Outubro Rosa: Revista em casa por 9,90
Imagem Blog

Papo com Bella

Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Continua após publicidade

“Gurus do amor” clamam pela padronização das mulheres

Não há discurso “empoderador” com a imposição da adequação a regras que limitam a nossa própria existência

Por Izabella Borges
2 mar 2023, 08h43
coaches de relacionamento
Vemos homens sem formação e qualificação específica, sem que haja qualquer embasamento científico além de suas “próprias experiências”, ensinando mulheres a conquistar ou manter relacionamentos amorosos com homens. (ira dulger/Pexels)
Continua após publicidade

Em 1963, Betty Friedan, expoente da segunda onda do movimento feminista, publicou a obra A Mística Feminina. Essa obra foi fundamental para a percepção e rejeição, à época, dos estereótipos que aprisionavam as mulheres.

Dentre as contestações apresentadas por Betty, a autora questionava o fato de as mulheres serem ensinadas o tempo todo, inclusive pelos meios de comunicação, sobre como conquistar e manter um homem, além de como aparentar e agir de forma mais feminina.

Em pleno ano de 2023, sessenta anos após e já na quarta onda feminista, eu trago uma reflexão a vocês: as mulheres seguem sendo ensinadas e moldadas para agradar aos homens? Para mim, a resposta é afirmativa, muito embora a estratégia, agora, esteja disfarçada de “empoderamento”. 

As redes sociais e a popularização da internet nos trouxeram inúmeros benefícios, sem dúvidas. Por outro lado, nos tornamos alvos de usuários que se dizem especialistas nos mais diversos assuntos. E ganham muito dinheiro com isso. 

Continua após a publicidade

Um dos mercados mais atrativos é, justamente, o mercado dos relacionamentos. Os seres humanos são seres relacionais e, portanto, a demanda é certa. Qual é a problemática em torno disso, então? É maior e mais complexa do que parece.

Em uma sociedade patriarcal, estruturada para privilegiar homens – ainda que o movimento feminista esteja ganhando força e espaço – , os homens permanecem ditando regras de comportamento às mulheres.

Acredito que todas nós, em algum momento, já fomos impactadas por conteúdos que prometem sucesso na conquista e nos relacionamentos. O mercado de coaching cresce de forma acelerada e os “coaches” de relacionamento apresentam números impressionantes. 

Continua após a publicidade

Vemos homens sem formação e qualificação específica, sem que haja qualquer embasamento científico além de suas “próprias experiências”, ensinando mulheres a conquistar ou manter relacionamentos amorosos com homens. 

Ditam um padrão de comportamento. Vendem – a preços significativos – fórmulas prontas que seriam “infalíveis” na arte da conquista. 

Estes ditos “gurus do amor” apontam quais comportamentos e posturas são corretas e incorretas, como uma mulher “de alto valor” deve se comportar, dão dicas de conquista e sedução, qual é a visão masculina sobre a mulher e até mesmo técnicas para uma melhor performance sexual.  

Continua após a publicidade

Preocupam-se, no fim das contas, exclusivamente com a satisfação masculina. O processo de controle e objetificação das mulheres – apontado por Betty Friedan há sessenta anos! –, é, assim, perpetuado.

As mulheres são levadas a crer que precisam ser e agir de forma específica para conseguir conquistar e manter um homem. A submissão permeia as fórmulas mágicas vendidas pelos coaches. 

Mas por que, então, as mulheres consomem este conteúdo? Por razões também complexas. 

Continua após a publicidade

Vivemos em uma sociedade na qual ainda é imposto um padrão de felicidade. Sim, avançamos bastante no tema, mas ainda se entende que um relacionamento é sinônimo de felicidade. Muitas mulheres solteiras, sobretudo aquelas que já passaram dos 30 anos, são vistas – e se sentem – como um fracasso social. Justamente por não cumprirem com o papel social imposto: serem esposas e mães. 

Estar sozinha revelaria uma falha pessoal. Uma incompletude. Nesse contexto, as mulheres são levadas a ouvir conselhos de homens que prometem resolver o “problema”. Esse “problema” residiria, justamente, em sua própria maneira de ser, pensar e agir. 

Somos ensinadas desde muito cedo a nos preocupar com o que os homens vão pensar de nós, enquanto a preocupação deles também é esta: o que ELES vão pensar de nós. Uma via de mão única.

Continua após a publicidade

É negligenciado o fato de que para estabelecermos um relacionamento com o outro precisamos estar em um relacionamento saudável com nós mesmas. Mergulhar no autoconhecimento. Trabalhar a autoestima. Ressignificar traumas, medos, feridas. Identificar nossos padrões. Um processo individual que demanda dedicação, reflexão e elaboração.

Não há empoderamento sem liberdade e individualidades. Não há liberdade com o estrangulamento da espontaneidade e da autenticidade. Não há discurso “empoderador” com a imposição da adequação a regras que limitam a nossa própria existência enquanto seres singulares. 

A coluna desse mês clama por menos “gurus do amor”, mulheres robotizadas e conquistas instrumentalizadas e mais mulheres reais, que mergulham nas profundezas de suas individualidades e, a partir daí, são capazes de estabelecer trocas genuínas com si mesmas e com o outro.

Publicidade

Essa é uma matéria fechada para assinantes.
Se você já é assinante clique aqui para ter acesso a esse e outros conteúdos de jornalismo de qualidade.

Domine o fato. Confie na fonte.
10 grandes marcas em uma única assinatura digital

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

Impressa + Digital no App
Impressa + Digital
Impressa + Digital no App

Moda, beleza, autoconhecimento, mais de 11 mil receitas testadas e aprovadas, previsões diárias, semanais e mensais de astrologia!

Receba mensalmente Claudia impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições
digitais e acervos nos aplicativos de Veja, Veja SP, Veja Rio, Veja Saúde, Claudia, Superinteressante, Quatro Rodas, Você SA e Você RH.

a partir de 9,90/mês

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.