Voz interior: a conexão entre voz e órgão sexual
Nos roubaram a espontaneidade da expressão vocal na vida e no sexo, mas é possível reencontrar o nosso som selvagem
Li certa vez em uma pesquisa feita com mulheres abusadas sexualmente que a maioria das entrevistadas tinha dificuldades de falar em público ou de expor suas ideias e emoções. A violência (independente do nível) tinha afetado a segurança na própria expressão.
Essa relação apenas confirmou o que já tinha observado empírica e tantricamente nas mulheres que passaram pelos meus cursos: muitas delas já tendo tido alguma espécie de abuso, relatavam dificuldades no uso livre da voz.
E quando falo de abuso não me refiro apenas ao “ser-estuprada-num-beco-escuro”. O nosso corpo registra como abuso, por exemplo, aquela transa que você não estava tão a fim (quem nunca?), quando você não tem o respeito e prazer que merece, a sensação de desrespeito que a outra pessoa teve com você ou qualquer outra forma de coação ao sexo, mesmo que não te machuque fisicamente. Infelizmente, tenho certeza que está passando um filminho aí na sua cabeça com várias cenas como essas.
Aceitar essas condições está intrinsecamente ligado ao afastamento histórico do nosso principal instrumento de poder, o nosso corpo. Ninguém te mostrou como lidar com ele ou os jeitos de extrair o máximo de vida e beleza desse receptáculo da nossa energia sexual vital criativa. Também não te contaram que o seu órgão sexual é conectado com a sua voz.
Em uma sociedade deseducada pela indústria pornográfica, você aprendeu a ser um corpo para o outro, escutou que era melhor “não incomodar” na cama ao pontuar com consciência o que te agradava de verdade (então era melhor fingir, não é mesmo?). Você aprendeu também que o som que você deveria fazer no sexo era aquele gemidinho agudo (e irreal) da atriz pornô.
“Ninguém te mostrou como lidar com o corpo nem contou que o órgão sexual é conectado à voz”
O que nos traz de volta para a questão inicial desta conversa: a conexão voz-órgão sexual. Esse som, além de não ser o seu som natural, ainda joga contra o seu orgasmo. Por quê? Porque ele te faz contrair toda região do seu primeiro e segundo chakra, área conectada com a sua sexualidade. Já o som mais grave e visceral é natural para o seu corpo, facilitando seu prazer e orgasmo por relaxar essa área. Por isso vivo dizendo para minhas alunas encontrarem o som da sua mulher selvagem, a beleza dessa espontaneidade que te roubaram mas que, a qualquer momento, você pode trazer de volta.
Lembro do que escreveu Eduardo Galeano: “A igreja diz: o corpo é uma culpa. A ciência diz: o corpo é uma máquina. A publicidade diz: o corpo é um negócio. E o corpo diz: eu sou uma festa”.
Sim, ele é. O meu conselho para você hoje, então, é: traga a espontaneidade perdida, ache seu som primal, respeite o templo que você é (não por moralismo, mas para honrar a sua essência e saber escutar os seus limites). E, mais importante que tudo, saiba que nunca é tarde para começar a contar uma nova história com seu corpo e fazer valer a festa que você é, mulher.
*Carol Teixeira: @carolteixeira_ é filósofa, sacerdotisa tântrica e escritora