E fora dos stories, você fala sobre sexo?
A colunista Sofia Menegon reflete sobre falar e fazer sexo livremente, sem tabus
Criado para fins comerciais, o dia do sexo já movimenta as redes sociais e os aplicativos de relacionamento há mais de 10 anos. Nada como um bom pretexto para falar sobre esse assunto excitante. Mas será que realmente temos falado e feito sexo de maneira livre de verdade?
Com quantas pessoas você consegue conversar abertamente sobre seus desejos, experiências e questionamentos no campo sexual? E entre quatro paredes, com a sua parceria, você expõe suas vontades, fantasias e até aquilo que é incômodo?
Por trás dos posts alegóricos de celebração ao dia 6/9, o sexo ainda é um tabu que se constrói desde a infância e precisamos refletir sobre isso.
A carência de uma educação sexual e em sexualidade nas escolas e dentro dos lares, nos distancia dos nossos corpos e nos coloca em posição de maior vulnerabilidade em relação a abusos e violências, além de propiciar o surgimento de disfunções sexuais em pessoas de todos os gêneros.
O silêncio sobre a temática, nos leva a buscar informações a partir da observação das relações a nossa volta, em séries de TV, filmes e na pornografia. Como vivemos séculos de privação de informações de qualidade e imposição de uma lógica machista e misógina, absorvemos que o sexo deve satisfazer o homem, que é uma obrigação, que pode ser usado como moeda de troca no relacionamento.
Em qualquer site de filmes adultos tradicionais, estupros de diversas naturezas são expostos com naturalidade. Não há espaço para o diálogo, para a troca e para o prazer livre de performance.
Homens educados pela pornografia passam a achar que apenas serão respeitados em sua masculinidade se reproduzirem o sexo agressivo, frequente e em que ele esteja no comando. Mulheres logo passam a aceitar o papel de submissa na cama e coadjuvante – quando não uma figurante- como o único possível.
Dia desses, recebi um vídeo de uma ouvinte contando que sua avó dizia que o segundo marido era muito melhor que o primeiro porque só a “maltratava” duas vezes por semana. Para ela, sexo era sinônimo de “maus tratos”. Em um primeiro momento, quis acreditar que isso era algo de outros tempos.
Foi então que me lembrei das muitas vezes em que fiz sexo com ex namorados sem ter nenhuma vontade, porque no fundo acreditava que era a minha função satisfazê-lo. Eu sentia dores intensas na região genital, provavelmente provenientes de vulvodínia não diagnosticada na época. Mas negar relações íntimas não parecia ser uma opção.
Me lembrei também das inúmeras vezes em que ouvi alguma amiga afirmar cheia de convicção que sexo era superestimado. E, preciso concordar: o sexo que apenas prioriza o prazer de um dos lados é mesmo superestimado. O sexo pautado exclusivamente na penetração é superestimado. O sexo como obrigação é superestimado e é estupro.
Enquanto não pudermos dar nome às violências sofridas dentro e fora das relações, enquanto não nos sentirmos seguras para conversar abertamente sobre as partes boas e difíceis do sexo, não seremos verdadeiramente livres.
Celebremos então a data, mas, antes disso, que possamos ampliar essa conversa nos stories e fora deles também.