construindo uma bela parceria, sem precisar definir uma relação única e monogâmica reafirmada por normas e instituições”.

A “instituição casamento” ainda dita papéis sociais, mas a realidade afetiva não é uma regra universal, ufa! Para alguns casais, estar juntos é o suficiente

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O que não significa que quem tem vontade de afirmar o relacionamento também no papel passado está errado. O importante, segundo Raquel, é entender as motivações. “Reflita sobre valores, emoções, sonhos e identidade. Por meio do autoconhecimento, é possível saber se você está simplesmente seguindo convenções ou abraçando uma fantasia de liberdade reativa.”

Conversamos com três mulheres que vivem relações de longa data para entender esse novo lado da moeda que aparece cada vez mais nos ciclos de amizade e família.

CAH FERNANDES, 22 ANOS

Por ter crescido em uma família conservadora cristã, a criadora do @pretitudes sempre sonhava em casar. “Durante a infância, pensava no nome do homem que seria meu grande amor. Fiquei nessa idealização por um bom tempo. Só consegui desconstruir essa ideia de amor romântico quando sai da igreja, aos 19 anos”, conta.

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Foi aí que Cah Fernandes encontrou outras possibilidades e formatos de afeto. “Atualmente, tenho um parceiro com quem vivo há mais de três anos. Para mim, já estou casada, mesmo que não esteja nos ‘padrões’. Porém, por estar constituindo uma vida com alguém, não descarto a possibilidade, apenas por questões burocráticas, já que a lei nos obriga a isso.”

A festa, contudo, não seria uma opção. “Tenho certeza que isso deixaria a minha mãe ofendida. Seria a primeira filha a casar, e não faria isso da forma que ela sempre esperou. Mas aí está o problema: é expectativa em cima de expectativa”, aponta.

Para ela, que vive uma relação não-monogâmica, a ideia da ‘escadinha afetiva’, em que cada passo dentro da relação aumenta o teor de seriedade, não se aplica a sua realidade. “Isso vem com uma carga. O casamento passa a impressão de que, ao assinar um papel, somos obrigados a fazer um o outro feliz, ter filhos, ser fiel. E essas expectativas não correspondem aos meus desejos pessoais.”

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LIA MARA, 54 ANOS

Apesar de estar há 30 anos e ter filhos com o atual parceiro, Lia Mara contrariou as expectativas da sociedade e optou por não se casar: “Eu já me casei anteriormente. Levando em consideração a primeira experiência, não sinto falta nem da cerimônia, nem da ‘papagaiada’ da festa. Eu nunca tive o sonho de ser noiva, e isso só chegou a acontecer comigo porque estava vivendo a vida sem pensar muito”, afirma.

Lia confessa que a ideia de casar até passou pela cabeça neste segundo relacionamento, também por questões legais. Porém, com o passar do tempo, a ideia foi se transformando num mero detalhe para ambos. “Acho que as pessoas se casam pela convenção. É como se dissessem: ‘Olha como eu estou com alguém legal’. Mas, para mim, mais relevante do que qualquer festa, é companheirismo, amor, carinho e respeito. Se um não apoiar o outro, pode esquecer.”

Para Lia Mara, alguns aspectos e valores da relação valem mais do que qualquer casamento.
Para Lia Mara, alguns aspectos e valores da relação valem mais do que qualquer casamento. (Getty Images/Reprodução)

ANA CAROLINA, 31 ANOS

“Deixei o casamento como minha última prioridade, pois vi as gerações anteriores casando por obrigação e sendo infelizes. Eu olhava isso e ficava chocada”, conta. Ana Carolina, então, decidiu fazer diferente: foi estudar e curtir a juventude. “Sempre enxerguei o casamento como uma norma atribuída às mulheres, com o objetivo de nos podar. Hoje, estou com alguém que amo, mas nós dois compartilhamos da mesma visão: se um dia sentirmos no coração, podemos até considerar a cerimônia. Mas, por enquanto, não queremos.” Apesar da decisão conjunta, Ana diz que a pior parte é sentir a pressão das pessoas, que é constante.

“Como sempre tive certeza do que quero, isso não me afeta. Mas às vezes é chato. Lembro de um dia em que eu estava no trabalho e, durante uma reunião, um gerente virou e perguntou: ‘E aí, quando é que você vai casar? Fala para o seu namorado deixar de ser tão pão duro’. Fiquei sem graça, mas não me abalei. Infelizmente, a maioria das pessoas acha que você precisa se moldar conforme o que a sociedade quer. Mas a verdade é que não somos obrigados a nada.”

Para mim, mais relevante do que qualquer festa, é companheirismo, amor, carinho e respeito. Se um não apoiar o outro, pode esquecer.

Lia Mara, funcionária pública
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