A conexão entre arquitetura e joalheria de luxo
Do Coliseu a Zaha Hadid: a Bulgari é um belo exemplo de como seguir abrindo caminhos na joalheria contemporânea
Na hora de elaborar uma coleção de joalheria, é comum encontrar referências arquitetônicas nos quadros de inspiração de diretores criativos. Normalmente, um cartão postal — tão mainstream — é acompanhado de outros elementos para se tornar um produto final menos caricato. Esse é um exercício desafiador para as mentes criativas, que precisam adaptar os icônicos traços de uma construção histórica em peças usáveis.
No caso do B. Zero I, um dos maiores ícones da Bulgari, não é difícil reconhecer o formato do Coliseu, quase ipsis litteris, na estrutura do anel, do pingente, dos brincos ou das pulseiras. A tradução das curvas é elegante, moderna e fácil de incorporar no dia a dia, sem deixar de lado a opulência e a preciosidade de uma joia.
Certamente, os responsáveis pela construção desse anfiteatro, também conhecido como Flaviano, que começou em 72 d.C. e foi concluída em 80 d.C., e representa um dos maiores símbolos da Roma Antiga, não imaginavam que a obra — feita com rocha calcária, tijolos revestidos de argamassa e areia — se transformaria em um objeto de ouro, alguns até cobertos por diamantes.
A ideia da Bulgari, conhecida por levar o espírito da Cidade Eterna para as suas criações, não poderia ter sido melhor — e conto o porquê.
Bulgari se inspira na arquitetura
Foi em 2019, no ano de celebração dos 20 anos de lançamento do B. Zero I, que entrei no Coliseu para fazer uma visita guiada, depois de tantas outras idas anteriores. O impressionante é perceber, pela primeira vez, o quão é inspirador encontrar, em cada canto das ruínas, elementos atemporais que podem servir de base para a construção de um item moderno.
De fato, a palavra “atemporalidade” hoje em dia é obrigatória nas criações, mas, em 1999, quando o processo de desenvolvimento do B. Zero I chegava ao final, o comportamento da indústria da moda sinalizava a necessidade de se investir no efêmero, no consumo da tendência, que nascia e morria a cada seis meses.
Era um movimento que nocauteava qualquer tentativa de tornar perene um produto de luxo — na época, alguns apelidavam o anacrônico de “careta” ou “ultrapassado”. Era um período fértil para exploração estética, sim. A visão de algo ser feito para durar nos anos 2000 era para poucos. Poucos visionários, eu diria.
Na joalheria, a ousadia é um comportamento novo também. Ao longo dos seus 25 anos, o B. Zero I provou que a inspiração arquitetônica é só o início de uma preciosa exploração de novos caminhos. Durante seu tempo de existência no mercado, ele já foi reinterpretado por Zaha Hadid.
Conhecida por romper padrões e usar formas fluidas para assinar suas obras, a renomada arquiteta iraquiana, também conhecida como “a rainha das curvas”, levou sua estética feminina e elegante para desconstruir e harmonizar uma nova versão do anel, lançada em 2017, um ano após o seu falecimento.
Se antes a peça era composta por uma série de aros perfeitamente encaixados, Hadid adicionou vãos entre cada camada de metal. Mas não só. A visão de reinterpretar uma construção “perfeitamente imperfeita” é um movimento que segue apontando a versatilidade no que antes era visto como “peças de ocasião”.
No nosso inconsciente, definitivamente, carregamos a ideia de que joias precisam ficar guardadas em caixas ou cofres. O surgimento dessa coleção também determina um novo comportamento de uso e consumo para sair da zona comum. Um exemplo foi o lançamento do modelo B. Zero I Rock, em 2020, composto por espirais com estrutura de tachas.
B. Zero I, uma peça clássica
Há uma atitude jovem e ousada na composição de contrastes — ainda mais quando as bordas são cravejadas de diamantes. Uma combinação inimaginável nas décadas passadas. O processo de inovação segue firme em 2024, quando a marca lança a plataforma Bulgari Studio, em que artistas podem experimentar com o B. Zero I.
“Ser audacioso e pioneiro faz parte da trajetória da Bulgari. A coleção B. Zero I é o exemplo perfeito disso; ao longo desses anos, as interpretações foram muitas: ouro de diversas cores, tachas, diamantes, materiais inusitados e combinações modernas”, comenta Mauro di Roberto, diretor de Negócio de Joalheria da marca.
Esse olhar é visto, inclusive, na maneira como são definidas as personagens ideais para personificar as joias. “Esta coleção sempre foi pensada para indivíduos com espírito livre, independentes e criadores de tendências sem esforço, com uma forte atitude”, afirma, quando se refere às embaixadoras da maison, a atriz norte-americana Zendaya e a cantora e dançarina tailandesa Lisa, do grupo sul-coreano Blackpink.
“Elas refletem exatamente essa carga de energia e confiança inspiradora”, completa. No ano de celebração do seu 140º aniversário, eis uma boa forma de enxergar o futuro da Bulgari. O nosso também.