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Patrícia Zaidan

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Coluna da jornalista e psicóloga Patrícia Zaidan: atualidades, feminismo, direitos humanos
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Terror na Suécia, Sarin na Síria e o Castelo que revive em Sampa

Em uma semana-lixo, com más notícias do Brasil e atrocidades no mundo, um palácio mal-assombrado tem final feliz, serve de bálsamo e alento

Por Patrícia Zaidan Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
7 abr 2017, 21h09
 (Diogo Moreira/A2img/Fotos Públicas/Reprodução)
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Dando a semana por perdida, ouço a maranhense Maria Eulina Reis Hilsenbeck dizer na televisão: “Eu sei o que é não ter um prato de comida, sei o que é ser solitária, o que é não ouvir um bom dia. Eu sei o quanto custa a dor da fome”. Essa mulher, ex-moradora de rua, aparece no noticiário por ter transformado o conhecido Castelinho mal-assombrado, na esquina da Apa com a avenida São João, em um espaço que oferecerá oficinas de arte e cultura para gente pobre.

 

As frases dela são o bálsamo, o alívio, o antídoto para as más notícias do Brasil. Não tenho suportado o cinismo de querer salvar a Previdência afundando quem trabalha, e sem a menor preocupação em baixar os juros de 12 %. São os juros que não deixam o país crescer. Não percebem? Cinismo, porque é proposta de um ministro da Fazenda e de uma corriola ligada aos bancos (juros altos são um bom negócio para quem?).

 

O dito de Eulina serve também de contraveneno para o terrorismo. Se existia um lugar no mundo que parecia o paraíso, esse lugar era a Suécia. Não é mais. Hoje cedo, no café da manhã, antes de saber da maranhense, vejo Estocolmo ser atropelada pelo caminhão do intolerante ligado a um desses grupos radicais que professam o ódio. Até o episódio, a Suécia era o país da segurança, da qualidade de vida, do respeito aos direitos de mulheres, velhos, crianças e ainda a nação dos homens que se responsabilizam pela geração da vida (ou seja: eles dividem as tarefas domésticas, cuidam dos filhos, se preocupam em deixar o ar puro, não têm a marca do consumismo na testa).

 

Nessa semana-lixo, crivada de imagens que a humanidade não devia mais permitir nem suportar, aparece o Castelinho, o fio de esperança. Ele foi reaberto na quinta (6/4). Dois dias antes (4/4), um ataque na Síria, com armas químicas (maldito gás Sarin) havia matado mais de 80 pessoas, entre elas 27 crianças. Até quando o mundo vai permitir que os pequenos sírios, com seus olhos enormes, continuem a pedir piedade e clemência – sem ter culpa de nada? Ninguém os enxerga. Os líderes do mundo não os salvam da substância neurotóxica letal nem da intransigência de Bashar Al-Assad. Uma afronta à humanidade arrastando-se por 6 anos.

Enquanto o Castelinho ressurge (oba!) dos escombros de uma história nebulosa, ocorre um contra-ataque. Na madrugada desta sexta-feira (7/4), os sírios, que já não dormem, acordaram sob uma guerra nova: entraram no conflito os Estados Unidos de Trump (o presidente americano que já se declarou aliado de Assad. Que mundo louco!). Tudo o que insanos podem fazer para tentar deter insanos é bombardear. Então, na lógica da guerra, 59 mísseis Tomahawk foram disparados de dois navios bélicos americanos, estacionados no mar Mediterrâneo, contra uma base militar na Síria, em retaliação ao ataque químico de Assad.

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Melhor voltar a falar do Castelinho. Era nele que, nos anos 1980, a moradora de rua se abrigava. Toda a vizinhança tinha medo daqueles escombros, menos Eulina. Diziam que portas rangiam, fantasmas brigavam, correntes se arrastavam sozinhas. Ela, no entanto, acendia uma fogueirinha ali, se esquentava, vagueava pelos cômodos apodrecidos sonhando dar ao palácio uma vida nova (uma vida nova para ela também).

 

O casarão decadente, abandonado e em frangalhos, que servira a gangues do tráfico pé-de-chulé do centro paulistano, fora construído como réplica de um castelo medieval, com projeto de arquitetos franceses, e inaugurado em 1912. Pertencia ã família Guimaraes Reis. Sua história de luxo e glamour se empapou em mar de sangue no dia 12 de maio de 1937, durante um crime bárbaro, até hoje misterioso e sem solução. A empregada da família entrou de manhã e encontrou a dona da casa e seus dois filhos mortos a tiros.

 

Das inúmeras versões, a mais forte: a guerra familiar, travada em torno do dinheiro, terminara com um filho assassinando o irmão e a mãe e, em seguida, se matando. A posse do imóvel tombado passou para a União. Até que a maranhense lutou (por 20 anos!) na Justiça e conseguiu fazer do local a sede da ONG Mães do Brasil. Foram outros tantos anos para restaurá-lo com ajuda pública.

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Ficou bonito e imponente outra vez. Nele, Eulina pretende oferecer aulas de culinária para crianças e capacitação para catadores de recicláveis, dependentes de drogas e sem-tetos, que apenderão costura, arte e artesanato. Com que dinheiro? O local será alugado para festas, eventos e saraus.

 

Nesses dias de desesperança – ufa! – finalmente uma guerra boa. A da ex-moradora de rua, que explicou: “Eu fiz a luta humana.”

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