Meus abismos
Nessa de voltar pra mim, dou de ombros para o que sempre experimentei e me renovo na esperança de uma Kika melhor
Pulo ou não pulo? Há um precipício dentro de mim. Dias sim, dias não, eu vou vivendo da caridade de quem me detesta, já dizia o poeta. Tanta gente escrota que insiste em me rondar e, pior, eu deixo. Então nessa de me segurar, de conter impulsos negativos, eu medito.
Tenho – desde a pandemia – exercitado alguns mantras. Embolo tudo. Ouço indiano, americano, nordestino, e a cada dia aperto o play de um novo podcast mindfulness no Spotify. Já tentou? Não sei se consigo encontrar BUDA, mas melhoro minha capacidade poliglota. Tem um que fala um francês do Canadá que não sei se presto atenção na pronúncia e na gramática ou se foco no além.
Tem outro agressivo. Manda a pessoa se revoltar com os parâmetros antigos e balizar uma nova era. Uma sussurra. Outra inspira, e – ao expirar – geme. Muitas vezes nem consigo me concentrar. Rio, encafifo, alucino, mas tento. E nessa de voltar pra mim, dou de ombros para o que sempre experimentei e me renovo na esperança de uma Kika melhor.
O lance acho que é uma limpeza profunda. Mudar de amigos, conhecer gente nova, construir novas pontes. Na maturidade nos isolamos mais. Fica difícil esse oba-oba de alegrias e vitórias, mas se o futuro sinaliza perdas – melhor acumular energia para enfrentar os meus reais abismos. Por vezes acho que inventamos problemas e que viver é simples. Dormir cedo e acordar agradecendo por abrir os olhos. Né não?